Academia de ginástica vira brincadeira para bebês

Academia de ginástica vira brincadeira para bebês

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:24

Piscina de bolinhas, brinquedos multicoloridos e muitas crianças passaram a fazer parte do universo de dois jovens paulistas, solteiros e sem filhos. Leandro Japequino, 33 anos, e Daniel Arruda, 32 anos, decidiram investir quase R$ 2 milhões para trazer ao Brasil a My Gym. Eles se tornaram master franqueados na América do Sul da rede de academia de ginástica especializada em bebês e crianças. Fundada há 26 anos, a empresa americana possui 280 unidades em 27 países e atende crianças de seis semanas a 13 anosde idade.

A aposta na malhação infantil partiu de Japequino, um advogado por formação e empresário por natureza. Ele diz que percebeu uma oportunidade de negócio ao observar que muitas crianças deixam de aprender algumas habilidades por não participarem mais de brincadeiras de rua. "Brincar de roda, entre outras brincadeiras coletivas, ensinam à criança noções como em cima, embaixo, atrás, ao lado", diz o sócio-diretor da My Gym Brasil. "Mas muitas crianças não aprendem isso, porque ficam muito tempo em frente à televisão ou jogando videogame."

Negócio próprio

Em sua história pessoal, o advogado se mostra um empreendedor nato. Ele gosta de assumir riscos, tem apetite por oportunidades de negócio e habilidade para estudar e montar projetos. A academia de ginástica já é seu quinto empreendimento. Com 22 anos e R$ 1.000, abriu um escritório de advocacia em Itaquera, bairro da capital paulista onde nasceu. Só fechou a firma, porque precisou dedicar todo seu tempo à nova empresa. "Decidi montar um negócio próprio que não dependesse totalmente de mim, como era o escritório", afirma o empresário.

Nesses últimos 11 anos, além do escritório, Japequino investiu em outros projetos que acabaram fechando. O primeiro investimento foi em uma empresa de reciclagem de pneus. Com a mudança da legislação do setor, a empresa teve de ser encerrada. Depois, apostou em um estacionamento, chamado Fast Track. "Tive a idéia do estacionamento depois de andar em um brinquedo na Disney com esse nome", lembra. O terceiro empreendimento foi um site de venda de produtos brasileiros no mercado interno e externo, chamado Special Brazil. "Nesse caso, eu dependia de um empregado, que acabou se desligando."

Há quatro anos, Japequino decidiu ingressar no mercado de fitness com dois amigos e abriu uma academia de ginástica em Campinas e outra em Mogi das Cruzes, no interior paulista. Passados alguns anos, a sociedade deixou de interessá-lo. Na divisão da empresa, ele acabou ficando com a unidade da Corpo 10 em Mogi com o plano original de transformar a marca em uma rede de franquias e multiplicar a empresa pelo Brasil. Ele então, estudou o assunto, fez o plano de negócios mas decidiu não ir adiante. "Montar uma franquia exige a criação de todas as normas e padrões que os franqueados terão de seguir. Achei mais fácil ser franqueado do que franqueador. Estava na hora de ganhar dinheiro e parar de investir tanto", afirma. Ele acabou transformando a Corpo 10 em uma filial da Runner, a primeira franquia da rede de academias de São Paulo. Hoje, emprega 46 funcionários, possui 1.200 alunos e um faturamento, aproximado, de R$ 80 mil por mês.

Já o sócio Daniel Arruda está estreando como empresário. "Sempre quis ter meu negócio próprio", diz, o engenheiro químico especializado em marketing. Quando criança, Arruda roubava ingredientes na cozinha da mãe para fabricar sorvete e vendê-lo com um amigo no prédio onde morava. Como engenheiro químico, sempre pensou que trilharia o caminho normal para profissionais com sua formação. Ou seja, trabalharia em grandes empresas para, depois de anos, abrir uma consultoria.

Os investimentos para trazer a My Gym ao Brasil e assumir a função de master fraqueados não foram baixos. Somando os gastos com royalties, a importação de todos os equipamentos e brinquedos para as aulas, treinamentos nos Estados Unidos e reforma do prédio onde fica o escritório-sede e a primeira academia, os dois sócios já desembolsaram mais de R$ 1,65 milhão.

O plano agora é criar uma rede My Gym na capital e arredores. A meta é ter 30 franquias vendidas em três anos. Dois contratos já foram fechados, um no bairro do Tatuapé, na capital paulista, e outro em São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo. O investimento dos franqueados fica entre R$ 200 mil e R$ 250 mil, e o retorno chega entre 18 e 20 meses, dizem os sócios. "Nossa meta é oferecer uma franquia low cost", diz Japequino. A fabricação dos equipamentos e brinquedos no Brasil é uma das iniciativas que deverão reduzir o custo. Para importar o material da matriz nos Estados Unidos, os sócios desembolsaram duas vezes o preço das mercadorias em razão dos impostos. "Com o dinheiro que gastamos, dava pra ter equipado três academias", diz Arruda.

Cada unidade terá capacidade para atender 600 alunos. Na primeira unidade, dirigida pelo próprio Japequino, 60 crianças freqüentam regularmente, pagando mensalidades que variam de R$ 179 a R$ 400, de acordo com o plano escolhido pelos pais.

"Nosso desafio agora é a qualidade das aulas", afirma Arruda. Regularmente, os instrutores realizam reuniões de avaliação e respondem a um check-list. Além disso, as aulas são gravadas e assistidas por supervisores na sede da empresa nos Estados Unidos. Quando necessário, os americanos fazem contato e pedem correções e melhorias.

No Brasil, as aulas são um pouco diferentes das classes nos outros países. Canções e brincadeiras tiveram de ser adaptadas à realidade nacional. "Algumas rotinas e atividades não fazem sentido pra gente. Tivemos de mudar do nome dos grupos até o horário das aulas", diz Japequino.

As turminhas são organizadas por faixa etária, ou melhor, períodos de desenvolvimento, como prega a My Gym. São nove grupos: Fraldinha (de 6 semanas a 6 meses), Pequeninos (7 a 13 meses), Mini Pingüins (14 a 22 meses), Ginastinhas (23 meses a 2 anos e meio), Pequenos Fantásticos (2 anos e meio a 3 anos e 3 meses, Super Formiguinhas (3 anos e três meses a 4 anos e meio), Garotos Prodígios (4 anos e meio a 6 anos), Campeões (6 a 8 anos) e Cardio Kids (7 a 13 anos). No grupo dos Fraldinhas, a ginástica constitui-se de massagens e estimulações. E, no final da aula, mães e pais discutem algum tema pertinente ao universo dos pequenos ginastas. Independente do período de desenvolvimento, o objetivo da aula é desenvolver habilidade físicas, sociais, cognitivas e emocionais.

Divergências

Os dois sócios se conheceram há três anos em um programa de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. "No fim do curso da FGV, descobri que o que realmente gosto é de construir coisas", afirma Japequino. Tempos depois, eles se reencontraram em uma imersão em empreendedorismo de três semanas no Babson College, em Massachussetts, Estados Unidos. Nas aulas, os alunos analisavam negócios em contato direto com executivos que estão ou estiveram à frente de grandes empresas. Numa das aulas, tiveram de analisar o caso da Polaroid. Depois de toda a turma dar sua opinião, ex-diretores da empresa entraram para explicar o porquê de algumas ações. "Todo mundo ficou quieto quando entraram aqueles executivos, alguns já velhinhos", lembra Arruda. Em outra aula, assistiram a uma palestra do ex-chefe no BankBoston de Henrique Meirelles, do presidente do Banco Central do Brasil.

Amigos há poucos anos, Japequino e Arruda ainda estão se conhecendo. Em muitos momentos da conversa, eles divergem sobre números, metas, perspectivas de crescimento. O advogado é muito mais ousado: traça metas mais arrojadas e prevê uma expansão mais acelerada das franquias para outras regiões e até mesmo países, visto que a licença é para a América do Sul. Como engenheiro, Arruda faz mais contas e pisa um pouco no freio. Apesar da divergência em alguns pontos, os dois concordam de forma uníssona em um ponto: não existe negócio sem risco. Se o empresário esperar para ter 100% de certeza que o projeto vai dar certo, já deu errado. "Alguém já teve a mesma idéia e implementou antes", diz Arruda.

Por: Karla Spotorno

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