Iniciaremos proclamando que o nosso Senhor é Rei e o seu reino é eterno! É uma realidade atemporal. Na sua primeira manifestação, Israel reconhece e declara: "O Senhor reina para sempre; o teu Deus ó Sião, reina de geração em geração" (Sl.146:10). O nosso Deus está assentado num alto e sublime trono, e governa sobre os filhos dos homens. Temos consciência do seu domínio porque cremos na sua soberania e afirmamos que absolutamente nada foge do seu controle.
Todo o poder e toda a majestade lhe pertencem. "Ninguém há semelhante a ti, Ó Senhor; Tu és grande e grande é o poder do teu nome. portanto: "Quem não te temeria a Ti, ó Rei das nações? Pois isso é a Ti devido; porquanto, entre todos os sábios das nações e em todo o seu reino, ninguém há semelhante a Ti." (Jr.10:6-7)
I - AS VÁRIAS DIMENSÕES DA ESCATOLOGIA
Se o nosso Deus reina eternamente e reinará para sempre, falaremos, "neste sentido, de uma escatologia perfeita, de uma escatologia presente e de uma escatologia futura, bem como de uma escatologia que poderíamos chamar de trascendental, enquanto está se referindo ao agir do Deus eterno dentro, aquém e além de todos os tempos escatológicos." 1 A escatologia perfeita, para Claus Schwambach é a irrupção da eternidade para dentro do tempo, da presença da salvação escatológica na pessoa e na obra de Cristo. A escatologia presente é apresentada como o Evangelho que anuncia o perdão, se manifesta já agora, de forma antecipada, o veredicto de Deus como Juiz final. A palavra da cruz atualiza tanto o passado como o futuro, fazendo-os valer no presente. A escatologia futura, tem como conteúdo a esperança cristã da ressurreição, o arrebatamento, a segunda vinda de Cristo, o juízo final, o fim do mundo, a nova criação, céu e inferno, a vitória final, "quando Cristo entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder, porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés." (ICo. 15:24-25)
"O reino de Deus não tem significado estritamente temporal. Ele expressa dinamicidade, atividade e está sempre orientado teocráticamente." 2
Reconhecendo a limitação humana não ousaremos medir o tempo nem tão pouco nos deteremos a examinar os sinais do tempo do fim, pois não limitamos a escatologia ao estudo dos eventos finais. Porque "todos os temas teológicos apresentam uma dimensão escatológica." 3 Atentaremos ao fato de que a promessa escatológica da inserção do reino na história dos homens deve ser o incentivo, o impulso, a força do nosso compromisso de proclamar, como arautos do Rei, a vinda do seu Reino.
II - A PROCURA DA DEFINIÇÃO DO TEMPO
Deus domina sobre o tempo e os homens não têm capacidade de cronometrá-lo nem entendê-lo. O tempo pertence a Deus. Ele domina sobre as épocas, "é Ele quem muda os tempos e as estações(...)" (Dn.2:21)
O controle do homem sobre o tempo é tão restrito e tão inseguro, que a humanidade vive na inquietação acerca do tempo do fim. Na virada do milênio todo mundo viveu sob o temor do que poderia acontecer. Mesmo vivendo a época mais avançada da ciência e da tecnologia, onde o homem se põe no centro do universo exibindo seu domínio sobre a criação, a incerteza quanto ao tempo escatológico apavora, tanto os mais ignorantes como os mais entendidos, tanto os religiosos como os céticos.
Segundo Stephen Jay Gould, cientista paleontólogo, a descoberta, no século XVIII, de que a história do universo não se contava em milhares mas em bilhões de anos perturbou os sábios e constituiu a maior revolução intelectual dos tempos modernos. Porém, o Criador do tempo exibe sua sabedoria tão alta e tão profunda que inibe uma aproximação definida dos números, o que induz o cientista a dizer: " O problema, é que a natureza não produz regularidades astronômicas que permitam estabelecer ciclos numéricos simples.(...) a relação entre o calendário e os ciclos astronômicos não se exprime em termos matemáticos simples. O problema vem da maneira como a natureza funciona." 4
A maneira como Deus lida com a sua criação, põe a cronologia do tempo e dos fatos numa escala acima do entendimento e da inquirição humana. E é percebendo esta verdade que Gould acuado com as pequenas brechas deixadas pelo Criador para percepção da luz do tempo, ele conclui: "A complexidade do calendário é um desafio à astúcia humana. É por isso que dizemos: se Deus existe, ou tem senso de humor ou é uma nulidade em matemática(...)ou é simplesmente incompreensível para um espírito humano." 5 A ciência tem que se dobrar diante da inescrutável força e sabedoria do Criador do tempo e dos tempos.
III -OS SINAIS DOS TEMPOS
Dentre tantas catástrofes que o planeta já sofreu e vem sofrendo, desde o dilúvio quando o mundo de então foi destruído com água, predições têm sido feitas, por cientistas e religiosos, quanto a destruição do planeta e o tempo do fim, citaremos apenas algumas: o aquecimento da terra seguida do esfriamento do sol, a perda da camada de ozônio, previsão de possível queda dos meteoros e asteróides, os terremotos, as injustiças sociais, as opressões dos sistemas políticos, a miséria, o desenvolvimento científico, etc. Esta palestra foi escrita antes do dia 11 de setembro quando aconteceu o atentado ao World Trade Center em New York que insere no mundo o pavor do terrorismo. Fica evidente na guerra entre o ocidente e o oriente,que o ódio ao povo da promessa - Israel e a rejeição ao Cristianismo constrói uma barreira de separação que nenhum tratado de paz, nem negociação econômica nem poder bélico pode quebrar. Ficou revelado o esquema do Al Qaedar montado em todo o mundo. Se Osama bin Laden tem comando organizado em 40 países, como será possível vencer o terrorismo? Arnaldo Jabor, comentarista da rede Globo disse, que o ocidente precisa mudar de cara de diabo e malignidade como é visto pelo oriente para aproximar uma reconciliação. Não será essa a hora do aparecimento do anti-cristo para promover a paz mundial? Diante disso, a tarefa missionária fica ainda mais difícil porque a cara do ocidente se confunde com a face do cristianismo em seu desenvolvimento ocidental. Não será esse um específico sinal do fim?
Muitos têm estado atentos aos sinais e eventos preditos por Jesus no sermão do Monte das Oliveiras, no cap. 24 de Mateus. As guerras, e rumores de guerras, a fome e terremotos, o aumento da iniquidade e falsos profetas, as perseguições sofridas pelos servos de Deus, os massacres e os martírios que a Igreja do Senhor tem sido alvo ao longo dos séculos, tudo isso nos leva ao anseio escatológico e nos põe a questionar: quando virá o fim?
Magno Paganelli 6 trabalha com os sinais no campo astronômico, no campo atmosférico e meteorológico e no campo hidrológico, como acontecimentos apocalípticos e assinala que já estamos vivendo o cenário que antecede o estabelecimento do anticristo. Muitas especulações surgiram no decorrer dos anos. Muitos tentam prognosticar a parousia, o segundo advento, com a intenção de encontrar uma resposta que satisfaça a curiosidade e a inquirição humana, no entanto, as previsões têm sido frustrantes. O tempo do fim, é segredo de Deus e não cabe ao homem identificá-lo. Disse Jesus: "Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho senão o Pai."(Mt. 24:36)
IV - AS PROMESSAS DO REINO DE DEUS A ISRAEL
A vinda do reino de Deus é o tema central do Antigo Testamento. Quando o Senhor escolheu Abraão para fazer dele uma nação separada, era o seu propósito constituir um reino Teocrático. "Agora pois, pergunta aos tempos passados que te precederam,(...) se jamais aconteceu coisa tamanha como esta(...)ou se um deus intentou ir e tomar para si um povo do meio de outro povo(Dt. 4:32,34). A intenção divina persistia fazer Israel uma testemunha do seu Rei, para que todos os povos da terra percebessem que a nação era governada e dirigida por um Deus sábio e Todo-Poderoso. E os povos ouvindo os estatutos dirão: "Certamente este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus,(...)e que grande nação há que tenha estatutos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?(Dt. 4:6-7)
Deus fez aliança com seu povo: "Não vos esqueçais da aliança do Senhor nosso Deus, feita conosco(Dt. 4:23). Mas Israel quebrou a aliança, porém o ministério profético em Israel condenava o pecado da nação que impedia a ação divina e apontava para uma nova aliança. A esperança profética apontava não apenas para uma restauração, mas para um novo pacto. "Eis ai vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel(...) dar-lhes-ei um só coração e um só caminho para que me temam todos os dias. Farei com eles uma aliança eterna(Jr. 31:31; 32:39-40).
Tendo em vista que a monarquia teocrática não alcançou a legitimidade dentre as dinastias, tendo apenas algumas sinalizações no reinado de Davi e Salomão, evidenciou-se o contraste entre aquilo que era e aquilo que deveria ser, renovando assim, a esperança escatológica. "Logicamente, não se duvida que Deus seja Rei, mas a concretização de sua realeza torna-se objeto de esperança. Em outros termos, a teocracia é aguardada no futuro, ela passa a ser escatológica." 7
O profeta Isaías identifica sua mensagem escatológica, no que diz respeito ao estabelecimento da Casa do Senhor, para a qual afluirão todos os povos. Após o julgamento e a correção de Deus os povos gozarão paz universal.(Is.2:1-5)
"A expressão usada por Isaías "naquele dia" é também indicadora da mensagem escatológica do profeta, na qual anuncia "o Renovo do Senhor que será de beleza e de glória(...) Será que os restantes de Sião serão chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém para a vida"(Is. 4:2-3) O profeta prevê a extensão mundial do reino quando declara que: "Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será morada" (Is.11:10)." 8
Há um kerigma escatológico na profecia de Isaías identificada à luz do Novo Testamento. "A glória do Senhor se manifestará e toda a carne a verá. Eis aqui o meu Servo a quem sustenho, pus sobre ele o meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios"( Is.40:1-5; 42:1) Isaías também profetiza: "Ano aceitável do Senhor," a mesma diz respeito ao ministério do Messias na unção do Espírito do Senhor Deus. "Porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados e apregoar o ano aceitável do Senhor(...) Indo Jesus a sinagoga, levantou-se leu esta profecia e identificou o seu cumprimento na sua própria pessoa e obra. "Hoje se cumpriu a Escritura quer acabais de ouvir." (Lc.416-20) O kerigma escatológico de Isaías tem o cumprimento no advento do Messias, através do qual Deus executa a salvação do seu povo. "Para os homens, a vinda escatológica de Deus significa o juízo e a salvação. Para Deus, ela eqüivale à manifestação da sua glória, ou de seu Nome e à instauração do seu Reino." 9
O profeta Daniel também vaticina e renova a esperança do reino escatológico. Cativo na Babilônia, apresenta-se ao grande rei Nabucodonosor e relata a interpretação da visão dos reinos que sucederiam no cenário mundial, e deixa claro que o Soberano reina sobre a terra acima dos poderosos. "É Ele quem remove reis e estabelece reis. O Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e o dá a quem quer." (Dn. 2:21; 4:25). Mesmo que o seu braço não seja percebido e seus feitos ofuscado pela soberba humana. Ele determina o tempo de cada reino até que o reino escatológico se estabeleça. Daniel nos dá algumas características deste reino.
Primeiro - o Reino é eterno. "O Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído."(v.44) Só o Deus infinito pode estabelecer um reino sem fim.
Segundo - O Reino de Deus é o reino do seu povo. "Não passará a outro povo." (v.44) Os escolhidos do Senhor reinarão com Ele. "Os santos do Altíssimo
receberão o reino e o possuirão para todo sempre, de eternidade em eternidade."(7:18)
Terceiro - o reino é divino, ele se estabelecerá sem o auxílio de mãos, sua erupção no reino dos homens é sobrenatural, não dependerá de acordos de paz nem de estruturas mercadológicas ou de sistemas políticos. "(...)uma pedra foi cortada sem o auxílio de mãos, feriu a estátua(...)esmiuçará e consumirá todos estes reinos."(v.34,44) O profeta relata ainda outra visão(7:13-14) na qual: "(...)vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem,(...)foi-lhe dado domínio, e glória e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
O Senhor Jesus em Mateus 26:64 reivindica para si a profecia deixando claro que o reino escatológico está acima do reino de Davi. "É o novo status do Jesus ressurreto: autoridade absoluta, a autoridade do Filho do Homem. É evidente que Jesus demonstrava autoridade divina durante o seu ministério, mas essa autoridade estava encoberta pela forma humilde que ele assumiu. Depois de ressurreto ele assume uma autoridade cósmica, universal que lhe é de direito."10
Quarto - O reino é escatológico -"O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente." (v.45) Era para Daniel um futuro distante, para nós, mais próximo, mas ainda a se cumprir. É para o futuro mas é certo porque a interpretação é fiel!
Quinto - O reino é universal. Não dominará apenas o espaço geográfico da Palestina e não se limitará a nação de Israel. "A pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha que encheu toda a terra." (2:35)
Estamos hoje aqui, voltados para a visão de Daniel, a maior parte já cumprida, mas a expectativa e esperança do seu total cumprimento nos faz pedir: Venha o teu reino em toda a terra! Venha o teu reino entre todas as nações!
Durvalina Barreto Bezerra é teóloga pelo Seminário Betel. Missióloga pelo Centro de Treinamento da WEC-AMEM, na Austrália. Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação pela Universidade Mackenzie. Vice-presidente da AME - Associação Missão Esperança, integrante da diretoria da Missão Antioquia. Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo e Coordenadora Geral do Ensino do Instituto Bíblico Betel Brasileiro. Professora nos Centros de Preparo Missionário da Missão Juvep - Juventude Evangélica Paraibana, Missão Priscila e Áquila e Jami - Junta Administrativa de Missões. Conferencista internacional.
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