São 5 da manhã e você está tendo um sonho delicioso. De repente, sente um pé minúsculo passando pelas suas costas e uma mãozinha encostada no seu ombro. Aí você acorda e descobre que aquele ser fofo de 3 anos se encaixou no meio da cama e já caiu num sono profundo. E agora?
E agora você ou seu marido - deveria se levantar, se despedir por um momento do edredom gostoso e levar a criança de volta para a cama dela. Sentar um pouco ao seu lado, cantar ou contar uma história até que ela pegue no sono de novo. Mas o que você mais quer é virar para o lado e voltar àquele sonho em que estava antes da interrupção.
É normal a criança procurar o seu ninho. Ela quer se aconchegar, se sentir protegida e querida. Principalmente naquelas fases em que tem medo de escuro, medo de crescer ou medo de perder o amor dos pais. Se o casal está em crise, a criança pode perceber isso e achar que, estando sempre junto, irá garantir que seus pais vão ficar com ela.
E, na verdade, o fato dos filhos dormirem na cama dos pais pode ser um sintoma de crise entre o casal. "Às vezes o problema do casal se reflete na vontade de ter um terceiro entre eles", explica a psicoterapeuta Érica Brandt, mãe de Rodrigo e Carolina.
Claro que, se a criança dorme uma vez com os pais, não significa que a relação vai mal. Mas se o pai ou mãe insiste em levar o filho para a cama, aí, sim, é problema. Principalmente se isso acontece por meses ou até anos.
Mas existem outros motivos para os pais quererem o filho na mesma cama. Algumas mães têm dificuldade de se separar da cria. E aí vem o problema: a criança não adquire autonomia. "Ela tem de desenvolver a sua individualidade", explica Érica. E esse grude com os pais vai atrasar o seu crescimento.
Outro motivo para deixar a criança dormir ali, bem no meio, é a dificuldade de frustrá-la. A hora de dizer não é sempre complicada. "O que está sendo colocado é que tem o lugar do adulto, do qual a criança não deve participar. Isso envolve ciúme, inveja e frustração para a criança", diz a psicanalista Vera Iaconelli, mãe de Gabriela e Mariana.
O relacionamento dos pais sofre quando dorme todo mundo junto. Se eles não estavam em crise antes, agora podem entrar. Primeiro, porque perdem a privacidade. Segundo, porque muitas vezes a mulherquer a criança na cama, e o marido não quer. OU vice-versa. Aí o pai ressente com a presença do filho, e fica insatisfeito com a muçher. Também tem o fator dormir mal - afinal de contas a cama de casal éfeita para duas pessoas, e não três.
"O quarto da criança precisa ser o mundo mágico dela, onde ela brinca, dorme, conversa com os brinquedos, e o quarto dos pais precisa ser um quarto de encontro do casal. Cada um precisa do seu espaço", explica Érica.
Para quem já deixou o pequeno invadir a cama uma vez, fica bem mais difícil mudar a regra. O ideal é não se deixar: vencer pela preguiça e ser firme. Pode ser um processo cansativo, que envolva algumas noites em claro, mas logo o filho aprende. "A criança desiste quando percebe que os pais são irredutíveis, como em qualquer birra", explica Vera. A psicanalista ainda orienta os pais a fazerem um rodízio nas madrugadas e conversarem com a criança dizendo que ela já está grande. "Coloque o crescimento como um ganho, não como uma perda".
Com um pouco de paciência, você poderá ter de novo uma boa noite de sono (ou algo mais). Seu casamento vai agradecer.