Os movimentos ou sons repentinos e repetitivos, alheios à vontade e controle da pessoa, são mais frequentes do que se acredita nas crianças. Eles afetam uma em cada seis, 16,86%, embora costumem desaparecer ou diminuir com a idade.
"Antes se achava que era um transtorno raro e, como unicamente era estudado em pacientes que se consultavam por causa disso, só se viam tiques nervosos graves. Agora se sabe que a maioria são transtornos leves, que não têm repercussão funcional", explicou a neurologista Esther Cubo.
Segundo o neuropediatra Emilio Fernández-Álvarez, do Hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona, "os tiques nervosos não são uma doença mental nem podem causar uma patologia deste tipo. As crianças que apresentam tiques nervosos têm níveis de inteligência perfeitamente normais".
Sacudir ou inclinar a cabeça, roer as unhas ou os lábios, tapar a boca com a mão, mexer no cabelo toda hora, franzir a testa, esticar o pescoço, pigarrear, tragar saliva, arrancar pelos dos supercílios, ficar piscando ou fechando os olhos, entre outros.
O repertório de tiques nervosos, essas contrações involuntárias que envolvem um determinado grupo de músculos, é tão amplo como grande a preocupação dos pais, quando observam que seu filho ou filha adotou o "desagradável costume" de realizar estes movimentos de forma repetitiva e frequentemente espasmódica.
Quando o corpo se rebela
"Na criança, os tiques nervosos adotam muitas formas, mudam de forma e ao longo de sua evolução variam em sua localização como em sua intensidade. Podem se dividir em tiques nervosos motores simples, que implicam um só músculo ou grupo muscular, tiques nervosos motores complexos (um movimento elaborado que envolve vários grupos musculares, e tiques nervosos fônicos, quando se expressa com vocalizações, ruídos simples ou linguagem articulada", explicou o neuropediatra.
Segundo Emilio, autor do livro Entendendo os Tiques Nervosos (tradução livre), os tiques são a expressão de um transtorno orgânico, embora fatores emocionais possam representar um papel em sua expressão, são o transtorno do movimento mais frequente na criança, predominam nos meninos e afetam entre 3% e 6% das crianças de 6 a 11 anos de idade.
Os tiques nervosos costumam começar entre os 5 e 10 anos: 99% dos casos, antes dos 15 anos, por definição são transitórios e desaparecem espontaneamente antes de um ano.
Os tiques nervosos crônicos e a Síndrome de Tourette, um transtorno neurológico caracterizado por movimentos repetitivos, estereotipados e involuntários e a emissão de sons vocais, desaparecem espontaneamente, em 70% dos casos antes dos 17 anos de idade" segundo o especialista da AEPED .
De acordo com o médico, para o manejo clínico dos tiques nervosos são essenciais uma correta informação das peculiaridades do processo, que nem sempre pode se considerar uma doença, e avaliação dos transtornos associados.
"Nos casos leves a informação e o acompanhamento evolutivo pode ser suficiente, enquanto o tratamento farmacológico deve ser reservado para os casos nos quais os tiques nervosos criam problemas moderados ou graves na criança ou seu ambiente escolar, o que ocorre mais frequentemente com os tiques nervosos fônicos", segundo o especialista.