Esses dias estava pensando sobre minha tia materna, a única irmã de minha mãe. Minha tia faleceu há 17 anos e todos nós sentimos muito a falta que ela faz. Cada encontro em família, cada almoço que estamos juntos, cada evento importe nos lembra que ela não está aqui. Uma vez, ouvi uma pessoa explicando o luto como sendo um membro amputado, você aprende a viver sem ele, mas sempre vai fazer falta; e a sensação é exatamente essa.
Não posso mentir, minha família é como qualquer outra, tem seus defeitos, seus problemas, tem os desentendimentos, às vezes um fica de cara feia com o outro. Tem as vezes que não queremos entender o outro, que queremos ser mais duros e fechar o coração, tem as vezes que deixamos de aproveitar o dia, o almoço, a viagem, porque ficamos emburrados com isso ou chateados com aquilo. E não estou dizendo que não possa haver justiça no sentimento de um ou de outro. O que quero dizer é isso: o tempo é curto.
Será que se soubéssemos que teríamos apenas uma semana, mais um mês com alguém que amamos, não deixaríamos a briga de lado, não relevaríamos um dia ruim, o mau humor, um olho torto? Será que não perdoaríamos mais rápido? Será que não procuraríamos desesperados pela reconciliação? Afinal, o tempo é pouco, é precioso, precisaríamos aproveitar cada segundo.
Só que mesmo não sabendo quanto tempo nós temos ou quanto tempo nossos queridos têm, sem saber se são 50 anos ou 50 minutos, continuamos agindo com um coração duro e teimoso. Deixamos a mágoa durar mais que a alegria. Deixamos a teimosia tomar mais espaço que o perdão. Seguramos nossa posição com unhas e dentes e não queremos ceder. Mas e se essa pessoa se for amanhã? E se essa for a última conversa? E se você não puder se lembrar nem do último abraço?
Eu creio em Cristo, creio que Ele morreu e ressuscitou, creio que sua missão na Terra me oferece a oportunidade de vida eterna, creio que irei encontrar com a minha tia novamente, pela graça do Senhor Jesus. Mas não quero que as lembranças com a minha família sejam ruins, que sejam mais de problemas do que de sorrisos, que eu perceba que não perdoei, que não melhorei, que não ajudei, que não estive presente. Não quero de jeito nenhum perder rápido meus amados, quero que eles e eu estejamos por aqui até Jesus voltar (por que não?). No entanto, caso algo aconteça, quero lembrar com alegria das memórias, quero saber que fui a melhor pessoa que pude para cada um deles, quero ter a certeza de que eles sabiam que eram amados, quero que eles possam ter visto Cristo em mim.
Pensemos nas nossas escolhas, no legado que queremos deixar nos corações que nos rodeiam, porque quando um amado se for, mesmo os 50 anos terão sido poucos.
Mariana Mendes, casada com Leandro, autora de O Relógio de Nina. Membro da IAP do Parque. Filha do Pai e filha de pastor. Apaixonada por livros, por culinária e por observar os detalhes da vida, a fim de enxergar a rotina com novos olhares.
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