Embora tenha ocorrido mudanças no controle populacional da China, através da “política dos três filhos”, muitas mulheres grávidas ainda são forçadas a fazer abortos, especialmente se for uma menina.
“As famílias ainda estão abortando e abandonando seletivamente meninas porque as pessoas preferem meninos”, disse Reggie Littlejohn, fundador e presidente da Women's Rights Without Frontiers (Direito das Mulheres Sem Fronteiras).
O grupo se define como uma “coalizão internacional de organizações pró-vida, com o trabalho focado em combater o aborto e a escravidão sexual”. Littlejohn disse que o aborto forçado e o generocídio fazem parte da realidade na China.
Sobre o generocídio
Generocídeo é o assassinato sistemático de determinado gênero, no caso da China, de meninas.
“Se eles têm duas filhas primeiro e estão esperando um terceiro filho, algumas famílias vão simplesmente abortar meninas até que finalmente tenham um menino para esse terceiro filho”, esclareceu Littlejohn.
O aborto é amplamente praticado na China há décadas. Segundo a política do filho único, introduzida em 1979, milhões de mulheres por ano eram forçadas a interromper a gravidez “ilegal”.
A coalizão de Littlejohn tem ajudado as famílias chinesas nesse sentido: “Salvamos cerca de 300 meninas e fazemos isso enviando nossos colaboradores de porta em porta”.
“Estamos salvando um bebê por vez”
De acordo com o líder pró-vida, os colaboradores conversam com as grávidas ou com as mães de meninas que acabaram de dar à luz, mostrando que há caminhos diferentes para resolver a situação. “Estamos salvando um bebê de cada vez”, disse.
As mulheres recebem uma espécie de “bolsa mensal” no valor de 25 dólares (cerca de 130 reais) como incentivo para convencer a família sobre a importância da menina.
“Esse valor representa muito dinheiro no interior da China e permite que essas mulheres falem com seus maridos e sogras. Elas podem argumentar: ‘Olha não posso abandonar essa menina, veja como é uma garota de sorte, ela já está trazendo dinheiro para a família’”, ele compartilhou.
Abortos forçados
Por outro lado, a China vem dizendo que quer estabelecer um sistema de políticas para aumentar as taxas de natalidade, já que o país está enfrentando uma crise de envelhecimento da população.
Conforme a agência de notícias Reuters, a taxa de natalidade deve cair para um nível recorde — abaixo de 10 milhões de recém-nascidos.
Mas, embora haja esse discurso do governo chinês sobre a “política dos três filhos”, na realidade a posição pública da China na questão dos abortos forçados ainda não mudou nada.
“O que as pessoas não entendem é que toda a brutalidade da política do filho único ainda é legal sob a política dos três filhos. Assim, a nova regra é que todo casal — com casamento oficialmente legalizado — tem permissão para ter três filhos, mas as mães solteiras continuam obrigadas a abortar e também as casadas que vão ter o quarto filho”, disse Littlejohn ao lembrar também do caso dos uigures e dos tibetanos.
‘Grupos pró-vida tem nos ajudado’
Infelizmente, conforme continuou explicando Littlejohn, a questão do aborto num país comunista não é facilmente resolvido como uma questão entre a direita e a esquerda.
“Infelizmente, esse não é o caso. Quando fundei a coalizão [Direito das Mulheres Sem Fronteiras], com a esperança de que as pessoas pró-vida e pró-aborto, direita e esquerda, se unissem para se opor ao aborto forçado, já que isso deixa de ser uma escolha [por parte da mulher], eu fiquei muito desapontado”, disse ele em entrevista à CBN News.
“Basicamente, as pessoas que apoiam os chamados ‘direitos ao aborto’ realmente não disseram nada e não ajudaram em nada. Somente a comunidade pró-vida tem nos apoiado para tentar impedir essas atrocidades na China”, concluiu.