A radialista Bianca Pagliarin, filha do pastor Juanribe Pagliarin, fundador da Comunidade Cristã Paz e Vida, contou seu testemunho de libertação das drogas e destacou o papel de sua mãe nessa jornada, em um artigo publicado no domingo (8) na revista Marie Claire.
Na infância, Bianca lidou com problemas de autoestima e autorrejeição por causa do peso. “Passei por muitos momentos tristes, de chacotas e piadinhas por ser uma menina fora dos padrões”, disse ela à publicação.
“Era mais alta do que a maioria, muito quieta e calada, sem falar que uma outra menina e eu éramos as únicas evangélicas da nossa sala de aula e eu ainda era a única filha de pastor da turma”, acrescentou Bianca.
Por volta dos 12 anos de idade, Bianca começou a trabalhar com seu pai, Juanribe Pagliarin em sua agência de propaganda, em São Paulo. Neste período, ela emagreceu muito e chegou a atrair o olhar de um caça talentos, que a convidou para o casting de uma grande agência de modelos.
Depois de emagrecer 30 quilos, Bianca conta que se encaixou no padrão de beleza das “altas e magras” e começou seus primeiros trabalhos como modelo.
“A partir de então, passei a atuar em desfiles e comerciais de TV, sempre com minha mãe do lado”, conta. “Mas em determinado momento achei que precisava me enturmar mais para conseguir mais trabalhos. Pedi para ela não me acompanhar mais, eu precisava ter amigos, como qualquer outra adolescente.”
Como modelo, Bianca Pagliarin atuou em desfiles e comerciais nos anos 90. (Foto: Arquivo Pessoal)
Para se enturmar, Bianca começou a agir como as outras modelos. “E o que muitas faziam? Fumavam muito. Diziam que ajudava a controlar o apetite. Comecei a fumar também. Aos 15, fui me afastando dos meus pais e ficando cada vez mais desconectada da minha família”, lembra.
“Logo vieram baladas regadas a muita bebida. Agora eu tinha uma turma, que me chamava para sair e que parecia curtir minha companhia. Assim como eles, passei a fumar maconha. Alguns amigos usavam cocaína, mas preferi não experimentar”, relata.
Da moda ao vício
Seu corpo começou a mostrar sinais de seu estilo de vida desregrado e Bianca desenvolveu uma espécie de alergia na testa. “Com essa marca no meio da testa, abandonei a vida de modelo. Me sentia um fracasso total, não queria ver mais ninguém”, afirma.
Bianca ficou cerca de um ano e meio trancada em seu quarto, isolada da família, se consolando com cigarros e a comida. “Em questão de poucos meses, pulei dos 50 quilos para quase 100”, lembra.
Em 1999, aos 19 anos, um comentário de um colega do cursinho pré-vestibular, que se referiu a ela como “assombração”, foi o gatilho de Bianca para se afundar ainda mais. “Me juntei à galera que trocava as aulas pelo bar ao lado do cursinho. Foi quando experimentei cocaína pela primeira vez. Ninguém me ofereceu, fui eu quem quis”, disse.
Ela continua: “O submundo dos usuários da cocaína se encontra em muitos pontos com o dos usuários do crack. Quis experimentar também. Logo na primeira tragada, acho que já me viciei. E aí, começaram três anos de um sofrimento pavoroso, que me acompanhou dos 19 aos meus 21 anos de idade.”
Bianca começou a dormir fora de casa por dias seguidos, dizendo aos pais que ia estudar. “Passei a praticar furtos dentro e fora da minha casa para sustentar meu vício. Eu já não me importava com mais nada. Nem tinha medo de ser pega, de ser presa ou de morrer. Eu só pensava que iria fazer o que fosse preciso fazer porque não conseguia mais parar de usar o crack”, confessa.
Ela relata que, quando a pedra acabava, vinha um “desespero e o sentimento de morte” insuportável. “E vinha também a culpa”, comenta. “Eu não via mais saída. Fui parar até a Cracolândia, onde passei dias naquelas pensões imundas de viciados, me drogando por dias e dias intermináveis.”
Resgatada na Cracolândia
Bianca afirma que por seis meses, consumia mais de 10 pedras de crack por dia. “Fugi de casa e fiquei longos períodos andando com traficantes, bandidos, prostitutas. Vi gente apanhando de traficante, tendo overdose perto de mim. Era horrível. Eu não tinha mais esperanças. Quando sentia uma sensação de morte, pensava na minha mãe e no quanto eu queria um abraço dela”, conta.
Bianca encontrou na mãe, Arlete, força para superar o vício em drogas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Certo dia, Bianca estava “em um hotel boca de lixo” quando três homens vestidos de branco foram buscá-la. Eles a levaram para uma clínica de reabilitação onde ficou internada por seis meses.
“Minha mãe me resgatou do inferno”, reconhece Bianca. “Minha mãe foi a pessoa que não desistiu de me encontrar, mesmo precisando ir aos lugares mais horríveis e imundos atrás de mim. Ela me salvou quando decidiu tomar as rédeas da situação. Ela salvou minha vida inúmeras vezes. Ela me salvou quando e porque decidiu se salvar também.”
Só que eu ainda não tinha entendido algo muito sério e que é o único jeito de qualquer pessoa que sofreu com o vício um dia se recuperar: é preciso internalizar a verdade que não dá para usar e ponto final. Ao total, fui internada quatro vezes. Na última, a realidade bateu forte: se eu usasse de novo, sabia que iria morrer.
Bianca se libertou do vício aos 21 anos e desde então está limpa. “Nunca mais usei crack ou outra droga, não bebo álcool e não fumo. Desde o meu renascimento, são mais de sete mil dias livre do crack e de qualquer outra dependência química”, testemunha.
Hoje, aos 41 anos, ela é casada com João Belucci e mãe de João Mateus, de 5 anos.
Bianca Pagliarin e sua família. (Foto: Instagram/Bianca Pagliarin)
Ela aproveitou o artigo, publicado no Dia das Mães, para fazer uma homenagem à dona Arlete: “Eu sei que todos desistiram de mim, por mais que quisessem acreditar, eu não parecia ter saída. Mas hoje, dedico a minha vida e a minha vitória a dona Arlete. Perdi quase tudo que tinha, menos o amor e a esperança da minha mãe”.