O Museu do Vaticano informou nesta segunda-feira que não se trata de um Caravaggio o quadro encontrado recentemente em uma igreja em Roma. Martírio de São Lourenço é uma obra de qualidade "modesta" e feita com uma técnica "inadequada". Na melhor das hipóteses foi realizada por algum discípulo do mestre italiano, informou Antonio Paolucci.
O esclarecimento só foi possível devido à combinação de uma série de conhecimentos acumulados e técnicas novas, desenvolvidas justamente para resolver mistérios relacionados à autoria de obras de arte.
Uma exposição incrível, inaugurada há um mês em Londres, trata justamente deste assunto. Close Examination: Fakes, Mistakes & Discoveries (literalmente, Exame de Perto: Farsas, Erros & Descobertas) conta a história de cerca de 30 obras do acervo da National Gallery, um dos principais museus ingleses, todas elas envolvidas em algum tipo de polêmica.
Com transparência, a National Gallery conta como foi enganada e, depois de anos de estudos e pesquisas, descobriu que determinadas obras de seu acervo não eram dos pintores a quem se atribuía a autoria. Há um Botticelli e um Rembrandt na lista de erros cometidos, às vezes por pressa, pelo museu.
O mais interessante da exposição, que fica aberta até 12 de setembro, é a forma didática como a National Gallery exibe o processo de pesquisa que levou à descoberta das fraudes ou erros que cometeu ao longo da história. Para quem gosta da série policial CSI, que descreve como a polícia científica é fundamental na elucidação de crimes, Close Examination: Fakes, Mistakes & Discoveries é uma diversão do início ao fim. No dia em que a visitei, havia crianças, adultos e idosos se debruçando sobre as telas e painéis explicativos. Uma festa.
O departamento científico do museu existe desde 1934, mas as técnicas que permitem estabelecer com precisão o tipo exato de material usado numa obra e a data aproximada em que foi realizada são recentes.
Os CSI das artes são capazes também de descobrir se uma determinada tela sofreu interferências posteriores à realização final, ou seja, se foi restaurada ou modificada. Com todas estas informações, não é possível estabelecer com precisão quem é o autor de um quadro, mas dá para excluir uma série de possibilidades.
No caso do suposto Rembrandt, adquirido em 1957 (acima), por exemplo, há uma data e uma assinatura no lado direito que, sabe-se hoje, são falsas, mas a obra apresenta várias características presentes na obra do mestre holandês. A National Gallery tem certeza que a obra não é de Rembrandt, mas honestamente admite não saber quem é o autor.
Em tempo: Vale a pena navegar pelo site da exposição , que descreve em datalhes vários dos casos exibidos no museu.