Uma delegação ministerial árabe planeja viajar ao Brasil em janeiro para convencer o presidente Jair Bolsonaro a não transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, disse uma fonte oficial palestina ao jornal The Times of Israel na quinta-feira (27).
No início deste mês, a Liga Árabe convocou uma reunião para discutir a possível realocação da embaixada brasileira em Israel.
Em um comunicado após a reunião, a Liga Árabe pediu a “Bolsonaro que se abstenha de tomar quaisquer posições que prejudiquem o status legal da Cidade Santa de Jerusalém”.
Em novembro, Bolsonaro anunciou que pretende transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. “Como dito anteriormente durante nossa campanha, pretendemos transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém”, escreveu Bolsonaro no Twitter em 1º de novembro. “Israel é um Estado soberano e nós devemos respeitar isso”.
Em viagem aos Estados Unidos, o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, confirmou a informação durante entrevista ao canal de TV Fox News que a embaixada seria realocada, mas que o prazo para a decisão não foi definido.
Brasil e Israel
Jair Bolsonaro toma posse em seu novo cargo no dia 1º de janeiro com a presença de diversos líderes mundiais, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que já está no país, onde deverá se reunir com o futuro presidente nesta sexta-feira (28).
A visita de Netanyahu ao Brasil pode ser entendida como um agradecimento a Bolsonaro pela decisão que pretende tomar. O governo israelense considera toda Jerusalém sua capital e encorajou os países a realocarem suas embaixadas para lá. Enquanto isso, os palestinos buscam Jerusalém Oriental como a capital de um futuro estado palestino.
Em declaração recente Bolsonaro disse que se opõe à existência da embaixada palestina em Brasília, de acordo com a Agência Telegráfica Judaica.
Brasil e EUA
Em dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, irritando a liderança palestina baseada em Ramallah. A embaixada dos EUA foi transferida para Jerusalém em maio de 2018.
Durante sua campanha presidencial, Jair Bolsonaro, influenciado pela decisão americana disse que tomaria decisão semelhante. O candidato recebeu apoio interno da bancada evangélica que compõe o Congresso Nacional e de lideranças evangélicas que defendem e acreditam que Jerusalém é, desde os tempos bíblicos, a capital de Israel.
A decisão americana for marcada por protestos no mundo árabe. Pouco depois do anúncio de Trump, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou que os palestinos não vão mais trabalhar com um processo de paz dominado pelos americanos e pediu o estabelecimento de um mecanismo multilateral para isso.
Em novembro, durante reunião da Organização das Nações Unidas, o embaixador palestino na ONU, Ibrahim Khraishi, disse em entrevista apostar que a mudança não vai ocorrer.
Na ocasião, autoridades palestinas disseram esperar que o presidente eleito tenha “sabedoria” ao tomar sua decisão sobre o futuro da embaixada do Brasil em Israel.
Em função da mudança da capital pelos americanos, no ano passado os palestinos cortaram seus laços com o governo de Donald Trump, exceto aqueles relacionados à segurança, disse Azzam al-Ahmad, um alto funcionário da Fatah e da OLP, em uma entrevista em seu escritório em Ramallah, no começo de dezembro.
Autoridades palestinas dizem que o Brasil e os palestinos mantêm relações sólidas. Em 2010, durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva, o Brasil reconheceu oficialmente o Estado da Palestina.