A gravidez na adolescência é um desastre na vida de qualquer menina. Uma jovem que tem seu bebê aos 16 anos se vê com a tremenda responsabilidade de ser mãe numa época em que deveria estar se preparando para o vestibular e dando os primeiros passos rumo à carreira profissional. Meninas entre 15 e 19 anos deram à luz 1 milhão de bebês no ano passado, de acordo com os números do Ministério da Saúde. Há um paradoxo aí, que só os hormônios em ebulição e a impetuosidade natural da idade podem explicar. Nunca uma geração esteve tão bem informada sobre métodos anticoncepcionais e consciente da necessidade de se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis. O índice de jovens que dizem só transar de camisinha chegou a 90% numa pesquisa realizada pela Unesco, que ouviu 16 000 estudantes de catorze capitais brasileiras.
Mas essa taxa cai drasticamente quando o namoro fica sério. Só dois em cada dez continuam a usar o preservativo com a assiduidade dos primeiros tempos. Daí à gravidez indesejada basta um vacilo.
Os brasilienses Taís Vidal de Oliveira Feijó e Arthur Duarte França começaram a namorar na escola, quando ela tinha 14 anos e ele, 15. Um ano depois, Taís descobriu que estava grávida. "Só pensava em como contaria para os meus pais. Só tive coragem de falar quando já estava com sete meses de gravidez", lembra. A filha, Isabella, nasceu em 2001. O namoro acabou um ano depois. Com ajuda de sua mãe, que cuida da criança e paga as contas, Taís pôde continuar a estudar. Ela começa neste semestre a cursar direito e Arthur vai prestar vestibular para o curso de marketing. Os dois namoram outras pessoas, mas se vêem todos os dias por causa da filha. "A Isabella passa metade do tempo comigo e a outra metade com o pai", diz Taís.
Qual a responsabilidade dos pais dos adolescentes numa situação como essa? Da mesma forma que não há uma fórmula mágica para garantir que os filhos serão pessoas felizes e bem-sucedidas, não há receita de como prepará-los para a chegada precoce de um bebê. Quando ocorre a gravidez inesperada, não adianta pressionar os jovens nem pensar em obrigá-los a casar. A decisão de levar adiante ou não o relacionamento deve partir do casal. Mas o apoio dos adultos é um fator decisivo para o jovem assumir ou não a criança. Aos 17 anos, a estudante paulista Lina Braga Santin descobriu que estava grávida. Na época, ela terminava o colegial, trabalhava como modelo e curtia a relação com Luciano, de 20 anos, seu namorado desde os 13. Ter um filho definitivamente não estava em seus planos. "Eu sonhava em ser mãe um dia e, após o susto, comecei a ver meu desejo se realizar", diz ela. Lina conseguiu terminar o colegial e em seguida entrou para a faculdade de direito "com o barrigão". Hoje, dois anos depois, ela freqüenta o curso à noite e faz estágio à tarde. Enquanto isso, seu filho, João Gabriel, de 1 ano e 2 meses, fica com a babá. Lina e Luciano não estão mais namorando, mas ele mora a um quarteirão da casa dela e sempre visita o filho.
A avó que virou mãe
Um resultado bem comum da maternidade precoce é os avós se encarregarem da educação da criança pelo menos temporariamente, até que a mãe tenha condições econômicas de assumir a empreitada. Há três anos, a estudante Paula Meninel, hoje com 20 anos, ficou grávida do namorado, Caio, de 21. Na época, ela cursava a faculdade de fisioterapia e teve de interromper os estudos por causa da gravidez. Depois que Cauã nasceu, Sulamita, esteticista de 44 anos, mãe de Paula, passou a cuidar não apenas da filha mas também do neto. "Como sou mais experiente, acabei exercendo o papel de mãe dos dois", diz Sulamita. Paula retomou os estudos aos poucos e começou a trabalhar. Namora o pai do garoto, que assumiu o bebê, mas o casal não pensa em morar junto. Quem fica mais tempo com o bebê é Sulamita. E a avó é dura na queda e na disciplina. "As crianças costumam fazer mais manha com os avós, porque eles deixam os netos fazer de tudo", observa Sulamita. "Mas comigo é o contrário. Cauã faz manha com os pais dele, mas me obedece, porque sabe que eu sou brava e dou bronca." Apesar da ajuda da mãe, Paula não pôde voltar à vida despreocupada de estudante. "Deixei de sair à noite, fiquei mais caseira", diz. Hoje nem pensa em outro filho tão cedo. "Se tiver, vai ser já perto dos 40", afirma. fonte: Veja Jovens