"Profissionalismo não significa mercantilismo", diz Maurício Soares sobre música gospel

Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, o diretor / CEO da Sony Music Gospel, falou com franqueza sobre temas, como o pagamento de cachês para músicos cristãos, pirataria e o poder das mídias sociais na carreira um artista na atualidade.

Fonte: Guiame, por João NetoAtualizado: quarta-feira, 16 de março de 2016 às 17:28
Maurício Soares é jornalista, publicitário e diretor / CEO da Sony Music Gospel.
Maurício Soares é jornalista, publicitário e diretor / CEO da Sony Music Gospel.

"O mercado mudou! O mundo mudou e com ele as estratégias e prioridades". O alerta do diretor e CEO da Sony Music Gospel, Mauricio Soares se refere ao mercado fonográfico atual. Segundo o jornalista e publicitário, a música gospel tem se encontrado em um contexto no qual músicos e produtores precisam estar atentos às novas tendências de mercado.

Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, Maurício falou com franqueza sobre seus posicionamentos com relação ao pagamento de cachês para músicos cristãos, pirataria e o poder das mídias sociais na carreira um artista na atualidade.

Confira a entrevista na íntegra, logo abaixo:

Portal Guiame: Muito se fala sobre o "Mercado Gospel" de uma forma pejorativa (como se isso fosse uma suposta comercialização do ministério), com críticas sobre "cachês abusivos", pagos aos cantores. Porém, por outro lado, os artistas precisam ser reconhecidos de forma justa por seu trabalho. Em sua opinião, qual seria o ponto de equilíbrio entre esses lados?

Maurício Soares: Este assunto é bastante antigo e confesso que me assusto quando ainda me deparo nas redes sociais como polêmica. A questão é muito simples. Todo artista paga imposto, vai no supermercado, paga colégio, plano de saúde, aluguel, seguro de carro e tudo mais. Então como eles podem sobreviver se o trabalho deles não é devidamente remunerado? A questão de cachês abusivos é algo discutível também porque incute a ideia de que se paga valores elevados pelos shows dos artistas de música gospel. Em primeiro lugar, aceita o valor quem pode pagar. E se aceita, não pode reclamar! Outra questão, se tem contratantes pagando pelo preço é porque há demanda junto aos artistas. É uma questão simples de mercado! Na minha opinião esta é uma discussão extremamente ultrapassada.

O que acho que deve ser discutido é se a qualidade do show proporcionado pelo artista está de acordo com o valor proposto. Aí já é outra conversa. Acho que muitos artistas deste segmento estão cobrando por uma coisa e entregando outra. Poucos são os artistas que investem em cenário, figurino, produção. Os shows de artistas evangélicos do ponto de vista da produção, são bastante fracos!

Acredito que há muito a se evoluir no meio gospel justamente nesta área de shows, cachês, turnês etc. Profissionalismo não significa mercantilismo. Qualidade não significa frieza ou automação. Temos que buscar a excelência sempre, já o que nos motiva a esta mudança deve ser a mesma lá do início, ou seja, levar a Palavra através da música. Este é o ponto de equilíbrio.

Guiame: Considerando a evolução das mídias sociais e plataformas de comunicação ultimamente, qual tem sido a forma mais eficaz para um cantor "chamar a atenção" de uma gravadora (vídeos na internet, envio da mídia física para a gravadora ou arquivos de áudio)?

Maurício: Hoje em dia, precisa ter relevância nas redes sociais e plataformas de vídeo. Antigamente o artista pra chegar numa gravadora geralmente vinha por indicação, de outros artistas, lojistas ou radialistas. Outro caminho era ser 'estourado' em alguma grande capital fora do eixo Rio-São Paulo, tocando em alguma FM importante. Alguns, já de forma independente tinham boa vendagem de discos. Ou seja, era bem complicado!

Atualmente, é muito mais fácil que um jovem artista seja percebido por uma grande gravadora. E o caminho é justamente a web. Onde nos deparamos com clipes ou vídeos caseiros com milhares e milhões de visualizações, seguidores nas redes sociais, estratégias atualizadas de marketing digital, enfim, adequados ao novo momento que vivemos.

Já perdi a conta de quantos CDs recebi em mãos para ouvir com carinho. Hoje em dia, isto é tão over como usar pochete na cintura. As gravadoras (pelo menos as mais atualizadas) estão interessadas em jovens artistas que se comunicam e trabalham as redes sociais com desenvoltura. Mas é importante deixar claro que antes de qualquer exposição, o artista precisa ter talento! Este aspecto é atemporal, não está sujeito a modismo ou novas tecnologias.

Nas últimas semanas tenho reservado ao menos 2 dias na semana para pesquisar novos artistas na web. E confesso que tenho encontrado muita gente boa e excelentes propostas artísticas. Ao longo dos meus 27 anos de mercado gospel sempre destaquei-me por acreditar e investir em jovens artistas. Este meu trabalho hoje em dia está ainda mais intenso e felizmente sendo facilitado pelas novidades tecnológicas.

Guiame: Apesar dos evangélicos ainda serem apontados como um público que consome menos pirataria, o mercado clandestino ainda é algo que precisa ser combatido. Quais estratégias a Sony Music Gospel tem adotado para fazer frente a essa prática ilegal?

Maurício: Falar de mercado pirata no universo fonográfico hoje em dia é algo meio anacrônico. A realidade é que com a chegada das plataformas de audio streaming como Spotify, Deezer e AppleMusic, não há muita lógica em ficar se utilizando de sites de downloads piratas. Com uma assinatura mensal o usuário tem acesso a mais de 30 milhões de faixas, ou seja, uma opção muito melhor do que ficar por aí baixando arquivos nem sempre confiáveis. A Sony Music sempre está antenada às demandas e oportunidades. No meio gospel do Brasil, somos a líder de market share no segmento digital e temos desenvolvido diversas iniciativas para manter esta posição.

Guiame: Ao passo que vemos artistas que seguem um ritmo de mercado, lançando discos anualmente, encontramos outros exemplos de cantores / bandas que preferem aguardar para lançar trabalhos que julguem ser relevantes, de fato. Como você enxerga esta questão? O que é melhor: acompanhar o mercado ou esperar por um trabalho de fato 'inspirado'?

Maurício: Como venho falando desde a primeira pergunta, o mercado mudou! O mundo mudou e com ele as estratégias e prioridades. Hoje em dia não estamos mais preocupados no lançamento de álbuns com 14 ou 16 faixas, mas focados cada vez mais no lançamento de singles e EPs, com isso a periodicidade de lançamentos pode diminuir drasticamente, ou seja, se antes um artista lançava um novo disco no intervalo de 18 meses, hoje em dia ele pode lançar uma nova canção a cada três (ou ate menos do que isso!) ou mesmo 6 meses. O importante é que estas músicas sejam sempre lançadas com a versão em vídeo e, claro! que tenham qualidade. No fim, tudo se resume ao hit … infelizmente certos artistas, especialmente no meio gospel, querem o sucesso pela insistência, quando deveriam buscar em primeiro lugar a música, a qualidade! Há o caso de um determinado artista que vem à lembrança neste momento … em que vem lançando ano a ano um CD/DVD … boa produção, bom cenário, tudo de muita qualidade e bom gosto, mas ele tem neglicenciado o mais importante, ou seja, a música! E o resultado disso é que nada emplaca nos últimos anos.

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