O ex-ator pornô Joshua Broome, que virou pastor e defensor da luta contra a exploração sexual, alertou que a indústria pornográfica contribui para o aumento do abuso sexual.
Joshua começou a estrelar filmes pornôs em 2006 e fez mais de 1.000 produções sexualmente explícitas. Após seis anos de carreira lutando contra uma depressão e opressões malignas, ele se entregou a Jesus.
Recentemente, ele relembrou seu testemunho durante um evento organizado pelo Centro Nacional de Exploração Sexual (NCOSE), nos EUA, para anunciar o lançamento de seu último relatório:
"Não é uma fantasia: como a indústria pornográfica explora o abuso sexual baseado em imagens na vida real".
A vice-presidente de pesquisa e educação do NCOSE, Lisa Thompson, explicou como sites pornográficos lucram e ajudam a alimentar o abuso sexual por meio de imagens (IBSA).
Embora esse tipo de abuso assuma muitas formas, o relatório do NCOSE define o abuso sexual por meio de imagens como uma “violação de pessoas que inclui o roubo, a criação e a distribuição de material sexualmente explícito sem o consentimento significativo da(s) pessoa(s) retratada(s), ou a manipulação de material não explícito com o propósito de torná-lo pornográfico”.
‘Fetichizar o abuso’
Conforme o relatório do NCOSE, uma pesquisa pelo termo “voyeur real” — que se refere a uma pessoa que gosta de observar outras pessoas em situações íntimas ou privadas muitas vezes sem consentimento — no site pornográfico XVideos resultou em 95.680 vídeos, indicando um excesso de conteúdo relacionado à prática.
Já o site XNXX não apenas apresentou 101.533 vídeos relacionados ao termo pesquisado, como também oferecia mais de 18.000 vídeos classificados como “dourados” — conteúdos exclusivos que só podiam ser acessados mediante pagamento.
Além disso, alguns dos títulos de vídeos no XVideos relacionados aos termos “voyeur” e “espionagem” incluíam “espionar mulheres de todas as idades com câmera escondida em banheiro público”.
Segundo Lisa, a indústria pornográfica frequentemente utiliza termos como “inconsciente” e “agressão sexual” para classificar determinados conteúdos. De acordo com ela, essa prática tem o objetivo de estimular o interesse sexual das pessoas por situações não consensuais.
“Há um poder tremendo de socialização sexual para os usuários desses sites, para que vejam conteúdo de abuso sexual baseado em imagens como algo normal. É fetichizar o abuso. É exatamente isso que essas empresas de pornografia estão fazendo”, explicou ela.
Manipulação de imagens com IA
Na ocasião, Lisa também alertou que, por meio da inteligência artificial, surgiu outra forma de exploração — a "pornografia forjada" — que manipula digitalmente imagens e vídeos de alguém que talvez nunca tenha aparecido em pornografia antes para torná-la de caráter sexual.
“É uma invasão da privacidade das pessoas, é fraude, é violência sexual e é uma destruição da autonomia pessoal”, declarou Lisa.
O evento também chamou a atenção para o impacto do abuso sexual baseado em imagens, destacando o sofrimento dos sobreviventes, que precisam lidar com o fato de que um número incontável de pessoas consumiu conteúdo sexualmente explorador envolvendo suas imagens
Jewell Baraka, que começou a aparecer em filmes pornôs aos 14 anos, contou que foi traficada para fazer pornografia.
“Isso me atingiu de muitas formas. Primeiro, eu nunca tinha visto meu trauma sexual antes, mas agora estava registrado para sempre. Não podia ser apagado. Então, a partir daquele momento, eu andava pela rua olhando para baixo, porque não queria cruzar o olhar com um homem e me perguntar se ele tinha visto", relembrou Jewell.
Apesar de seu passado, Jewell encorajou o público destacando que há esperança e cura emocional para o trauma sofrido.
“Só de ver de onde eu cheguei. Eu nem deveria estar viva, muito menos me recuperando, livre e curtindo a vida. Isso me dá esperança de que, mesmo que outros também possam se curar e melhorar”, disse ela.
Por fim, o pastor Joshua, que deixou a indústria pornográfica em 2013, também falou sobre esperança ao lembrar como decidiu reconstruir a vida. Ele conheceu sua esposa na academia e começou a frequentar a igreja com ela.
“Sou a prova de que, não importa o que tenha acontecido com você ou o que tenha passado, você pode superar. Portanto, qualquer esperança ou paixão que tenha morrido porque você se sentiu desqualificado pelo que fez ou pelo que lhe aconteceu, Deus está escrevendo uma história melhor”, concluiu.