Aos 76 anos quase 60 deles em cima de palcos ou na frente de câmeras de cinema e televisão a atriz Eva Wilma defende a necessidade do humor: É preciso ter humor em tudo, até no drama. Há sofrimento nas lágrimas, mas é preciso ter o riso também, para a vida ser melhor. A receita, além do riso, também inclui trabalho, muito trabalho.
Nesta sexta, ela chega aos cinemas na comédia A guerra dos vizinhos. Na segunda seguinte, volta à televisão na novela Araguaia, na Rede Globo. A atriz conta que não importa onde seja o trabalho ela gosta mesmo é de representar e fica feliz com o reconhecimento do público.
Eva e a comédia se dão bem há muito tempo. Prova disso é um dos maiores sucessos de sua carreira na televisão, o seriado Alô, Doçura, criado nos anos de 1950, no qual trabalhou com seu marido na época, o ator John Herbert. O programa tinha um tempo de comédia muito peculiar, isso por conta da genialidade do Cassiano [Gabus Mendes, criador do televisivo]. A atriz acredita que atualmente, o mesmo tipo de comédia ainda faz bastante sucesso. Há muito disso nas personagens que faço em A guerra dos vizinhos e Araguaia.
No filme, Eva é Adélia que, ao lado de duas irmãs, todas solteironas, atormentam a vida da vizinhança, levando uma vida solitária. Embora elas pareçam frustradas, a atriz defende as personagens. Para mim, elas são velhinhas muito felizes, que levam suas vidinhas e ficam danadas com os vizinhos que as infernizam. Eva foi convidada para atuar ao lado de Karin Rodrigues e Vera Mancini que interpretam suas irmãs. O convite surgiu do Rubens [Xavier, diretor e roteirista], quando ele foi assistente num filme em que trabalhei, Veias e Vinhos [de João Batista de Andrade]. A trama parte de uma história real, mas junta-se a isso a fantasia do Rubens, que criou o filme.
A briga na vizinhança rende cenas de troca de farpas entre personagens, mas, para Eva, tudo é diversão. Precisei usar muito bom humor para fazer minhas cenas, especialmente quando as personagens ficam xingando e fazendo gestos quase obscenos. Precisei fazer tudo de forma divertida para não ficar pesado.
Na televisão também não é diferente o humor impera. Em Araguaia, Eva é uma ex-garota de programa que agora tem um salão de beleza. A atriz comemora o fato de, pela primeira vez em sua carreira, estar contracenando com a amiga Laura Cardoso. É um encontro histórico, comemora.
Os pontos altos
Apesar de todo esse apego pelos personagens cômicos, Eva conta que considera seus trabalhos mais queridos dois dramas, e bem sérios: São Paulo Sociedade Anônima (1965), de Luis Sérgio Person, e Cidade Ameaçada (1960), de Roberto Farias. São dois filmes muito importantes na cinematografia do Brasil. Tenho muito orgulho deles.
Do trabalho com Person, Eva conta ter lembranças muito intensas. A nossa amizade foi muito forte. Ele tinha muito talento e muito humor. No sítio dele havia uma placa escrito cachorro bravo e dono louco, lembra rindo. Ela também aponta que a receptividade do cineasta facilitava o trabalho. Ele gostava muito de que déssemos sugestões. Havia uma cena que estava no final do filme, era bem dramática, de uma briga, uma separação. E ele mudou para o começo. Fiquei feliz com isso.
Na televisão, Eva destaca a primeira versão de Mulheres de Areia, exibida na TV Tupi, em 1973. Nós batemos a Globo em índice de audiência na época. A Regina Duarte recebeu um prêmio de melhor atriz naquele ano, mas disse que a premiada deveria ser eu. Ela foi muito modesta me oferecendo o prêmio, conta a atriz, que fez as gêmeas Ruth e Raquel, reprisadas duas décadas depois na Globo por Gloria Pires.
Outro papel marcante de Eva na televisão foi na primeira versão de A Viagem (1975), uma das obras pioneiras a abordar o tema do espiritismo na televisão brasileira. Hoje, cinema e tevê se renderam ao poder do assunto para atrair o público. Lembro-me de que, na época, antes mesmo de começarmos a gravar a novela, tivemos uma palestra com o Chico Xavier