Um vídeo do pastor Eleasín Torres, missionário por 48 anos no Haiti, está circulando nas redes sociais como um alerta para o momento que o país caribenho está atravessando — o pior de sua história — como ele menciona.
“Vários bairros onde há igrejas estabelecidas foram ocupados por gangues criminosas. Em alguns locais de Porto Príncipe, deram 72 horas para evacuação. Uma igreja de 50 anos foi fechada e os cristãos tiveram que fugir”, ele contou.
“A morte ronda por todos os lugares”, disse o pastor ao pedir orações a todos e um jejum internacional aos cristãos de Porto Rico, em favor do povo haitiano. “Eu creio num Deus poderoso e Deus pode libertar esse povo”, enfatizou.
‘Nada amedronta a nossa fé’
O Pastor Christian de Farah, da cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, também fez um comunicado oficial junto com outros pastores e missionários do Brasil, Uruguai, Chile, México, Argentina, Venezuela e Guatemala.
Apesar de todas as dificuldades, eles disseram que estão unidos em Cristo: “Nada do que está acontecendo neste país amedronta a nossa fé. Juntos sairemos deste vale da sombra da morte e veremos o Senhor dos Exércitos ser glorificado nessa nação”.
Em entrevista ao Guiame, a missionária Priscila Jodas Pyrhus, que fez parte do vídeo do pastor Farah, explicou com detalhes a situação da Igreja no país. Ela vive no Haiti desde que se casou com o haitiano Reginald Ferreira Pyhrus, em 2018, e revelou como Deus a chamou para uma missão.
Projeto social e evangelístico no Haiti. (Foto: Arquivo pessoal/Priscila Jodas)
Resumidamente, essa missão visa o desenvolvimento do povo haitiano, conforme a missionária compartilha: “Em todas as áreas, saúde, educação, vida social e espiritual. Queremos que o povo haitiano cresça, se desenvolva e seja protagonista de sua própria história, com Jesus sendo o centro de tudo”.
‘O povo tem medo do vodu’
Priscila conta que ela, o marido e a equipe possuem dois locais de trabalho: na periferia de Porto Príncipe e na própria casa, dado o perigo que se instalou na capital. “Por ser estrangeira, para mim estava se tornando perigoso ir até Porto Príncipe”, explicou.
Além do perigo, ela conta também que há outros desafios para evangelizar os haitianos, entre eles o sincretismo religioso — mistura de várias práticas religiosas que se transformam numa crença.
“O povo haitiano tem medo do vodu, eles acreditam muito no poder do vodu. Além disso, há muita falta de conhecimento, pois o povo não tem uma boa taxa educacional e isso atrapalha também para conhecer o Evangelho”, disse.
Ela mencionou que as Bíblias são lidas em francês e que isso atrapalha no entendimento mais profundo: “Apesar de existir a Bíblia em crioulo, são poucas, então a maioria lê em francês”.
‘A violência impede o evangelismo’
A outra dificuldade mencionada pela missionária é a violência nas ruas: “Está cada vez mais difícil. Por conta da violência não é possível realizar as ações de evangelização, além disso tem muita gente saindo do Haiti”.
E para finalizar, Priscila destaca a religiosidade do povo haitiano, que ela aponta como um ponto negativo por conta do excesso de formalidade.
“O pastor só anda de terno e gravata, por exemplo, e isso afasta muita gente por aqui. Essa formalidade e o jeito muito fechado não atrai pessoas para Cristo”, disse ainda.
“Eles aprenderam sobre o Evangelho, mas o adaptaram à cultura deles e isso atrapalha muito. Eles não querem mudar”, completou.
Momento de oração com haitianos. (Foto: Arquivo pessoal/Priscila Jodas)
‘Cristãos foram queimados vivos’
No vídeo, o pastor Farah mencionou sobre a violência contra cristãos e notícias de pastores e membros de igreja sequestrados, cultos interrompidos e casas queimadas: “Aqueles que se opõem aos criminosos são torturados e assassinados, centenas de igrejas já foram fechadas e milhares de cristãos tiveram que fugir. Muitos estão vivendo nos cemitérios”.
Ele também falou do massacre de mais de 300 cristãos nas mãos dos criminosos: “Vimos através de vídeos, como eles foram amarrados e queimados vivos apenas para o prazer dos bandidos”, revelou.
“Por favor, orem pelo Haiti para que nossa situação seja conhecida, não temos apoio internacional, mas temos o apoio de Jesus. Nós temos que resistir, aumentar a nossa fé para ver a mão de Jesus. Os dias são difíceis, mas não vamos desanimar”, concluiu.