"Era certo que ele ia matá-la", diz Nayara sobre Lindemberg

"Era certo que ele ia matá-la", diz Nayara sobre Lindemberg

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:15

Carolina Garcia, iG São Paulo

Jovem que estava junto com Eloá Pimentel no cárcere em 2008 reafirmou, em julgamento, que Lindemberg só disparou após invasão policial

A jovem Nayara Rodrigues, que foi baleada no braço e no rosto durante o cárcere com Eloá Pimentel, quando tinha 15 anos, afirmou nesta segunda-feira que Lindemberg Alves invadiu o apartamento em que estavam com a intenção clara de matar a amiga. Ela foi a primeira testemunha a prestar depoimento no julgamento em Santo André.

 


A estudante Nayara Rodrigues da Silva, sobrevivente do sequestro, chega ao Fórum de Santo André

Foto: AE

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"Notei que ele tentava se livrar de mim (no cativeiro). Ele pedia para deixá-lo sozinho para resolver tudo com ela (Eloá). Pra mim era certo que ele ia matá-la. Assim que ele entrou, com arma em punho, ele disse (para os três): &Não era para vocês estarem aqui&. Se ele chegasse e encontrasse ela sozinha, ela já estaria morta. Como ele mesmo falava: &Era matar e sair andando", afirmou a jovem durante o depoimento.

Nayara reafirmou o perfil violento de Lindemberg durante os dias que manteve os reféns. Inquieta e mexendo muito os pés, ela disse que réu, que foi retirado da sala durante o depoimento, mudou de humor várias vezes naquela semana e que batia na amiga. "Eloá foi agredida muitas vezes. Quando eu voltei percebi que Eloá estava toda roxa. Isso me motivou para ficar com ela", disse sobre ter voltado ao apartamento.

"Ele se vangloriava do que estava fazendo. Ele primeiro atirou contra a multidão e depois contra o policial para mostrar que ele não estava brincando. Ele dizia: &Voce viu? O policial se esquivou, ficou com medo. Eu sou o príncipe do gueto&", disse Nayara sobre um dos momentos tensos do sequestro.

A amiga de Eloá também reafirmou o que já tinha dito sobre a invasão policial naquela tarde de sexta-feira. Ao contrário do que alega a polícia, Nayara diz que Lindemberg, apesar de demonstrado intenção de matar Eloá, só atirou após a invasão dos policiais.

Durante o questionamento da defesa, Nayara foi confrontada com depoimentos que teria feito em outras oportunidades. A advogada de defesa de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, relembrou que durante o cárcere os jovens teriam feito um doce, um pavê. Após Nayara dizer que não se recordava, a defesa levantou dúvidas sobre as outras declarações da jovem, que não teria claro na memória os acontecimentos do cárcere.

Nayara foi a primeira testemunha a falar nesta segunda-feira. Antes disso, defesa e acusação exibiram vídeos sobre o caso neste primeiro dia de julgamento.

O julgamento

Dezenove testemunhas haviam sido convocadas em um primeiro momento  – cinco de acusação, arroladas pela promotora de Justiça Daniela Hashimoto, e outras 14 de defesa, convidadas pela advogada Ana Lúcia Assad. Mas nesta segunda-feira a lista foi modificada e alguns deles dispensados.

Perfil violento e manipulador: Lindemberg estava decidido a matar Eloá, defende acusação

 

Caso Eloá Pimentel

 

Em 13 de outubro de 2008, segunda-feira, Eloá Pimentel fazia um trabalho escolar com os colegas em sua casa, quando Lindemberg Alves, entrou com um revólver em punho

Foto: iG Arte

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À noite, depois que o Gate chega ao local para negociar a entrega dos reféns, dois garotos são libertados por volta das 22 horas

Foto: iG Arte

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Irritado, Lindemberg chega a atirar contra as pessoas que se aglomeravam ao redor do prédio onde ele mantinha as adolescentes reféns. Não houve feridos

Foto: iG Arte

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Na terça-feira, a energia elétrica do apartamento é cortada, mas restabelecida horas depois. Com isso, Lindemberg permite que Nayara deixe o local

Foto: Arte iG

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Na manhã da quinta-feira, Nayara, que havia sido libertada na terça-feira, tenta convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone

Foto: iG Arte

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Orientada por Lindemberg ao celular, Nayara sobe as escadas e acaba rendida novamente para dentro do apartamento, depois de ver Eloá com uma arma apontada na cabeça

Foto: iG Arte

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Na sexta-feira, depois de conversar com o negociador, Lindemberg decide empurrar uma mesa para detrás da porta, a fim de impedir que a polícia invadisse o local

Foto: iG Arte

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Às 18h10, policiais afirmam ter ouvido um tiro e, então, decidem explodir a porta e invadir o apartamento. Tiros são disparados

Foto: iG Arte

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Em seguida, Nayara sai do apartamento e, ao olhar para trás, vê a amiga Eloá ensanguentada. Ela também sentiu o próprio rosto &estranho& – atingido por um disparo

Foto: iG Arte

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A ação termina com a prisão de Lindemberg. Eloá e Nayara, feridas, são levadas ao hospital

Foto: iG Arte

Caso todas as testemunhas sejam ouvidas, o julgamento pode durar até três dias. Lindemberg responde por 12 crimes - todos cometidos no período que manteve Eloá e outros três em cárcere. Ele é acusado desde o homicídio de Eloá, manter quatro pessoas reféns, duas tentativas de homicídio (de Nayara Rodrigues e um sargento da Polícia Militar) e o disparo de quatro tiros a esmo pela janela do apartamento.

 

 

Testemunhas

As testemunhas de acusação arroladas ao processo são: Vitor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira (amigos de Eloá que foram mantidos reféns no primeiro dia), Nayara Rodrigues (mantida em cárcere privado com Eloá e também baleada no rosto), o sargento da Polícia Militar Atos Antônio Valeriano (pela tentativa de homicídio que sofreu) e Ronickson Pimentel dos Santos (irmão mais velho de Eloá e era amigo do réu). Para a promotoria, este último é peça fundamental para a construção do perfil do réu considerado “manipulador, violento e possessivo”. Esses depoimentos estão confirmados.

Entre as testemunhas de defesa, estavam cinco jornalistas de emissoras de televisão, mas alguns foram dispensados. Ainda estão previstos para falar os jornalistas da TV Bandeirantes Márcio Campos e Rodrigo Hidalgo.

Peritos e policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), que atuaram nas negociações e resgate, também estão entre os convocados pela defesa. São eles: Marcos Antônio Assumpção Cabello (advogado e também participou das negociações); Dairse Aparecida Pereira Lopes (perita que realizou a reconstituição do crime); Hélio Rodrigues Racciotti (perito); Sérgio Luditza (delegado que presidiu o inquérito); Adriano Giovanini (negociador do Gate) e Paulo Sérgio Squiavo (tenente do Gate).

Júri

Ao final do primeiro dia de julgamento, os sete jurados escolhidos são levados para um hotel na região. Os quartos, que já passaram por vistorias da Polícia Militar, não possuem pontos de internet, televisores ou telefone. Um oficial de Justiça acompanhará a estadia de cada jurado para evitar qualquer comunicação com o meio externo.

Julgamento

Não há um tempo limite para os depoimentos. Após esse período, Lindemberg será convidado a falar. Ele tem o direito de ficar em silêncio, mas segundo sua advoada, irá dar sua verão dos fatos. Depois disso, serão iniciados os debates entre promotoria e defesa – cada parte terá 1h30 para defender suas teses. “Se necessário, a promotoria tem direito há uma réplica de 1h”, explica Daniela.

 

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Lindemberg Alves com policiais militares do Gate ao sair do apartamento de Eloá. (17/10/2008)

Foto: AE

 

A promotora, que assumiu o caso em novembro do ano passado, está certa da condenação de Lindemberg, que pode passar os cem anos. Para ela, as provas são “cristalinas” e revelam que o crime foi premeditado. A peça apresentada pela acusação será o áudio gravado durante as operações do Gate. Segundo ela, “o intervalo entre o arrombamento da porta e os disparos efetuados por Lindemberg [já comprovados em laudo] revela que ele teve tempo para se entregar, mas escolheu não fazê-lo”.

Já a defesa, segundo a promotora, irá apresentar uma mídia com mais de 16 horas de material com a cobertura jornalística do caso. Para Daniela, a intenção da defesa será mostrar que o sensacionalismo e um possível contato abusivo da imprensa influenciaram negativamente Lindemberg. “Culpar a imprensa e a ação do Gate é uma forma de tentar tirar o foco do julgamento. Minha única intenção é reforçar os laudos”, concluiu a promotora.

Para a defesa de Lindemberg, o caso é uma aberração jurídica. "Espero que os jurados estejam com o coração aberto para ouvir a nossa versão. A versão do menino Lindemberg", afirmou Ana Lúcia Assad, nesta segunda-feira.


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