A repórter Carolina Heringer teve acesso, com exclusividade, ao depoimento que Caio Silva de Souza prestou a policiais da 17ª DP (São Cristóvão) e a agentes da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) quando já estava preso no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, nesta quarta-feira. O rapaz - suspeito de acender o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade - responsabiliza o tatuador Fábio Raposo por ter acendido o explosivo. Ele admite ter estado na Central do Brasil no dia em que Santiago foi atingido.
Caio disse que Fábio o atiçou para disparar o rojão, dizendo “Solta, solta...”, no momento em que entregou a ele o artefato e que o tatuador disse ainda “Acende aí”. Mas, segundo a versão de Caio, quem acendeu o explosivo foi o próprio Fábio. Caio teria apenas segurado o artefato e o colocado no chão já aceso. O rapaz alega ainda ter achado que o explosivo era um sinalizador. Mais cedo, em entrevista à TV Globo, ele havia dito que tinha confundido o rojão com um "cabeção de nego" e havia acendido o explosivo.
Ainda no depoimento, Caio admite que “nem sempre participou do movimento Black Bloc, porque trabalha e nem sempre consegue participar das manifestações”. Caio contou também que esteve na ocupação na Câmara de Vereadores do Rio, no fim de 2013, onde “teve a oportunidade de ver a chegada de até cinquenta quentinhas para alimentar os ativistas”. Ele afirma ainda “que há pessoas que aliciam os jovens para participar das passeatas e já foi convidado para participar de forma remunerada”.
Caio negou conhecer as pessoas que aparecem na manifestação e oferecem dinheiro a quem participa do ato. Segundo ele, "elas falam que se tiver com dificuldade financeira para voltar na próxima (manifestação), pode pegar com eles o dinheiro da passagem, bem como aparecem com lanches e quentinhas".
Sobre financiadores de protestos, Caio disse que eles existem. Ele revela que chegou a ver um papel onde a contabilidade do dinheiro distribuído aos manifestantes era feita. Segundo ele, esse papel apareceu no Facebook do Anonymous Rio e do Black Bloc porque "existem discordâncias entre os próprios ativistas". De acordo com Caio, a ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, foi quem passou a contabilidade para um amigo, que o colocou na rede social.
Ainda de acordo com o depoimento, Caio nega ter sido chamado pela ativista Sininho para as manifestações. Ele diz que sabe que ela é uma das pessoas que organizam os protestos: “Não acho que ela seja líder, mas manipula a forma como a manifestação vai acontecer”.
Caio informa ainda que era convocado para os protestos por meio de seu perfil no Facebook, que depois o próprio jovem apagou. O rapaz conta também que algumas pessoas nos protestos são encarregadas de distribuir pedras e apetrechos, mas nega saber quem elas são. Caio admite que conhece Fábio Raposo das manifestações e que já o viu participando de outros atos usando máscara de gás.
Envolvimento de partidos
Em outro trecho do depoimento, Caio não é taxativo mas diz acreditar “que os partidos que levam bandeira são os mesmos que pagam os manifestantes”. Ele informa já ter visto “bandeiras do PSol, PSTU e Fip (Frente Independente Popular), sendo esta um dos grupos que organiza reuniões plenárias”.
Em nota, a assessoria de imprensa do PSTU do Rio negou envolvimento com o Black Blocs e também com os suspeitos presos. O partido ainda exige que a denúncia de financiamento a manifestantes seja investigada. Leia a íntegra do informe:
"O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado reafirma que não tem qualquer ligação com o Black Bloc ou quaisquer grupos de ideologias afins. Da mesma forma, não temos nenhuma relação com os rapazes acusados de acender o rojão que vitimou o cinegrafista da Bandeirantes, Santiago Andrade. Nas manifestações do ano passado, o PSTU foi o único partido de esquerda a contestar e discordar publicamente dos métodos empregados por estes setores do movimento social.
Exigimos que se apure a denúncia de financiamento desses jovens. Se eles receberam dinheiro para agirem como provocadores, exigimos que se diga quem os financiou. Não só quem financiou esses jovens, mas quem financia a defesa da dupla acusado-delator. No entanto, somos radicalmente contrários à perseguição que os governos vem promovendo contra os movimentos sociais. A violência instaurada naquele dia na Central do Brasil é de responsabilidade do governo e da polícia militar. Prestamos nossa solidariedade aos familiares de Santiago e continuaremos lutando para que novas tragédias como esta não aconteçam."