A advogada Ieda Cristina Martins é investigada pela suposta participação na morte e esquartejamento do zelador Jezi de Souza, em maio. Ela e o marido, assassino confesso do zelador, estão presos e nunca deram entrevista. Mas agora Ieda, que também é investigada pelo assassinato do ex-marido, resolveu quebrar o silêncio.
Suspeita de dois assassinatos, a advogada Ieda Cristina Martins se defende: “Eu sou inocente! Eu sou inocente! Mas provar a minha verdade eu não sei se eu vou conseguir”.
E tem que enfrentar as acusações do próprio filho mais velho. “Ela arrancou ele de mim. Eu não pude aproveitar ele. Ele morreu, porque ela matou ele”, disse José Jair Farias Júnior, filho de Ieda.
Ieda Martins é investigada pelo assassinato do primeiro marido dela, José Jair Farias, pai de Júnior, há nove anos, e também pela morte cruel do zelador do prédio onde morava com o atual companheiro, Eduardo Martins, que foi preso em flagrante e confessou o crime.
Há um mês, ela está presa em uma delegacia na Zona Sul de São Paulo. Se recusava a falar, mas quarta-feira (9), pela primeira vez, decidiu quebrar o silêncio.
Nesta entrevista exclusiva para o Fantástico, Ieda, que é evangélica, chegou com a Bíblia. Chorou bastante. Em quase uma hora e meia de conversa, respondeu a todas as perguntas, sem titubear, e negou participação nos dois assassinatos: o do primeiro marido e o do zelador. No caso deste último, ela culpa o atual companheiro.
“Eles brigavam muito. Mas, assim, eu jamais podia imaginar que ele fosse matar o zelador’, afirma.
Mas, para a polícia de São Paulo, Ieda voltou ao apartamento no meio da tarde, depois de um telefonema de Eduardo, para ajudar o marido a esconder o corpo. Nas imagens do circuito interno do prédio, Jesi foi visto pela última vez às 15h35 do dia 30 de maio. Quarenta e seis minutos depois, às 16h21, Ieda chega ao prédio, vai para o apartamento, de onde sai 14 minutos depois.
Nas imagens, ela aparece em uma papelaria, comprando material escolar e fita adesiva. Ela volta para o prédio e pega o elevador por volta de 17h20, com cartolina e sacolas nas mãos. Onze minutos depois, às 17h31, volta para o elevador e sai com três galões vazios.
Fantástico: A polícia diz que, pelo menos uns 25 minutos, a senhora ficou dentro do apartamento, enquanto o corpo do zelador se encontrava em algum lugar do imóvel, ou dentro da mala ou nesse quartinho. E a senhora não percebeu nada?
Ieda: Não percebi. Ele limpou tudo, porque eu não percebi. Se tinha alguma marca, algum vestígio de sangue, alguma coisa, eu não percebi.
Uma prova levantada pela polícia contra ela: as botas que usava naquele dia estavam com marcas de sangue.
“Pode até ter, porque eu entrei na cena do crime. É isso que eu não consigo entender, porque ele fez isso comigo. Porque, assim, indiretamente ele me colocou lá”, disse.
Ela afirma que foi enganada por Eduardo. “Eu vou me divorciar, inclusive já conversei com os meus advogados”.
Ieda diz que não desconfiou de nada, mesmo quando Eduardo pediu que ela o ajudasse a colocar a mala com o corpo do zelador no carro.
“Aí quando ele falou para mim: ‘Me ajuda a impulsionar a mala’. Ele pegou a maior parte, eu não senti nenhum peso maior. Para mim, era roupa que a gente tinha colocado, aquilo que a gente tinha programado para poder levar para a igreja”, contou.
Segundo Ieda, o marido a deixou, junto com o filho mais novo, de 10 anos, no escritório da advogada, e seguiu para a casa do pai na Praia Grande, litoral paulista, onde deixou a mala com o corpo.
A versão de Ieda não convenceu a polícia de São Paulo, que pode indiciar a advogada nesta semana por homicídio, ocultação do corpo e por porte ilegal de arma.
E são as peças de uma arma, um cano de uma pistola e um silenciador, encontrados dentro de uma bolsa no armário do quarto do casal em São Paulo, que ligam Ieda também ao assassinato do ex-marido, José Jair Farias.
Jair foi morto, com dois tiros, dentro do carro, em 20 de dezembro de 2005, no Rio de Janeiro. Na semana passada, um exame de balística revelou: uma das balas que matou Jair saiu do cano da pistola encontrado no apartamento de Ieda.
“Diante desse resultado do confronto balístico, para mim, não resta dúvida da participação dos dois na morte do José Jair”, destaca o delegado Geraldo Assed Estefan.
Fantástico: A senhora nunca viu esse silenciador e esse cano dessa pistola?
Ieda: Nunca vi, nunca vi. O armário do quarto do casal era o armário dele, com coisas dele. Eu nunca atirei, eu não sei o que é mexer numa bala, eu não sei nem como é que é o barulho de uma bala, de uma pistola.
Ieda diz que sempre teve uma ótima relação com Jair: “Eu nunca ganhei nada com a minha relação com o Jair. Eu nunca exigi nada com relação ao dinheiro dele”.
Nesta sexta-feira (11), depois que Júnior soube que a mãe tinha gravado a entrevista, decidiu falar com o Fantástico. Ele vive no Rio de janeiro e, desde a morte do pai, em 2005, mora com a avó materna, que não mantém contato com a filha Ieda.
“Ela nunca foi uma pessoa boa nem comigo nem com a família. A convivência dela com o meu pai sempre foi briga por dinheiro, discussões”, disse José Jair Farias Júnior.
Júnior, que hoje tem 18 anos, viveu com a mãe até os 10. “Eu tinha medo dela. Ela me ameaçava. Ela me batia com tudo o que vinha pela frente. Ela me batia com a minha cabeça na parede. Umas três vezes ela falou que, caso eu falasse alguma coisa que ela não queria, ela ia esquentar uma colher e ia botar na minha boca. Ela chegou a botar umas três, quatro vezes”, conta o filho.
O delegado do Rio abriu inquérito de tortura contra Ieda.
Júnior conta que a mãe e o marido Eduardo tinham uma arma dentro de casa: “A arma que o Eduardo escondia debaixo do travesseiro e a minha mãe sempre falava: ‘Tira do quarto, porque alguém vai entrar no quarto’. E eu tinha muito medo da arma”.
E que Eduardo e Ieda já tinham ameaçado Jair, o pai de Júnior. “Eu estava no escritório com a minha mãe, e chegou o Eduardo, e ele pegou de baixo do banco do carro uma arma, e começou a discutir com o meu pai”, conta.
Na época, Jair registrou queixa contra Ieda e Eduardo. O delegado acha que o principal motivo para o assassinato foi a disputa por um motorhome, um ônibus-trailer.
“Ela foi até a casa do José Jair, com mais cinco homens, exigindo que o Jair entregasse o motorhome para ela com o pretexto que seria dela. Não entregou, quer dizer, o bem continua com ele. E dez dias depois, ele faleceu”, afirma o delegado Geraldo Assed.
Depois da entrevista de Júnior, o Fantástico procurou, neste fim de semana, os advogados de Ieda para saber quais as respostas às acusações feitas pelo filho.
Jefferson Ferreira de Mattos (advogado de Ieda): Ele está sendo sobrecarregado com as informações de que a mãe talvez teria participado do homicídio do pai.
Fantástico: O senhor acha que ela agrediu o filho?
Jefferson Ferreira de Mattos: Ela é uma mãe carinhosa. Tudo isso, na verdade, é negado pela Ieda, que fala que jamais teria pegado qualquer dinheiro dele.
Durante a entrevista na cadeia, Ieda pediu para mandar uma mensagem: “Eu gostaria também de pedir perdão à família do zelador, porque eu sei, posso sentir a dor deles. Perdoar aquilo que o meu marido fez e cometeu. Assim como as minhas enteadas, a Tatiane, a Fabiane, a Liliane, o meu filho Júnior”.
“Ela já pediu perdão para família muitas e muitas vezes. Ajoelhava, chorava, era sempre dissimulada. Eu nunca perdoaria ela”, disse o filho Júnior.
Na próxima quinta-feira (17), Ieda será levada para o Rio de Janeiro para uma acareação. A polícia vai colocá-la frente a frente com a mãe e o irmão dela para tentar esclarecer o crime.