Pelo menos uma vez por semana, há mais de um ano, um caminhão com o logotipo da Prefeitura de São Paulo despeja irregularmente galhos de árvores podadas em um terreno particular na região do Butantã (zona oeste).
Em seguida, a lenha é serrada, empilhada e queimada, às vezes por vários dias seguidos, liberando fumaça que, segundo a vizinhança, já causou problemas respiratórios em várias famílias.
De acordo com a gestão Kassab, que diz desconhecer o despejo, a regra é que os galhos de árvores podadas sejam levados para um aterro em Guarulhos (Grande SP).
O despejo no terreno, porém, foi testemunhado por vários moradores e confirmado à ''Folha'' pela mulher do caseiro do lote. Uma moradora também mostrou à reportagem um e-mail com assinatura da Polícia Militar Ambiental.
Segundo a mensagem, ''trata-se de um terreno particular, onde são descartadas pela Prefeitura de São Paulo árvores e galhos decorrentes de quedas, desabamentos e podas efetuadas pela Secretaria de Obras da referida prefeitura''. Procurada pela reportagem, a polícia não se manifestou sobre o problema.
Moradores dizem que procuram vários órgãos do poder público há meses, mas apenas a polícia ambiental respondeu.
Saúde
Em todo o condomínio Jardim Amaralina, vizinho ao terreno, moram 600 famílias. Ao menos seis delas relatam que alguém na casa tem bronquite, rinite ou problemas alérgicos, geralmente as crianças.
De acordo com o pneumologista Marcos Arbex, a fumaça pode ser a causa desses problemas de saúde e afetar mesmo quem não desenvolveu as doenças.
É o caso da secretária Maria Fernanda Nóbrega, 32, grávida de três meses. ''Acordo várias vezes à noite precisando respirar de novo'', diz. Seu vizinho Paulo de Castro, 46, tem um filho de um ano e sete meses com bronquite e que, durante um bom tempo, precisou de inalador.
A reportagem esteve no bairro na última sexta-feira e viu troncos empilhados.
Uma mulher que se identificou como Gislene afirmou que seu marido, o caseiro do terreno, recebe a madeira da prefeitura e a transforma em lenha para vender para pizzarias. ''É árvore de poda'', diz Gislene.
Discordando dos moradores do bairro, que dizem que a última queimada foi no dia 7, ela diz que ''tem mais de um mês que eles [os caminhões da prefeitura] não vêm'' e que ali se queimam mais as folhas das árvores.
Por Cristina Moreno de Castro