“Viciados não são aceitos nem nas portas das igrejas”, diz pr. Humberto, da Cristolândia

A Cristolândia se tornou uma entrada de regeneração para os dependentes químicos que vivem nas Cracolândias do Brasil. Em entrevista ao Guiame, o pastor Humberto Machado, fala um pouco sobre o projeto.

Fonte: Guiame, Luana NovaesAtualizado: terça-feira, 3 de maio de 2016 às 20:07
Pastor Humberto Machado, do projeto Cristolândia, em entrevista ao Guiame. (Foto: Guiame/ Marcos Paulo Corrêa)
Pastor Humberto Machado, do projeto Cristolândia, em entrevista ao Guiame. (Foto: Guiame/ Marcos Paulo Corrêa)

O pastor Humberto Machado atuava como missionário nos presídios da Bahia, quando recebeu um convite para liderar jovens em um projeto piloto em uma vulnerável região de São Paulo, popularmente conhecida como Cracolândia.

Desde então, o reduto dominado pelo intenso tráfico de drogas se deparou com uma porta de esperança aberta pela Cristolândia, projeto da Junta de Missões Nacionais da Igreja Batista. Hoje, mais de 300 pessoas são atendidas diariamente na unidade estabelecida em São Paulo, e 2 mil refeições são distribuídas.

E os números não param por aí. Além das sete unidades distribuídas pelos estados do Brasil, cerca de 15 mil pessoas já tiveram a oportunidade de se alimentar, tomar banhos e ouvir a Palavra de Deus em SP, mais de mil foram batizadas e cerca de 2 mil se reconciliaram com o Senhor, e hoje estão com suas famílias.

“Quando nós começamos, a ideia era ir para as ruas e evangelizar aquele povo. Mas nós descobrimos que entre as pessoas que estão na Cracolândia, mais de 80% já tinham frequentado uma igreja e tentado alguma recuperação. Então a pegada maior não seria evangelizar, seria reconciliar”, relatou Humberto ao Guiame, durante a CBB 2016.

No entanto, o início do projeto não foi fácil, principalmente pela falta de apoio da igreja. “Quando nós iniciamos e pegamos eles da rua para levar para a igreja, foi um susto. A igreja se deparou com aqueles homens sujos, imundos, deformados e houve uma reação. Então nós tivemos que abrir a Cristolândia com uma igreja só para eles”, relata o pastor.

A maior dificuldade que um dependente químico enfrenta, de acordo com Humberto, é retomar a credibilidade que foi perdida. “Hoje, em São Paulo, nem nas portas das igrejas eles são aceitos. Um ‘nóia’ incomoda muita gente, dois ‘nóias’ também incomodam, mas dez ‘nóias’, muito mais. Na realidade, a igreja perdeu a visão. A sociedade ficou refém deles, e a igreja que deveria dar cobertura e tentar resgatar, fechou as portas.”


Coral da Cristolândia na 96º Assembleia da Convenção Batista Brasileira. (Foto: Guiame/Marcos Paulo Correa)

“As pessoas da igreja tem que entender que a missão de resgatar esse povo não é da prefeitura, não é do governo, não é do Estado, é da igreja. O poder de transformar vidas vem da igreja de Cristo. E se nós, que somos a igreja, não acreditarmos neles, como será a vida deles?”, questiona o pastor.

Hospital trancado

De acordo com Humberto, as portas fechadas das igrejas se tornaram um dos fatores responsáveis pela multiplicação das Cracolândias no Brasil. “Uma vez, um traficante me perguntou: ‘Pastor, por que vocês chamam a igreja de hospital?’, e eu fiquei sem saber o que dizer”, relatou.

“Nós somos um hospital sem plantonista, fechado, trancado e com alarme de segurança, a igreja deveria estar com a porta aberta para receber. O traficante me disse: ‘Eu sou um hospital, porque eu estou aqui 24 horas, e suas igrejas que tem hora para salvar e hora para fechar?’, relembra Humberto.

Por outro lado, Humberto acredita que muitas igrejas estão sendo despertadas para a questão social. “A igreja viveu no espiritual a vida toda. Nós gostamos de culto, e pastor gosta de pregar. Culto, culto, culto, ninguém aguenta mais culto. A igreja precisa aprender que nós também vivemos para o social, e Cristo provou isso. Quando Ele recebia as pessoas, Ele curava. Era uma visão de restauração”, disse o pastor.

“O Evangelho é pleno, ele não pode ser pela metade. Eu não posso pregar para uma pessoa com fome, isso é desumano”, avalia.

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