Natal é tempo de fé, família, presentes e?quilos a mais. Não tem jeito. Desde novembro os supermercados estão lotados de panetones, pendurados até no teto. Eu não gosto muito do panetone tradicional - e isso até pouco tempo me alegrava. Infelizmente inventaram o chocotone. E, este ano, fui atropelada pelo criminoso panetone Alpino. Como diz uma amiga, "esse é pra comer de joelhos". Então ainda faltam duas semanas para o Natal, mas aqui em casa dois panetones já foram destruídos.
O pior, no entanto, ainda está por vir. São as rabanadas da noite de Natal. Quem inventou a rabanada com certeza pensou assim: como criar algo que reúna todos os procedimentos mais engordativos do planeta? Pão. Açúcar. Leite condensado. Tudo isso frito. Acho, inclusive, que ficou conhecido como rabanada porque dá um verdadeiro chega pra lá em qualquer tentativa de se ficar em forma. Agora, tem graça Natal sem rabanada? E a rabanada do dia seguinte, de manhã, geladinha? Eu caio dentro, e depois passo o resto do dia enjoada. E culpada, claro.
(Sou tão apaixonada por rabanadas que, quando eu estava grávida, foi o único desejo que tive. Ainda não era tempo de Natal, mas eu pensava nelas o tempo todo. Até que uma tia-avó, provavelmente penalizada, fez um pratão de rabanadas pra mim. Eram umas 30. E eu comi todas de uma vez só, talvez em quinze minutos. Pensei em tentar o Guiness, mas depois acabei esquecendo. O desfecho nojento da história: naquela madrugada, Mike Tyson lutou contra Evander Hollyfield , aquele embate histórico. Acordei com os comentários do meu então marido de que Tyson tinha abocanhado a orelha do adversário. Ao ver as cenas, ainda sonolenta, coloquei todas as rabanadas pra fora. Argh.)
Continuando: como se não bastasse, ainda há os fios d'ovos. Peru sem fios d'ovos não é a mesma coisa. Melhor ainda se estiverem bem melados. Tudo isso regado a um bom vinho. Brindar ao nascimento de Jesus com água é que não dá!
Essa é, com certeza, uma aflição das pessoas do mundo todo - principalmente das mulheres, que vivem brigando com a balança. Na Inglaterra, a British Dietetic Association fez uma pesquisa e constatou que - só na noite de Natal! - são ingeridas 3 mil calorias a mais do que uma refeição normal àquela hora. Nos dois dias, 24 e 25, ganha-se, em média dois quilos e meio na balança. E - essa é a pior parte - mais da metade desses indivíduos não consegue perder esse peso extra no ano seguinte. E alguns nunca mais.
Mas é preciso dizer o seguinte: nesta época do ano, as mulheres inglesas, eurpéias e habitantes do hemisfério norte estão absolutamente cobertas de roupas, casacos, cachecóis, meias e botas.
Enquanto a gente, aqui no Brasil, está de biquíni na praia!
Isso não é justo. Não é.
Passar uma vida inteira celebrando o Natal no verão, especialmente quando se mora no Rio de Janeiro, é um sacrifício absurdo. Uma verdadeira escolha de sofia: a rabanada ou a barriguinha 0%? Eu, particularmente, sofro ainda mais, porque dezembro é o mês do meu aniversário, do aniversário do meu filho e o da minha sogra. Haja bolo e brigadeiro pra resistir. E, pra ser sincera, eu não resisto.
Quando eu não tinha filhos, era mais fácil. Eu chegava na praia de canga e, quando tirava, deitava rapidinho na areia e ficava ali, tostando, com a minha barriguinha plana, lisinha. Mas sendo mãe é diferente: é preciso ficar de pé ou pelo menos sentada na cadeira, vendo se os guris não estão se afogando no mar. Eu prefiro ficar de pé. Sentada a barriga fica muito pior?
Na próxima encarnação, eu venho homem nascido no hemisfério norte, de preferência na Finlândia, onde em dezembro não se tira a roupa nem pra fazer aquilo. Ou então serei uma daquelas mulheres que nas Festas comem só a parte branca do peru com saladinha e ainda te dizem "eu não ligo pra doce?". Mas nessa vida aqui, vou te contar, tem sido uma provação que nem Jesus aguentaria! Afasta de mim esse cálice!
por Martha Mendonça