A menina sem nome

A menina certamente tem um nome. Mas não sei qual é. Sei o meu nome, você sabe o seu. Talvez devêssemos colocar nosso nome no testemunho dela e ver se encaixa, se combina, se tem a ver com a gente.

Fonte: Guiame, Edmilson MendesAtualizado: quinta-feira, 7 de janeiro de 2016 às 19:06

Aconteceu dia 04.01.16. Primeira segunda-feira deste novo ano. A noite fui fazer umas comprinhas no supermercado de costume. A Re e a Mari, que sempre vão, estavam devidamente ocupadas. Fui sozinho. Com exceção de alguns poucos itens que tive dificuldades para encontrar, me saí bem. Acho!

A surpresa, como sempre, ficou para o final. Cheguei ao caixa, enquanto o cliente à minha frente finalizava o pagamento, eu ia colocando na esteira a minha compra. Enquanto isso ouvia as trivialidades ditas entre a menina do caixa que iria me atender e a outra menina do caixa ao lado.

A conversa era alta e espontânea. Nada de constrangimentos ou algo vergonhoso a se esconder. E eu lá, tirando produtos do carrinho de compras e colocando na esteira. Até que a menina que iria começar a me atender soltou uma frase que me surpreendeu: Hoje já é dia 4, não vejo a hora de chegar dezembro, esse é o meu ano!

As lombrigas que se alimentam da minha curiosidade ficaram empolgadas. Afinal, ainda era 4 de janeiro! Aquela menina certamente participou de algumas festas de final de ano com familiares e amigos. Os sons dos fogos do réveillon ainda ecoavam... E ela já estava ansiosa por dezembro???

Não só “ansiosa”. A frase dela estava carregada de planos, projetos, sonhos, desejos, alegrias! A menina não estava nem um pingo preocupada com a crise do país, as incertezas da nação, nada! Em pleno 4 de janeiro aquela garota declarou sua motivação e sua meta: a chegada de dezembro.

Comecei a ser atendido por aquele rosto iluminado por tanta esperança e confiança demonstradas. A medida que ela passava os produtos eu me perguntava: será que ela vai casar? Só pode ser isso!... Mais três produtos e não resisti, decidi satisfazer minha curiosidade sem nenhuma cerimônia. Valeu a pena. O que de tão especial vai acontecer em dezembro que está deixando você tão feliz?

A resposta foi ainda mais firme do que a fala para a amiga dela. Com os olhos brilhando ela respondeu cheia de satisfação: No final deste ano vou prestar o meu vestibular!

Fiquei admirado. Errei feio no meu palpite. Já que comecei, continuei! Vai prestar pra quê? Jornalismo! A alegria e a convicção dela aumentavam a cada pergunta que eu fazia. Continuei sem vacilar: E você gosta? Ô! E o que você acha da nossa imprensa? Acho muito sensacionalista, buscam acontecimentos que garantam audiência, não fazem jornalismo com a ética que se espera.

Fiquei admirado. E agradecido. Ela continuou: Todo dia saio daqui – já eram 22h30 – Tomo meu ônibus e quando chego em casa mergulho nos livros. chegou minha vez, vou passar no vestibular, vou fazer minha faculdade e ser jornalista.

Compra concluída, estava pagando. Aí disse: Quando te ouvi pensei que seria seu casamento no final do ano... Sem esperar e com a mesma força, ela respondeu: Ainda não! Nem companheiro eu tenho, mas vou conseguir, tudo a seu tempo!

Paguei. Agradeci. Desejei sucesso e pedi a bênção de Deus pra ela. Fui embora e fiquei pensando naquela menina, um ser humano de fibra, uma garota determinada, sem nenhum traço de auto piedade, sem nada de complexo ou lamento, apenas foco, dedicação e entrega para seguir em frente.

De tão impressionado com a garra da menina, esqueci de perguntar seu nome. Não sei o nome dela. Mas sei de qualidades raras de se achar hoje em dia. Em meio a tantos indecisos, inseguros, cansados, derrotados, acovardados, conformados, encontrei uma garota que é o oposto, que pensa e age diferente, que faz diferença.

A menina certamente tem um nome. Mas não sei qual é. Sei o meu nome, você sabe o seu. Talvez devêssemos colocar nosso nome no testemunho dela e ver se encaixa, se combina, se tem a ver com a gente.

Te desejo um ótimo 2016 e que, como a certeza cheia de expectativas boas demonstrada pela menina, dezembro chegue logo, trazendo a concretização dos sonhos pelos quais oramos, lutamos e aguardamos.

Paz!

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