Como superar as gafes no ministério?

Havia chegado à Itália cheio de ideais, ansiando dar à luz à igreja dos meus sonhos. Mas não estava mais assim tão confiante depois de algumas gafes e furadas.

Fonte: Guiame, René BreuelAtualizado: terça-feira, 26 de março de 2024 às 18:00
(Foto: Unsplash/Wes Lewis)
(Foto: Unsplash/Wes Lewis)

Quando a minha esposa, um bebê e eu nos mudamos para Roma para começar uma nova igreja, o meu coração era cheio de idealismo. Imaginava pessoas descobrindo a beleza do evangelho, orando pela primeira vez e aprendendo a viver em comunidade.

Deus foi bom e abençoou a fundação da Igreja Hopera. Mas posso dizer que tivemos fiascos e atrapalhadas para chegar lá, também.

Teve o caso desastroso de meu primeiro sermão em italiano, por exemplo, que preguei na igreja de um amigo três meses depois de nossa chegada a Roma. Nutria sentimentos tão românticos a respeito — “meu primeiro sermão na língua em que vou anunciar o evangelho!” — que decidi preparar uma obra-prima de homilética. Depois percebi que tinha sido longo e confuso, um sermão-fiasco.

Cheguei à igreja com grandes expectativas. Duraram trinta segundos. A mulher do pastor nos disse que um casal da Inglaterra estava visitando a igreja e pediu que a minha esposa traduzisse o culto para eles, enquanto ela cuidava do Pietro.

Isso não vai dar certo, pensei. E não deu mesmo. A Sarah e eu, juntos, não damos conta do Pietro. Coitada da mulher do pastor. Ele se contorcia quando ela tentava segurá-lo. Quando comecei a falar, ele gritava em resposta, pensando, aparentemente, que se o pai estava falando era hora de falar. O cálculo daquele domingo foi:

A bagunça do Pietro

+ a mulher do pastor tentando domá-lo

+ o burburinho da Sarah traduzindo no meio da igreja

+ a genialidade do meu raciocínio

= um culto desastroso.

No meio do sermão, nem eu conseguia me concentrar. Vi duas alternativas ingratas na minha frente: prosseguir, mesmo que ninguém estivesse acompanhando o que eu estava dizendo, ou tentar minimizar o dano. Precisamos de uma solução dramática, pensei, então me interrompi, pedi que a Sarah parasse de traduzir e levasse o Pietro para fora. Que vergonha. Depois de minha intervenção, a matemática daquele domingo se tornou:

A Sarah me olhando feio

+ a birra do Pietro sendo levado para fora da igreja

+ a mulher do pastor sentando-se derrotada na primeira fila

+ os crentes desgostosos com minha família destruindo seu culto

= um ponto baixo na história do cristianismo.

Acha que não pode piorar? Claro que pode, e piorou, em um culto de Natal que celebrei depois. Naquela época, estávamos tentando ensinar o Pietro a usar o penico. Mas estávamos tão ávidos por nos livrar das fraldas que começamos a transição cedo demais. Meia hora antes do culto, notei que o Pietro precisava ser trocado. Levei-o ao banheiro. Tinha cocô. Tanto cocô que joguei sua cueca e sua calça no lixo; não tinham mais salvação. Tanto cocô que entupi a privada com a quantidade de papel higiênico que usei para limpá-lo. E uma parte do cocô encostou na minha camisa branca, deixando uma mancha marrom.

O pior foi que, depois de cheirar e encostar em tanto cocô, senti uma vontade urgente de ir ao banheiro também. Tinha entupido a privada dos homens, então me perguntei se poderia adiar o ato de alívio. Meu intestino respondeu: Tem que ser agora! Entrei no banheiro das mulheres. A porta não trancava naquele dia. Ai ai, pensei, torcendo, orando, para que nenhuma mulher desejasse usar o banheiro naquele momento. Você acha que o Céu me salvaria dessa? A porta abriu. A mulher do líder de louvor — a criatura mais meiga e delicada do mundo — me viu sentado no trono, gritou de horror e bateu a porta. Naquele Natal, preguei olhando só para um lado da igreja — o lado em que ela não estava — enquanto torcia para que as pessoas não adivinhassem porque minha camisa branquíssima tinha uma mancha marronzíssima.

Havia chegado à Itália cheio de ideais, ansiando dar à luz à igreja dos meus sonhos. Como conto em Não É Fácil Ser Pai, não estava mais assim tão confiante depois dessas gafes e furadas. Mas Deus foi bom e me mostrou que a graça de Cristo não é para pessoas perfeitas ou igrejas impecáveis.

É para mim e para você.

René Breuel é um escritor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai: Como domar os leõezinhos, não chatear sua esposa e recuperar (um pouco) a sanidade depois da paternidade, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

 

Leia o artigo anterior: Como falar mais de uma língua com seus filhos

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