“Não podemos deixar nossa luta em nome da Bíblia”, diz feminista ao defender aborto

A líder feminista Jacqueline Pitanguy criticou a promoção dos valores conservadores e da Bíblia.

Fonte: Guiame, com informações da Marie ClaireAtualizado: segunda-feira, 30 de setembro de 2019 às 13:21
Jacqueline Pitanguy criticou a promoção dos valores bíblicos e defendeu a legalização total do aborto em entrevista à revista Marie Claire. (Imagem: Youtube)
Jacqueline Pitanguy criticou a promoção dos valores bíblicos e defendeu a legalização total do aborto em entrevista à revista Marie Claire. (Imagem: Youtube)

Considerada uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil, a socióloga e cientista política Jacqueline Pitanguy afirmou em entrevista à revista Marie Claire que o Brasil vive um “retrocesso” com relação às "políticas públicas dedicadas aos direitos das mulheres", o que em sua fala, inclui o aborto.

Líder e fundadora da ONG Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), que diz lutar pela “igualdade de gênero”, Jacqueline disse que o assunto precisa ser discutido porque o atual governo Bolsonaro como um ocupante das últimas posições em termos de “representatividade feminina no Poder Executivo”.

“Apesar de termos tido uma presidente mulher, a nossa participação ainda é muito baixa na política. É importante esclarecer que sexo biológico não garante um alinhamento com uma plataforma de direitos da mulher. Não há uma conexão automática em ser mulher e ser ativista pelos direitos da mulher, mas há evidências históricas de que uma série de projetos que dizem respeito às mulheres são encampadas por mulheres independentemente do partido político”, explicou.

Jacqueline citou como “perigosos” os valores conservadores, a religião e os princípios baseados na fé.

“Temos um congresso extremamente conservador. É muito preocupante a atual política brasileira colocar a religião como um fator a ser seguido. Vivemos num país laico, mas parece que as pessoas religiosas que colocam livros sagrados acima das nossa constituição se esquecem disso. No momento em que grupos religiosos usam da religião como fator político, o estado laico vai minando. Isso é muito perigoso”, destacou.

A militante também criticou a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, justamente citando o fato da ministra promover esses valores conservadores em sua gestão do ministério, alegando que este posicionamento é “inconstitucional”.

“O que me chama atenção é que a ocupante do cargo (de ministra) traz uma série de valores e crenças religiosas que não deveriam estar presentes no exercício de sua função. A ministra já disse publicamente que a mulher deve obedecer o homem no casamento, sendo que umas de nossas principais vitórias foi estabelecer a igualdade de direitos e responsabilidades no matrimônio. Além de inconstitucional, isso é extremamente preocupante porque está comprovado uma estreita ligação entre subalternidade da mulher com a violência doméstica. É triste”, afirmou Jacqueline.

Jacqueline Pitanguy criticou, sobretudo, o fato de Damares ter se colocado contra o aborto em qualquer circunstância - posicionamento já firmado pela ministra muito tempo antes de exercer sua função no governo. A feminista acusou a ministra de “fazer uso da religião” para se opor ao aborto.

“No momento que você institui uma crença religiosa dando parâmetros de políticas públicas é bem complicado. Vai contra todo o princípio básico da democracia que é pluralismo. Eu vejo com muita preocupação que uma dirigente de um órgão de direito da mulher se baseie em suas crenças religiosas. Isso poderá causar um possível retrocesso em leis seculares. Se uma mulher não quer fazer o aborto em nenhuma circunstância, ela tem todo o direito, se quer se submeter ao marido, é uma escolha dela. Mas não temos que criar estereótipos”, afirmou.

Pitanguy ainda citou a promoção da Bíblia e do Evangelho como atuais antagonistas do que ela classifica como “luta” pelos direitos das mulheres.

“Tivemos um avanço tão importante que não podemos deixar nossa luta ir embora em nome da Biblía, do Evangelho, do Alcorão e de qualquer religião. Lutamos para que todas as mulheres possam seguir seu caminho e fazer o que quiserem”, finalizou.

Contexto pró-vida

Em resposta às declarações de Pitanguy, Damares destacou que não se envergonha de seus posicionamentos, nem de defender a vida de bebês ainda não nascidos.

“Conservadora, pró-vida e Pastora sim! Esta Ministra tem fé e defende a vida desde a concepção. Eu falo de VIDA e essa Pitanguy fala de MORTE!”, disse a ministra ao comentar a entrevista da militante feminista.

Apesar das declarações de Pitanguy, ao que tudo indica, o governo Bolsonaro e os posicionamentos de Damares Alves não parecem estar tão em desacordo com a população.

Segundo pesquisa feita pelo Datafolha no início deste ano, 41% dos brasileiros dizem que aborto deve ser totalmente proibido.

Já em países onde o aborto é legalizado, como os Estados Unidos, o que se viu ao longo dos anos foi o aborto se transformando em uma verdadeira indústria ilegal, que movimenta um mercado negro milionário, comercializando bebês abortados para uso em pesquisas e produção de cosméticos.

Recentemente, a gigante abortista americana “Planned Parenthood” perdeu seu financiamento público após decisão do governo Trump de não mais direcionar dinheiro do contribuinte para financiar o aborto.

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