A igreja como ela é

O maior objetivo da Igreja é ver-se aprovada por Deus e não pelos homens, por mais que tenha a perder com isso.

Fonte: Guiame, Ubirajara CrespoAtualizado: quinta-feira, 4 de abril de 2019 às 14:35
Ruínas de Pérgamo. (Foto: Siggy Nowak/Pixabay)
Ruínas de Pérgamo. (Foto: Siggy Nowak/Pixabay)

Pérgamo, a igreja favorecida. Apocalipse 2.13-17.

O destinatário

Pérgamo era a capital política e cultural da Ásia. A cidade possuía uma das maiores bibliotecas do mundo. Superada apenas por Alexandria. Isto nos mostra que não era uma cidade qualquer. Uma das atividades principais do local tinha a ver com o preparo de peles de animais para a escrita. Derivou-se daqui a palavra pergaminho. Muitos dos achados arqueológicos mostram como era importante este material onde muito da história antiga ficou registrada.

Pérgamo era também um reconhecido centro religioso. A idolatria era incentivada pelo sincretismo religioso, mas predominava o culto ao Imperador Romano. Talvez por isso a expressão Trono de Satanás apareça nesta carta. “Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Ap 2.13). Satanás fez de Pérgamo o centro de suas atividades, pois ele sempre escolhe um núcleo de onde estende seus tentáculos (Ap 17.8-10).

Religiões e organizações eclesiásticas fagocitam umas às outras e lentamente se transformam em uma só, o que é exatamente o que o anticristo pretende fazer. Nada mais restou daquela cidade, pois nos propósitos de Deus ainda não era o tempo certo de permitir, que Satanás criasse uma religião mundial e a cidade tinha condições de se tornar o centro religioso do mundo. A intervenção divina transformou Pérgamo, que é hoje um monte de ruínas imponentes. Sabendo da importância que Jerusalém tem para influenciar as nações, será exatamente nesta cidade, que ele financiará a construção do Templo. Logo trataremos deste assunto com maiores detalhes.         

A repreensão     

Pérgamo tem o significado de elevação ou casamento. Os problemas desta igreja estão ligados ao seu nome, pois a Igreja casou-se com o Estado, sendo influenciada por seus interesses políticos. Houve conchavos e compromissos que a Igreja assumiu, trazendo para seus bastidores, alguns costumes que nada tinham a ver com a filosofia de vida ensinada por Jesus. Refiro-me ao uso da numerologia cabalística para montar um mar de poeiras proféticas sobre o final dos tempos.

A Igreja de Pérgamo celebrou seu próprio casamento com o estado, ato que foi oficiado pelo imperador Constantino. Foi assim que a Igreja passou a ser a religião oficial do Império Romano. Constantino decretou o batismo de todos, inclusive crianças. Com a suposta conversão do Imperador ao cristianismo, todo mundo se viu obrigado a pertencer à Igreja Romana. O batismo de todos foi decidido por um decreto imperial e não como resultado de genuína conversão.

Aos poucos a Igreja foi se adaptando à prática litúrgica de seus novos membros. Vale a pena estudar mais profundamente a história de Balaão. Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e fornicasse (Ap 2:14).

Balaão era um homem com algum entendimento das coisas do mundo espiritual e levou o povo israelita a se ajuntarem com as mulheres moabitas e isto fez com que, aos poucos, o povo fosse assimilando a religião de suas mulheres pagãs. O pecado do povo de uma nação abre janelas por onde entram os demônios.

A igreja perseguida (Esmirna) foi substituída pela igreja favorecida. Quando somos favorecidos por Deus, somos perseguidos pelos homens e vice-versa. Uma igreja que busca favores humanos acaba comprometendo-se com suas práticas. É a lei da reciprocidade: Eu dou, mas também quero algo de você.

Havia os Nicolaítas que podem ter sido os prepulsores do sacerdotalismo. “Assim tens também alguns que seguem a doutrina dos Nicolaítas” (Ap.2.15). Nicolaítas - laicos - leigos. Iniciando assim a separação entre leigos e clero. O sacerdote era um cargo de confiança do governo, ganhava favores que não eram alcançados pelo homem comum, mas colaborava com o governo e recebia prêmios em troca de sua colaboração. Foi assim que começou a guerra dos cargos.    

Pérgamo era uma mistura de domínio humano com ocultismo. Introduziram-se na Igreja alguns costumes pagãos que vigoravam livremente na cidade onde ela estava inserida. Acreditavam que o homem tem poderes psíquicos que precisam ser desenvolvidos. Afirmava-se que na medida em que estes poderes são desenvolvidos, algo, que mensageiros de satanás infiltrados na Igreja de hoje oferecem. Ensinam que a mente humana pode se associar a um demônio capaz de turbinar o seu poder mental e físico. O homem torna-se um deus e passa a utilizar todo o potencial latente escondido em seu interior. Esta é a versão moderna da promessa feita pela serpente a Adão: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (Gn 3:5).

Buscavam desenvolver juntamente com esses poderes psíquicos, poderes mediúnicos. É a capacidade de comunicar-se com seres espirituais. Desta forma, torna-se capaz de captar energias emitidas por estes seres. Hoje vemos este mesmo ensino sendo repetido pela Nova Era.

O remetente (v.12)

Ele tem uma espada de dois gumes. Mais uma vez, Jesus se apresenta a sua Igreja e Sempre ressaltando uma das formas pelas quais se apresentou a João no capítulo um. A espada que sai da sua boca simboliza o tipo de critério utilizado por Ele para julgar a Igreja. Este critério é a própria Palavra de Deus.

Esta Igreja é convidada a se arrepender de seus erros e de sua prostituição cultual. A noiva de Cristo anda agora namorando o Estado e outros poderes institucionais. Podemos nos infiltrar, mas não ser absorvidos. Ou há arrependimento sincero ou se enfrenta a espada do Senhor (v.16). Todos serão confrontados com a Palavra de Deus que é uma espada afiada de dois gumes (Hb. 4.12).

A Igreja acabou sendo seduzida por instituições que ela mesma criou. Trata-se das convenções, das escolas e dos hospitais que se tornaram o orgulho de algumas denominações, que têm muita estrutura para apresentar, mas pouco poder.

Se pastores e membros da Igreja convivem bem com as instituições que gerou, ganham algumas facilidades. Coisas como escola grátis para seu filho, desconto nas livrarias, etc. Os privilégios e honrarias são concedidos para todos aqueles que andarem conforme manda o figurino da sua denominação, que nem sempre está cem por cento de acordo com a Bíblia.

Na realidade, neste aspecto, corre-se um sério perigo: A denominação, que deveria ser servidora das Igrejas locais, acaba servindo-se delas. Ao invés de proporcionar às Igrejas a cobertura necessária em termos de recursos humanos e materiais, a denominação acaba exigindo delas os recursos para a sua própria manutenção.

Desta forma, a comunidade local perde toda a capacidade de produzir mobilizações geradas por ela mesma. Passa a depender inteiramente da administração central, pois todos os recursos estão lá. É assim que formamos nossos gigantes e eles acabam nos esmagando.

A igreja aprovada e favorecida pelos homens se opõe à igreja vencedora. O maior objetivo da Igreja é ver-se aprovada por Deus e não pelos homens, por mais que tenha a perder com isso. Uma Igreja assim acaba caindo na graça do povo, pois tem beleza coletiva suficiente para atrair a admiração de todas as pessoas.

“E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos” (At.2.45-47).

Por Ubirajara Crespo, pastor, conferencista, editor e autor dos livros “Qual o limite para o sofrimento” e “Rota de colisão”.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

 

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