Embora a maioria dos americanos conheçam a importância histórica de Cristóvão Colombo, poucos sabem que suas navegações também tiveram motivações religiosas.
Colombo decidiu explorar as Índias porque acreditava que, segundo os cálculos escatológicos, o momento da volta de Jesus Cristo estava próximo. Por isso, era necessário chegar às Índias pelo caminho mais curto possível, para que “o último baluarte de Satanás pudesse ser eliminado através das missões cristãs”, de acordo com a Enciclopédia Britânica.
Ao contrário do que diz a lenda, Colombo não navegou para provar que a Terra era redonda — a maioria dos marinheiros já sabia disso. Ele calculou o tamanho do Oceano Atlântico lendo sua Bíblia.
Segundo o pesquisador Thomas S. Giles, ele havia lido no livro apócrifo de II Esdras (que não é incluído no cânone bíblico) que Deus criou o mundo em sete partes, na qual seis tornaram-se terra seca e a sétima tornou-se água. “Ele calculou que o oceano que separa Portugal de Cipangu (Japão) era um sétimo da circunferência da Terra, ou cerca de 2.400 milhas. Ele imaginou que navegando 100 milhas por dia, ele poderia chegar às Índias em 30 dias”, disse ele ao site Christianity Today.
Colombo e o judaísmo
Além das navegações, Colombo era tomado pelo grande desejo de libertar Jerusalém das mãos dos muçulmanos. Suas aspirações têm feito alguns estudiosos concluírem que, na realidade, suas origens são judaicas.
Durante a vida de Colombo, os judeus tornaram-se alvo de uma perseguição religiosa. Em 31 de março de 1492, os reis de Castela, Fernando e Isabel, proclamaram que todos os judeus seriam expulsos da Espanha. O decreto visava especialmente os 800 mil judeus que nunca haviam se convertido ao catolicismo.
Os judeus que foram forçados a renunciar ao judaísmo e abraçar o catolicismo eram conhecidos como “convertidos”. Havia também aqueles que fingiam a conversão, praticando o catolicismo exteriormente, enquanto praticavam secretamente o judaísmo, os chamados “marranos”.
Dezenas de milhares de marranos foram torturados pela Inquisição Espanhola. Eles foram forçados a dar nomes de amigos e familiares, que acabaram sendo queimados vivos diante de multidões e tendo suas posses tomadas pela Igreja Católica e pela coroa.
Análise das evidências
Recentemente, estudiosos espanhóis como José Erugo, Celso Garcia de la Riega, Otero Sánchez e Nicolau Dias Pérez, concluíram que Colombo era um marrano, cuja sobrevivência dependia da supressão de todas as evidências de sua origem judaica diante da perseguição.
O testamento de Colombo, assinado por ele em 19 de maio de 1506, tinha pedidos reveladores. Dois de seus desejos — dízimo de 10% de sua renda para os pobres e a doação de um dote anônimo para meninas carentes — fazem parte dos costumes judaicos. Ele também decretou a entrega de dinheiro a um judeu que morava na entrada do bairro judaico de Lisboa.
Nesse documento, Colombo usava uma assinatura triangular de pontos e letras que se assemelhavam às inscrições encontradas em lápides de cemitérios judaicos na Espanha. Segundo o historiador britânico Cecil Roth, o anagrama simbolizava o Kadish, uma prece recitada na sinagoga após a morte de um parente próximo.
Estelle Irizarry, professora de linguística da Universidade de Georgetown, observou que no canto superior esquerdo das cartas escritas por Colombo a seu filho, Diego, continha as letras hebraicas bet-hei, que significa b'ezrat Hashem (com a ajuda de Deus). Essa bênção costumava ser adicionada pelos judeus na época. Nenhuma carta para pessoas de fora carregava esta marca.
Simon Wiesenthal, um sobrevivente do Holocausto que ficou famoso depois da Segunda Guerra Mundial pelo seu trabalho na captura de nazis, argumenta que a viagem de Colombo foi motivada pelo desejo de encontrar um refúgio seguro para os judeus diante de sua expulsão da Espanha.
Motivado por Jerusalém
Carol Delaney, antropóloga cultural da Universidade de Stanford, conclui que Colombo era um homem profundamente religioso cujo objetivo era viajar à Ásia para obter ouro, a fim de financiar uma cruzada para recuperar Jerusalém e reconstruir o templo sagrado dos judeus.
Uma das provas de seus verdadeiros motivos é a data em que Colombo partiu: 2 de agosto de 1492, que coincidia com o feriado judaico de Tisha BeAv, marcando a destruição do Primeiro e Segundo Templos de Jerusalém. Colombo adiou essa data para evitar embarcar no feriado, o que teria sido considerado pelos judeus como um dia de azar para partir.
Ao contrário do que se acredita, a viagem de Colombo não foi financiada pela rainha Isabel, mas sim por dois judeus convertidos e outro judeu proeminente. Louis de Santangel e Gabriel Sanchez fizeram um empréstimo sem juros de 17.000 ducados de seus próprios bolsos para ajudar a pagar a viagem, assim como Don Isaac Abrabanel, rabino e estadista judeu.
De fato, as duas primeiras cartas que Colombo mandou de volta de sua viagem não foram para Fernando e Isabel, mas para Santangel e Sanchez, agradecendo-lhes por seu apoio e dizendo-lhes o que ele havia encontrado.