A Polícia Militar apura supostas ameaças feitas por um PM do 15º BPM (Duque de Caxias) a um internauta no Facebook. A vítima, que não quis se identificar, utiliza um perfil na rede social nomeado "Anderson Oliveira", e denunciou o caso, enviando reproduções da conversa através do VC no G1. Em uma troca de mensagens privadas no Facebook, o policial, identificado como Emerson Veiga, reforça que anda armado e diz que não socorreria, por exemplo, a filha de "Anderson", caso a mesma fosse vítima de estupro porque fazer uma ocorrência dessas lhe daria "muito trabalho".
"Ando com uma p... de uma arma bom de calibre. Se alguém tentar a graça, pode ser criança que vai levar. Afinal, marginal se combate dessa forma. Já você? Ah, que se f... Ou você acha que eu me preocupo se a sua filha for estuprada? Se você tiver seu carro roubado, você acha que eu vou me preocupar com o seu patrimônio? Que se f.. a sociedade. O meu sim está segurado, todo direitinho. Que se f... a sociedade", teria escrito o PM a Anderson.
A Polícia Militar informou ao G1, por meio de nota, que Emerson Veiga prestou depoimento, na segunda-feira (7), ao comandante do 15º BPM, coronel Ranulfo Brandão, e disse que foi "ofendido por perfis apócrifos e que respondeu sem se dirigir a ninguém especial". No entanto, segundo a nota enviada pela PM, o comandante "segue apurando mais elementos para decidir sobre que procedimento adotar em relação ao caso".
Segundo Anderson, Emerson veio espontaneamente até sua caixa de mensagens privada após ele ter levantado um questionamento a respeito do tratamento de policiais ao povo, na página do Facebook "Sobrevivente na PMERJ", que, segundo o internauta, seria administrada por PMs. Emerson teria iniciado a conversa com a seguinte mensagem. "Quem disse que eu quero saber da população, cidadão? Um bando de hipócritas e marginais. Quem vai pra rua pedir a legalização da maconha não merece meu respeito".
Bate-boca virtual
O PM, que utiliza no perfil da rede social uma foto sua com a farda da corporação, questiona o fato de Anderson não se identificar e volta a fazer novas ameaças. "Aliás, amigo, você já deu o que tinha que dar. Uma pessoa que se esconde atrás de uma figura e imagem acha que pode nos oferecer perigo? Mande seus amigos fazerem graça, afinal meu dedo já coça pra mandar um pro inferno. E basta fazer isso com meia dúzia que o resto para. Recado dado", escreve Emerson.
Anderson Oliveira conta ter falado ao policial que iria encaminhar as ofensas e ameças à corregedoria da Polícia Militar e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ele ainda sugere que Emerson tenha aulas de português. O PM diz que não leva fé nas denúncias. “Com relação às ameaças, não levo fé. Ainda mais vindo de drogados. Quanto às aulas, já estudo”, respondeu Emerson.
Na mesma conversa, Anderson critica os erros de português cometidos pelo policial e escreve: "quem sabe se pagasse uma escola particular não seria melhor para você? Já que o serviço público é um lixo, vide a polícia". O PM responde: "Ah, que engraçado para perder a minha vida eu sou representante do povo? Aliás, só de ouvir a palavra povo me dá nojo, argh! Ainda mais vindo do RJ"
Em seu perfil “Anderson Oliveira”, a vítima utilizava a imagem de um animal como foto principal. Dois dias após o bate-boca com Emerson, trocou a imagem para uma criança negra com uma coroa na cabeça em frente a uma favela. Para sua surpresa, segundo ele, o policial voltou a enviar mensagens para sua caixa. Desta vez com mensagens preconceituosas. “Seu favelado, raça inferior dos infernos. Descem o asfalto pra nos roubar, pulam o muro de nossas pra roubar, roubam nossos carros, nossos relógios e não querem ser cobrados?”, teria postado Emerson. A mensagem continua.
“Tenho nojo, ódio, asco de favelado sim. Raça miserável que por não ser e não ter nada se aliam a traficantes e depois sofrem represálias dos mesmos. Pois nem pensam vocês servem, servem sim pra não quererem trabalhar e ganhar benefícios sociais do governo. Quanto o que eu ganho, não te interessa pois não te conheço como p... nenhuma. Nem autoridade de nada você tem pra isso”, prossegue a postagem.
Internauta não formaliza denúncia
Ao G1, Anderson disse que após consultar um advogado ficou com medo de denunciar o policial. "Um advogado voluntário veio até mim e me explicou que, para entrar com a representação, eu deveria fornecer dados pessoais para a própria polícia e que seria uma decisão complicada de se tomar. Com muita vergonha, admiti meu medo, e disse que pensaria melhor", explicou ele.
Na mesma nota, a Polícia Militar informou que os cidadãos que se sentirem ameaçados devem registrar o caso na Delegacia de Repressão a Crimes contra Informática (DRCI) ou em outra delegacia. A PM ainda disse que a corregedoria da corporação também está à disposição dos cidadãos, através do telefone (21) 3399-1199.
Mesmo sem saber ao certo se vai denunciar o policial ou não, Anderson classificou como criminosas as declarações de Emerson, na suposta conversa. "Ele não falou apenas coisas polêmicas, mas criminosas. Enfim, é certo que um cara tão desequilibrado e frustrado jamais poderia ter o poder de ser policia militar. O pensamento violento e a visão que ele tem da sociedade são muito claros. Ele, armado e com "poder" de prisão, acaba sendo tão perigoso quanto traficantes", disse Anderson ao G1.