Uma "performance artística" apresentada na semana passada em um dos auditórios da Universidade Federal do Ceará está gerando revolta entre milhares de internautas - sobretudo entre os cristãos - usuários das mídias sociais.
Apresentado-se seminu durante o Seminário “Conversas empoderadas e despudoradas sobre gênero sexualidade e subjetividades”, no auditório Rachel de Queiroz, da UFC, o ator Ari Areia - que já foi até mesmo pregador e líder evangélico de jovens no passado - retirou o próprio sangue das veias e jogou sobre uma imagem de Jesus Cristo crucificado, diante das centenas de espectadores, que até mesmo o aplaudiram no momento.
A performance foi duramente criticada por centenas de intenautas, com direito a "vomitaço" na postagem, com a denúncia feita por uma página de protesto do Facebook.
"Escárnio, escória da humanidade onde acham que podem tudo e não toleram nada! Não reclamem das consequências seus lixo", comentou um usuário da mídia social.
"O problema não é a estátua em si,mas o sentimento de ódio contra o próprio Deus", disse outro internauta.
"Isso é arte???? Pra mim é uma tremenda falta de respeito... Depois querem respeito. #melhore. E quem defende é pior que eles", postou outra usuária do Facebook.
Confira algumas das imagens abaixo. As cenas são fortes:
Com a imagem de Jesus já posicionada em uma cadeira de plástico, o ator coloca luvas para preparar a retirada de seu próprio sangue, em frente à plateia com centenas de pessoas. (Foto: Junior Ratts / Facebook)
A publicação também foi compartilhada pelo pastor cearense Renato Soares (Comunidade Cristã Logos), que fez de duas passagens bíblicas, as suas palavras sobre o ocorrido.
"Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus'. (Gálatas 5:19-21)", publicou.
"De modo semelhante a esses, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo'. (Judas 1:7)", acresentou.
"Justificativas"
Respondendo às duras críticas da performance, o estudante da Universidade Federal do Ceará, Junior Ratts - que integrou a organização do evento e também registrou o Seminário com fotos - afirmou que as pessoas que estão repudiando a performance de Ari "não sabem que o gesto artístico não se tratou de uma nudez gratuita, mas sim de um ato singelo de humanidade que trouxe à tona a dor que alguns indivíduos trans sofrem por não serem aceitos por seus familiares, amigos e até por si mesmos".
"A performance foi aplaudia de pé por uma plateia comovida que soube estar presente a um evento que tratava justamente sobre a liberdade de SER O QUE SE É em um momento no qual o país vivencia um série de retrocessos, principalmente quando se trata de cidadania LGBT e mais ainda quando se refere à cidadania trans", acrescentou.
Ator Ari Areia despeja o próprio sangue sobre uma imagem de Jesus crucificado no auditório Rachel de Queiroz, da Universidade Federal de Fortaleza. (Foto: Junior Ratts / Facebook)
Passado
Em uma entrevista concedida anteriormente ao jornal O Globo, Ari relatou que no passado, havia uma expectativa para que ele fosse o sucessor de seu pai, que é pastor. Porém ele decidiu se afastar da igreja, quando assumiu sua homossexualidade.
O ator e jornalista também destacou que ainda passou um tempo para tentar dissociar sua imagem de suas antigas funções ministeriais.
"Preferi sair de casa para não trazer problemas para ele [pai]. Não fui expulso, pouco a pouco a gente vai se reaproximando. Havia grande expectativa religiosa sobre mim. Já era auxiliar e recebia muitos convites para pregar no interior. Houve reações até hostis mas mantive o pessoal da igreja no Face", relatou.
Vilipêndio
Esta não foi a primeira vez que atitudes consideradas vilipendiosas foram usadas como parte de perfomances artísticas ou de protestos.
Em junho de 2015, a transexual Viviany Beleboni se colocou seminua em uma cruz, para "protestar contra a homofobia" e foi duramente criticada, inclusive por membros da bancada evangélica no Congresso.
Um ano depois, Viviany já teve seus pedidos de indenização - contra deputados como o pastor Marco Feliciano e também o senador Magno Malta - negados por dois juízes do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Sara Winter
Atitudes como essa já chegaram a ser classificadas como ofensivas, até mesmo por algumas das pessoas que um dia as praticaram.
No caso de Sara Winter - que chegou a se colocar seminua em uma cruz e beijar outra integrante de seu grupo, em frente á igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro - cerca de um ano depois do ato, a ex-feminista surpreendeu o público com um pedido emocionado de desculpas aos cristãos.
"Pedir desculpas com certeza não é um ato fácil, mas é um ato louvável e de muita coragem", desabafa Sara. "Nós exageramos muito e acabamos ofendendo muitas pessoas religiosas e não religiosas por conta desse protesto".
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