A Polícia Militar deu início à reintegração de posse do terreno da Oi, no Engenho Novo, Subúrbio do Rio, por volta das 4h45 desta sexta-feira (11). Há 12 dias, ocupantes ergueram casas improvisadas no local, batizado de “Favela da Telerj”. A desocupação começou pacífica, mas ficou tensa depois que moradores começaram a atear fogo dentro do prédio, às 6h45. Depois, um confronto entre policiais e ocupantes provocou uma grande correria.
Pelo menos um policial ficou ferido depois que, segundo agentes, moradores arremessaram pedras. A polícia atirou com balas de borracha e spray de pimenta. Ocupantes reclamam de violência policial na abordagem. "Uns falam para ter calma mas tem outros que saíram batendo. Minha irmã apanhou. Estou chorando porque tenho vergonha de não ter onde morar e estar passando por essa situação", disse Drieli Almeida.
Às 7h40, um carro da PM foi queimado, conforme mostraram imagens da Globonews. Um ônibus também foi incendiado por pessoas que ocupavam o prédio.
A ação da polícia compre decisão judicial no dia 4, que determinou a saída das pessoas que ocupam o terreno da Oi.
Por volta das 5h da manhã os policiais iniciaram negociação para que os moradores saíssem do prédio. No entanto, eles só entraram no prédio por volta das 6h para garantir a reintegração de posse. Pouco depois, moradores se reuníram atrás de um cordão de isolamento da polícia e começaram a deixar o prédio, sem reagir.
Carro de reportagem apedrejado
Ás 6h34 uma retroescavadeira da polícia começava a derrubar os primeiros barracos erguidos no terreno do prédio, como mostrou o Bom Dia Rio. Às 6h45, moradores começaram a atear fogo em objetos dentro do prédio. O enfrentamento de alguns grupos com policiais começou logo depois. Ocupantes tentaram bloquear mais de uma vez a rua Lino Teixeira, com barricadas feitas de pneus. Um carro de reportagem do SBT foi apedrejado por moradores do prédio.
Cerca de 1650 policiais do 3º BPM (Méier), Batalhão de Operações Especiais e Batalhão de Choque participaram da retirada dos ocupantes do imovel. O efetivo não foi informado pela Polícia Militar. Até 5h desta sexta, não havia registro de confronto.. Eles anunciaram em um megafone que os habitantes seriam levados em ônibus e caminhões para abrigos da prefeitura.
Os barracos que se espalharam na propriedade do Engenho Novo se multiplicaram com rapidez desde que o local foi invadido. De acordo com estimativa de moradores, já há cerca de 5 mil famílias no local, batizado de Favela da Telerj, como mostrou o RJTV de quarta-feira (9). Os moradores fizeram ligações clandestinas de energia elétrica e pegaram água das cisternas.
Pessoas que estão no prédio alegam que não têm condições de pagar aluguel. Por isso, teriam deixado comunidades como a do Jacarezinho, Rato Molhado e pontos da Baixada Fluminense.
Lamento
Moradores que deixavam o imóvel lamentaram a reintegração. "Tenho marido preso. Eu recebo auxílio reclusão. Pagava R$ 500 aluguel no Jacarézinho. Não dá. Minha filha estuda no CEP da Mangueira. Com esse dinheiro eu pago lanche pra minha filha. Mandaram todo mundo sair e está cheio de criança. O prédio está abandonado há mais de 20 anos. Invadimos mesmo, e agora tem 8 mil pessoas. Queremos ficar na paz e tem nuita criança lá dentro", disse uma moradora que não quis se identificar.
"Morava em Manguinhos. A gente está consciente que o prédio não é nosso. Mas pago R$ 380 de aluguel, desempregado. Estamos morando, tenho tudo aqui. Eu não tinha condição de dar uma casa para minha família. Como a gente vai servir a sociedade se não tem o lado social para saber nossa realidade? Como a gente vai sobreviver?. Aí dentro Tem pessoas que necessitam. A gente quer que a Prefeitura sente com a gente e a gente seja ouvido. A gente não quer nada de ninguém. Só queremos o que prometem na hora da eleição", disse Rodrigo Moreira.
Em imagens feitas pelo celular, a equipe do RJTV mostrou que os lotes foram demarcados, por casas improvisadas. Os espaços demarcados são pequenos, mas onde vivem normalmente até oito pessoas. Um invasor, vindo do Jacaré, no Subúrbio, conta que foi morar lá com mulher e filha.
“Não tenho condições de pagar aluguel. Ou a gente paga aluguel ou a gente come. Então, a gente veio para cá. Vamos ver o que vai acontecer, se vamos conseguir alguma coisa ou se aqui vai ser a nossa casa”, disse o homem.
O prefeito Eduardo Paes disse na noite de quarta-feira (9), que os invasores do terreno não vão ganhar casa do governo “no peito e na raça”. E defendeu a reintegração de posse do terreno pela empresa.
“Não conheço favela nenhuma da Telerj. Conheço uma invasão com todas as características de uma invasão profissional, organizada. Ali tem sim pessoas humildes com necessidades habitacionais, pessoas mais pobres, mas que estão ali loteando e demarcando. Pobre que é pobre que precisa de casa não aparece logo com aqueles madeirites e fica marcando número. Então, é um movimento típico de um movimento organizado. É só ver o Bom Dia Rio, o Globocop e ver que não se consegue filmar ninguém ali. Por quê? Porque ninguém dorme lá, a maioria das pessoas não mora ali”, disse Paes.