Que mãe nunca pensou em ouvir uma conversa do filho adolescente pelo telefone ou fuçar no armário dele? A adolescência é um período bem confuso, tanto na vida dos jovens como na das mães. E, curiosas sobre o que anda acontecendo no mundo do filho que está crescendo, muitas passam do pensamento à ação. Mas qual o ponto que separa o monitoramento da invasão de privacidade?
Segundo Maria Cristina Capobianco, psicóloga especialista em comportamento infantil e adolescente, a privacidade é vital para o adolescente. Invadi-la ouvindo conversas e lendo diários sem o conhecimento dele pode produzir um efeito inesperado. Vasculhar a privacidade deles não é a melhor maneira de se aproximar ou de acompanhá-los mais de perto, diz.
O ideal, na verdade, é fazer parte da vida do filho de forma consistente desde a infância, ouvindo tudo o que ele tem a dizer e dando espaço para a comunicação. Se monitorá-lo principalmente na adolescência também é necessário, isto deve ser feito de forma saudável e respeitadora.
De acordo com a psicopedagoga Elizabeth Monteiro, autora do livro Criando adolescentes em tempos difíceis (Summus Editorial), o adolescente não quer que o adulto concorde e aceite tudo. Ele quer mesmo é ter a garantia de que é ouvido e entendido. E agir é sempre melhor do que apenas falar. Os filhos precisam de bons modelos. Não adianta exigir respeito e bom comportamento se não tratá-lo desta forma, afirma a especialista. Por isso, em vez de um longo sermão antes da balada ou telefonemas de cinco em cinco minutos para saber se ele está bem, o melhor é se oferecer para buscá-lo no fim da festa, em um horário pré-combinado. Pais que confiam em seus filhos raramente são traídos, pois os filhos temem decepcioná-los.
Mudanças de comportamento e diário dando sopa
Porém, nem sempre é possível seguir as regras de boa conduta e, se surgirem brechas para desvendar de vez o que acontece na vida do filho, que mãe seria capaz de se segurar? Não foi o caso da técnica em bioquímica Monica Teixeira Chaves Pereira, de 36 anos. Quando a filha Gabriela tinha 13 anos, Monica soube que ela tinha arrumado um namorado um ano mais velho. Ao mesmo tempo, vinha percebendo uma mudança de comportamento da filha: Fiquei com uma pulga atrás da orelha, conta. E não foi à toa.
Hoje Gabriela já está com 18 anos e a mãe não passa mais por esse tipo de problema, mas na época, enquanto ela chegava mais tarde da escola e não queria mais fazer as aulas de Educação Física por conta do novo namorado, Monica se preocupava. Era coisa de adolescente, mas acabei descobrindo que o menino queria mandar nela, tinha senhas de blogs e redes sociais dela e interferia como bem entendesse, ao mesmo tempo em que ela andava mais quietinha comigo, diz. Se a filha mal andava falando com a mãe, como Monica descobriu tudo isso? Pelo diário de Gabriela, que estava dando sopa em cima da cama da menina.
Monica não contou para a filha que tinha lido os registros do diário. Gabriela só veio a saber anos depois. Eu disse para a Gabi que estava percebendo algumas coisas em relação ao menino e não estava gostando, que estive observando-a e vendo as páginas dela da internet e tivemos uma conversa bem legal, em que eu disse que ela não podia ser dominada por ele em hipótese alguma. E deu certo. Eu me senti muito culpada, diz. Mas também acho que, se ela deixou o diário à vista, queria que eu o visse.
Curiosidade ou necessidade?
Embora os filhos esperem ser monitorados, é preciso ter bom senso para não cair no ridículo. Quando tiver alguma suspeita, o psicólogo Bruno Weinberg, orientador educacional do Colégio I. L. Peretz, de São Paulo, aconselha separar o desejo de saber da necessidade de saber. Saber se o seu filho está namorando é um desejo pessoal você está apenas curiosa a respeito e quer contar para toda a família ou uma necessidade ele mudou de comportamento, parece mais aéreo e piorou no rendimento escolar? Esta é uma regra básica e ajuda a mostrar até que ponto os pais podem entrar na vida dos filhos sem serem invasivos.
Para Elizabeth, é melhor pecar pelo excesso de zelo do que pela falta. Mas o monitoramento não deve ultrapassar as barreiras naturais, a não ser em casos de extrema necessidade, como a suspeita de um envolvimento com drogas, por exemplo. E também é saudável os adolescentes manterem alguns segredos em relação aos pais. Faz parte do tornar-se adulto, quando os pais não decidem e sabem mais tudo sobre os filhos, pontua a psicóloga Maria Cristina.
É importante e necessário que os pais saibam como o filho está se saindo dentro dos diversos âmbitos da vida dele rendimento escolar, mudanças de comportamento, se sai muito com um grupo específico de amigos, se fica muito em casa sozinho, entre outros aspectos. De acordo com o psicólogo Bruno Weinberg, alguns dados relevantes da vida dos filhos adolescentes são sinais: Os filhos mandam recados de ajuda, de uma forma ou de outra, aos pais. E eles precisam ser sensíveis para conseguirem enxergar e estarem presentes, mas procurando sempre respeitar a autonomia e o desenvolvimento da responsabilidade do filho.
fonte: Delas