Os prejuízos causados pelo rolezinho programado para anteontem no Shopping Leblon não se limitaram ao domingo, quando o centro comercial fechou — em plena alta temporada e no meio de um feriadão — para evitar problemas. Ontem o shopping abriu, mas o movimento estava cerca de 60% abaixo do normal, segundo lojistas e funcionários. Um dia atípico, mesmo para outras épocas do ano:
— O movimento começou a cair no sábado, véspera do rolezinho. Domingo o shopping não funcionou e hoje (ontem) está com menos da metade do público — contou o comerciante Miguel Curi, fundador e um dos sócios do Botequim Informal.
Segundo ele, o faturamento normal no domingo está em torno de R$ 15 mil. E, como janeiro é também o mês em que os comerciantes pagam o 13º aluguel, além de impostos, as despesas dobram:
— Eu vou gastar este mês, só entre aluguéis e condomínios, R$ 71 mil. O prejuízo é grande, mas o que mais me preocupa é que ainda não estou certo do que é um rolezinho. O que eles queriam fazer? Bagunça? Promover quebra-quebra? Era só uma manifestação? Eu acho que, se é uma manifestação cívica, tem que deixar entrar. Mas, se promoverem quebra-quebra, furtos, então é um caso de polícia, como acontece nos arrastões na praia — comentou Miguel Curi.
Sócio do restaurante Nori, o comerciante Otto Blanco teme que o comércio vire refém de situações como essa.
— Nós tínhamos feito uma reunião na sexta-feira, na qual decidimos suspender a venda de bebidas para quem fosse consumir fora dos restaurantes e que o shopping ia funcionar com a segurança reforçada. No sábado, às 22h, recebemos a circular informando do fechamento. Eu acho que o shopping agiu de forma correta ao se preocupar com a segurança das famílias que frequentam o espaço. Mas e se amanhã houver outra convocação, e depois também? Nós vamos ficar reféns?
Segundo Otto, é preciso ter “discernimento e sabedoria” para decidir o que fazer.
Só três clientes até as 17h
Uma vendedora da Lacoste comentou que, até as 17h, apenas três clientes haviam entrado na loja:
— O shopping está vazio para um feriado. Com certeza ainda é reflexo do rolezinho.
Destinado a um público A e B e situado num dos bairros turísticos da cidade, o shopping conta com mais de 200 lojas, 1.200 vagas, cinemas e polo gastronômico. Para o professor de varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Daniel Plá, o fechamento do espaço num domingo pode ter provocado um prejuízo de R$ 3 milhões.
— Minha estimativa é que, por baixo, o prejuízo foi de R$ 3 milhões. Por um lado, tem o faturamento. São mais de 200 lojas que deixaram de faturar numa época de grande movimento em um shopping situado numa importante região turística. De outro, há os gastos. O prejuízo é grande. Acho que, ao invés de fecharem as portas, medida que soa antipática, os shoppings devem buscar uma forma criativa para lidar com esses atos, criando espaços para manifestações culturais — afirmou Plá.
Procurado, o Shopping Leblon não se pronunciou sobre o caso. Segundo o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luis Augusto Ildefonso da Silva, os centros comerciais já estão examinando procedimentos para essa nova demanda de segurança.