O programa de Pedro Bial que foi ao ar na última terça-feira, dia 17 deste mês pela rede Globo, trouxe à tona um debate sobre os cuidados paliativos no fim da vida, porém, trazendo implicitamente uma promoção do suicídio assistido como algo que representa uma suposta “evolução” judicial, moral e de saúde, tendo como exemplo países como a Suíça, onde decidir tirar a própria vida é uma prática legalizada pelo Estado.
Entre os convidados estiveram pessoas que optaram tirar a própria vida (na Suíça) por questões pessoais, como o diagnóstico de doenças incuráveis ou em estágio avançado, como o câncer. Prefiro não citar o nome dessas pessoas, por entender que há questões emocionais envolvidas nesse processo de decisão que não devem ser julgadas, mas sim compreendidas.
O foco da minha opinião está nos motivos que levam uma pessoa a desejar o suicídio assistido e a maneira como o programa abordou o assunto, tratando isso como uma opção viável e o Brasil como um país “atrasado” nesse quesito. A verdade é que pessoas como eu e outros conservadores que defendem o direito à vida a todo custo, terminam sendo retratados como retrógados e incapazes de compreender a dimensão do sofrimento envolvido em um processo de decisão como esse, pelo suicídio assistido.
A realidade é bem diferente. É justamente porque entendemos que todos nós desejamos viver, e viver o máximo possível, que defendemos a vida, mesmo nas condições mais difíceis. E não se trata de uma percepção nossa, apenas. Ou seja, de quem não está passando pela dor. Essa também é a opinião da absoluta maioria dos pacientes que estão em estágio terminal, e o motivo disso está em uma coisa chamada acolhimento.
Uma reportagem da CBC News publicada em 21 de junho desse ano mostrou que o número de pessoas que optaram pelo suicídio assistido aumentou 30% no Canadá após a legalização. Em 65% dos casos os pacientes estavam com câncer. A idade média dessas pessoas é de 73 anos de idade. Apenas nos últimos seis meses foram 1.523 mortes “assistidas”.
Agora, o que poucos sabem, exatamente porque esse não é o lado explorado pela grande mídia em sua maioria promotora da cultura de morte através de inúmeras práticas, como o aborto, é que a maioria desses pacientes relataram situações de sofrimento durante o tratamento das doenças. A falta de estrutura médica e principalmente apoio familiar são os principais “gatilhos” para a decisão de tirar a própria vida. Não é por acaso que a maioria são idosos. A sensação de estar abandonado e não ser mais “útil” para a família e sociedade em geral, revelam algo muito mais grave do que pensamos. Isso mostra que no lugar de tratar o sofrimento humano em sua origem, permitindo que tais pessoas possam lidar com o sofrimento de forma digna e acolhedora, o mundo está incentivando a morte delas. É assustador como a humanidade está se “desumanizando”!
É como se o mundo dissesse para tais pessoas: “Isso mesmo, já que vocês não servem mais e nos dão muito mais trabalhos e despesas do que alegrias, se matem. Nós estamos aqui para acelerar esse processo”.
Chocante? Talvez, apenas porque eu traduzi em palavras a intenção de muitos que aparecem com discursos polidos em programas como o de Pedro Bial, falando em nome dos “direitos humanos” e da “liberdade”, para o que realmente está por trás dessa intenção de aprovar a morte como uma opção. A narrativa dos “direitos” está sendo utilizada para sancionar a morte, do útero materno ao doente no leito de hospital.
Por outro lado, não podemos confundir os que desejam legalizar a morte com os que enxergam na morte uma solução para suas dores. Os próprios entrevistados do programa relataram situações que refletem nitidamente a importância da afetividade, acolhimento e apoio familiar como um divisor de águas nesse processo de ideação suicida “institucionalizada”, sendo capazes de fazer com que alguns desistam de tirar a própria vida.
Evitar o próprio sofrimento e também o de outras pessoas é algo muito forte que precisamos compreender, fazendo com que tais pessoas enxerguem, também, que até na dor há sentido de vida. Que o momento da morte não é maior do que o último minuto de vida ao lado de quem amamos ou do que amamos.
Enxergar sentido no sofrimento é um desafio, assim como lidar com os temores que todos nós temos diante da morte. Alguns simplesmente querem evitar essa angústia abreviando seus dias, como se não houvesse mais esperança e o temor da morte seduzisse mais do que o brilho do sol a cada manhã. O nosso papel enquanto sociedade é acolher o sofrimento, compreender e incentivar a vida, custe o que custar, mostrando que há sentido na vida de pessoas que pensam não haver mais esperança, especialmente para os que acreditam na existência de Deus e que para tudo há um propósito enquanto estivermos nessa terra.
Por Marisa Lobo - Psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora de livros, como "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
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