Setenta e seis anos depois que os nazistas prenderam o rabino Nathan Cassuto e a cristã Matilda Cassin, eles foram homenageados em uma cerimônia em Jerusalém pelo Comitê de Reconhecimento de Heroísmo dos Judeus.
Cassuto e Cassin eram membros de um grupo antinazista em Florença, na Itália, estabelecido pelo rabino-chefe da cidade, juntamente com o arcebispo Elia Angelo Dalla Costa. Com o apoio do grupo, eles salvaram centenas de judeus que seriam deportados para campos de concentração, os escondendo em instituições católicas e com famílias italianas.
As homenagens foram apresentadas ao filho de Cassin, Asher Varadi Cassin, e ao filho de Cassuto, David.
“Cassuto e outros membros de seu grupo de resgate [judaico-cristão] foram presos pela Schutzstaffel (organização paramilitar ligada a Adolf Hitler) na sede da Azione Cattolica em Florença, enquanto planejavam futuras atividades de resgate, devido a um informante”, explicou a organização B'nai B'rith International.
“Cassuto foi deportado para Auschwitz, onde ele morreu. Cassin se entregou à polícia para libertar sua família que havia sido presa, permanecendo sob custódia até janeiro de 1944, quando foi libertada, fugindo mais tarde para a Suíça”, acrescentou.
A Igreja e o Holocausto
O arcebispo Pierbattista Pizzaballa, chefe do Patriarcado Latino de Jerusalém, sentiu-se grato pela oportunidade de falar no evento, “já que não é habitual que um representante da Igreja Católica seja convidado a falar em um evento em memória da Holocausto”.
“Quando nos aproximamos do Holocausto, nós, europeus de origem católica, não podemos deixar de sentir desconforto”, disse ele. “A questão da Igreja e do Holocausto — e de maneira mais geral, a Igreja e o Judaísmo — nunca foi um assunto fácil, mas cheio de mágoas e feridas profundas”.
O arcebispo explicou que a Igreja ainda não concluiu “sua leitura do que aconteceu durante o Holocausto”.
“Mesmo se for discutido menos hoje, esse período permanece como uma pedra em nosso relacionamento”, continuou Pizzaballa. “Enquanto alguns cristãos — entre eles católicos, incluindo clérigos — cooperaram com judeus para resgatar judeus da deportação, devemos reconhecer o silêncio de muitos outros católicos”.
Ele ressaltou que, embora a Igreja não fosse diretamente responsável pelo Holocausto, “devemos reconhecer que o ‘ensino do desprezo’ que emanou por centenas de anos também era da Igreja e influenciou a mentalidade das populações europeias — o que contribuiu, infelizmente, ao que aconteceu”.
O embaixador italiano em Israel, Gianluigi Benedetti, disse aos participantes que “é hora de corrigir o equívoco comum de que os judeus não ajudaram significativamente a resgatar outros judeus durante o Holocausto”.
“As ações do rabino Cassuto e Matilde Cassin foram luzes na escuridão que nunca serão esquecidas”, disse Benedetti.