Não falta disposição para encontrar os sobreviventes da tragédia. O Fantástico pegou carona em um ônibus de voluntários que durante dois dias percorreu a região mais devastada do Japão em busca de brasileiros. A viagem foi acompanhada pelo repórter Johnny Sassaki, da IPC, afiliada da Rede Globo no Japão.
Tem uma quantidade de brasileiros nessa região precisando de ajuda. Acho que é hora da gente se unir, diz o diretor de escola Paulo Galvão.
Parece que não está indo comida para lá, então nós estamos levando um caminhão também de três toneladas de mantimentos, conta o empresário Walter Saito.
Paulo e Walter são voluntários de um grupo organizado pela Embaixada e pelo Consulado do Brasil em Tóquio. Eles se preparam para uma viagem que tem duas missões: doar alimentos e procurar brasileiros em abrigos.
Estou indo na esperança de encontrar minha filha. A última notícia que eu tive é que ela está tendo necessidades, diz o tatuador Ricardo de Moraes.
A filha de Ricardo, Juliana, tem 10 anos e morava em Sendai com a mãe.
Sexta-feira, 19h30, horário do Japão, a comitiva formada por dois ônibus, um caminhão e um carro de apoio sai da cidade de Saitama rumo à província de Miyagi, região mais atingida pelo terremoto seguido de tsunami do dia 11.
Dentro do ônibus enfrentamos temperatura de dois graus abaixo de zero. É que, para economizar combustível, o aquecedor foi desligado.
Depois de 400 quilômetros, a primeira parada: Onagawa, já na província de Miyagi. A cidade tinha cerca de 8 mil casas. Agora são apenas 2 mil.
Na província de Miyagi, há milhares de pessoas sendo levadas ou se refugiando em abrigos. Só em um deles há 2,6 mil pessoas. Um cartaz diz: Brasileiros em Onagawa. Estamos vivos, aguardamos comunicação e ajuda.
Mas onde estão esses brasileiros? Levamos quase uma hora para encontrá-los. Estavam no segundo andar.
Quando tudo aconteceu, eu estava trabalhando. O pessoal começou a gritar que estava vindo a água, quando a água veio já me pegou por aqui. Subimos no teto da fábrica e a água foi vindo, foi levando tudo, lembra Roseli Takahashi.
É uma coisa impressionante. Ele destrói tudo o que vê pela frente, destaca o operário Nelson Takahashi.
Seguimos viagem até a cidade de Ishinomaki. Os nomes das pessoas que estão em abrigos são colocados em listas para que amigos e parentes possam localizá-los. O problema é descobrir entre nomes e sobrenomes, quem são os brasileiros. O jeito é se destacar na multidão.
Realmente, nós temos uma dificuldade muito grande de encontrar. Logo eles vão ver e entender e ver que são brasileiros, abrindo a bandeira brasileira, conta um homem. Assim ficou mais fácil encontrar o senhor Shigeru.
Vou na casa da minha filha e vou ver o que eu vou fazer, pelo menos a vida a gente ganhou, diz ele.
Última parada: Sendai. Lembra o Ricardo, que mostramos no início da viagem? Lá ele conseguiu achar a filha. Estamos indo para Nagano. A mãe dela vai ficar porqye que ela tem parentes aqui perdidos, explica ele.
De volta a Saitama, depois de quase dois dias na estrada, mais um reencontro: Eu queria notícias e não conseguia, desde o momento do terremoto eu ficava ligando a todo instante, todo minuto., conta Erica Shinoyama, filha de Shigeru.
A expedição resgatou dez brasileiros. Neste momento elas vão para um alojamento que fica em Saitama e naquele alojamento elas vão ter tempo suficiente para descansar, colocar a cabeça no lugar, ver o que vão fazer de suas vidas e tomar uma decisão acerca do futuro, explica Marcela Braga, do Consulado do Brasil em Tóquio.