Luiz Sayão: 'O 7 de outubro nunca deverá ser esquecido'

O respeitado teólogo e hebraísta Luiz Sayão apresenta um panorama sobre esta data fatídica, marcada por uma tragédia que atingiu profundamente tanto o povo judeu quanto os palestinos.

Fonte: Guiame, Silas AnastácioAtualizado: terça-feira, 7 de outubro de 2025 às 11:34
As tropas das IDF em operações terrestres na cidade de Gaza. (Foto: IDF)
As tropas das IDF em operações terrestres na cidade de Gaza. (Foto: IDF)

Acredito que o dia 7 de outubro jamais será apenas mais uma data no calendário. Será sempre lembrado como um marco de dor, tristeza, desespero e morte.

Neste 7 de outubro, infelizmente, não é diferente: parei para refletir sobre a tragédia que atingiu Israel – e o povo judeu – quando o grupo terrorista Hamas lançou um ataque brutal, resultando em mais de 1.200 mortes apenas naquele dia, em 2023.

Como estudante e pesquisador da cultura judaica, das profecias bíblicas e da escatologia – que trata dos eventos relacionados ao fim dos tempos –, conversei com o respeitado teólogo cristão e hebraísta Luiz Sayão para ouvir suas impressões sobre esta data fatídica, dois anos após o ataque.

Compartilho aqui a mensagem do Pastor Sayão como um convite à reflexão sobre este momento tão doloroso.

Sayão escreveu:

Poucos são os que entendem o cenário do Oriente Médio. Dia 7 de outubro de 2023! Que dor. Que desastre. Contra a decisão primeira da ONU de 1947, a maioria árabe rejeitou conviver com os judeus e com a formação de Israel. Mas a nação judaica democrática segue com mais de 2 milhões de árabes, além de abrigar outras minorias. A insistência jihadista é a destruição de Israel. Isso sempre respirou o Hamas. A entrega unilateral e definitiva de Gaza foi há 20 anos. Tudo era belo e próspero. Virou centro de terror.

O trágico 7 de outubro teve origem no regime do Irã. A intenção era um ataque completo a partir do sul, do norte, de dentro, com possível incursão de países vizinhos. Era a destruição de Israel. Não ocorreu: 'am Yisrael Chai. E as verdades são insofismáveis. A legitimidade de Israel está mais do que definida: os judeus não têm lugar seguro no mundo.

O antissemitismo virulento é latente. Milhares que nunca se importaram com os milhões que sofrem abuso no mundo e no Oriente Médio saem abertamente pedindo a destruição de Israel e dos judeus. Poucos entendem que a crescente paz entre Israel e países árabes é o principal temor da luta jihadista. Essa é a raiz da guerra iniciada pelo grupo extremista. O mais triste é saber que muitos cidadãos de Israel que foram trucidados tanto lutavam pelo bem dos palestinos. Gente pacífica e esperançosa de uma solução benéfica para todos. Que dor e que saudades dos abraços com sorrisos de meus amigos judeus e palestinos, regados a falafel e homus.

O que tanto me abate é como o mundo permitiu o desvio de bilhões de ajuda humanitária para a sofisticada rede de terror que condenou uma população à miséria e ao pesadelo dos martírios a favor de uma causa inaceitável. É claro que a resposta de Israel também dói muito. Nenhum conflito deve ser celebrado. Mas a sobrevivência do minúsculo país, do povo mais perseguido da Terra, segue como colossal desafio.

Em meio à dor chama-me a atenção o elemento estético do terror: a arte da morte. Os horrores filmados e divulgados pelos terroristas são apavorantes. Mas parece incompreensível eles terem feito questão de destruir a galeria de arte do kibutz Be'eri. Para quê?

O poder da arte vai além de explicações. A relação com o sagrado e a ética exige exímia ponderação. Toda ideologia má, religiosa ou não, muda o belo em abertura do inferno. O nazismo foi fruto da obsessão estética de Hitler. O documentário de Peter Cohen, Arquitetura da Destruição, mostra como o “sonho estético” se tornou o maior pesadelo humanitário da história. As ações jihadistas de destruição estética são bem conhecidas. A enfermidade "estética- ética-espiritual" da alma multiplicou loucas imagens adoecidas fazendo emergir as mais profundas forças do caos em todo o mundo. Um horror.

No Tanakh vemos que o Eterno criou tudo bom e bonito (tôv – Gn 1.31). Ele é Senhor de toda arte! Isso pode ser visto em Shmot 31.1-7. Ali Bezalel e Aoliabe são cheios do Espírito para fazer com arte o Mishkan.  Assim, vemos estética espacial no templo de Salomão, música elaborada nos Salmos e muita poesia trabalhada. Há até uma espécie de encenação teatral nos profetas (Ezequiel). Espiritualidade sem arte é corpo sem vida. A arte que oblitera o sagrado é morte. Toda estética sem ética merece reprimenda profética. Por isso, meu desejo maior deve ser contemplar a beleza/bondade do Eterno no santuário (Sl 27.4). É fascinante ver como a libertação de Israel do poder do faraó é coroada com a teofania estética do Eterno. Numa vitória redentiva contra o mal: externo (faraó) e interno (bezerro de ouro), o desejo de Moisés é ver a glória de HaShem. O texto fascina: “O Eterno respondeu: “Diante de você farei passar toda a minha BELEZA e diante de você proclamarei o meu nome: YHWH.” Beleza é tûv em hebraico, e bondade também. Só preciso da beleza e do NOME. Irei amar o belo, o bem e o santo. Se assim não for, resta o terror. Só a poesia iluminada pelo Sagrado pode fechar nossa ferida, e nos manter orando e sonhando com a paz.

Luiz Sayão – Teólogo Cristão e Hebraísta

 

Silas Anastácio é fundador do Ministério Davar, evangelista e expositor bíblico com sólida atuação há mais de uma década em temas relacionados ao Estado de Israel e à comunidade judaica. Também desempenha papel estratégico nos bastidores da mídia evangélica, contribuindo para a articulação e divulgação de conteúdos que fortalecem os valores da fé cristã.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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