O cientista cristão Miguel Wickham fez uma análise sobre o desenvolvimento da COP26 — Conferência do Clima da ONU que acontece no Reino Unido. Ele escreve artigos sobre a situação climática, além de ser autor do livro “Ecologia e Mudanças Climáticas”.
Wickham enfatiza a responsabilidade dos cristãos em cuidar de tudo o que Deus criou. “A criação é de Deus, não nossa, e devemos refletir o seu amor por ela, amando e cuidando”, disse.
Em entrevista ao site de notícias espanhol Protestante Digital, ele apontou o papel da Igreja que deve ser desempenhado nesse contexto onde se discute sobre os problemas climáticos que a humanidade enfrenta.
Qual o papel dos cristãos?
O cientista acredita que os cristãos devem apoiar organizações que estão tentando influenciar para o bem da natureza. “Há milhares de pessoas sofrendo por causa do egoísmo de países mais desenvolvidos”, observou.
Refletindo sobre os motivos de cuidar do planeta Terra, ele disse: “Temos motivos muito mais profundos do que apenas a sobrevivência de nossos filhos e netos e da raça humana”, disse ao se referir ao amor que o cristão deve sentir pela Criação de Deus.
Outra forma de ajudar na causa é orando, segundo Wickham. “Os cristãos devem clamar a Deus para que os líderes ajam com coragem e firmeza e para que acordos positivos saiam do papel”, comentou.
Além disso, destacou que devemos viver de forma coerente com o que sabemos de Deus. “O apóstolo Paulo nos lembra que Cristo é o Criador e sustentador de tudo, conforme Colossenses 1.15-20. A Bíblia nos chama a amar o que Deus ama. Somos parte da criação e precisamos cuidar do Jardim de Deus, como jardineiros, mordomos”, citou.
“A situação atual da criação, que 'geme, esperando pelo livramento', conforme Romanos 8.20-22, é o resultado de virarmos as costas a Deus. Devemos ver os problemas como advertências, como faziam os profetas do Antigo Testamento”, observou.
“Mas isso só é possível quando Deus muda o coração do homem pelo Seu Espírito. A verdadeira transformação é espiritual e deve começar no coração. É por isso que o cristão tem a verdadeira análise dos desafios ecológicos e do mal em geral, e a verdadeira e única solução está na Bíblia”, frisou.
Sobre a Conferência do Clima da ONU, 2021
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, que está em sua 26ª edição — COP 26 — começou no dia 31 de outubro e vai até 12 de novembro.
O encontro de quase 200 nações acontece na cidade escocesa de Glasgow e visa acelerar a ação em direção aos objetivos do Acordo de Paris e da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Realizada desde 1995 pela ONU, a reunião discute como combater as mudanças climáticas a partir de ações conjuntas entre os países. “Sem ação decisiva, estamos jogando com a nossa última oportunidade de, literalmente, inverter a maré”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Para ele, o evento surge como uma janela de oportunidade para evitar uma série de catástrofes.
Acordos não são cumpridos
O cientista também adverte sobre a realização dos eventos da ONU e a falta de eficácia nos resultados. Por exemplo, os acordos alcançados na COP21 em Paris ou na COP25 em Madrid, não foram cumpridos.
“A COP25 em 2016 terminou mal quando as partes não chegaram a um acordo sobre a quantificação e o calendário das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são as ações climáticas concretas que cada país se comprometeu a apresentar a cada 5 anos, até 2030”, observou.
“Até poucos dias atrás, apenas uma dezena de 194 países estavam atualizados. No acordo de Paris, reduções de emissões de 30-55% seriam necessárias para atingir a meta de um aumento de 1,5° C. Até agora, foram só promessas, pois apenas 7,5% seriam reduzidos”, disse também.
Wickham explica que faltaram acordos de cooperação internacional, por exemplo para estabelecer um mercado internacional de carbono (como é o caso da UE). Ambientalistas veem esse conceito como temporário e defendem uma transição energética urgente para energias renováveis, como solar, eólica e hidrogênio.
Mas o mundo ainda espera que novos acordos globais sejam alcançados na COP26 e que o cumprimento deles tenham um impacto na redução do aquecimento global. “A situação climática atual é urgente, como os cientistas continuam nos alertando”, disse ainda.
“Ficou muito claro que todos estão muito cansados da pouca resposta dos políticos nacionais aos seus relatórios, devido aos interesses econômicos de curto prazo e à preservação do bem-estar de alguns países”, alertou. “Tudo é possível, mas falta visão e vontade política, um sacrifício agora que terá retorno a longo prazo”, reforçou.
E enquanto a vontade e o sacrifício dos políticos não chegam, Wickham acredita que a igreja deve fazer a sua parte. “A esperança cristã não é um sonho. Baseia-se na realidade de um Deus que cria, sustenta e salva; é baseado em fundações sólidas. Não importa como está o mundo ao nosso redor, a esperança para o planeta é um fato da verdade futura”, concluiu o cientista.