No dia 9 de março de 2013, cerca de 3 mil muçulmanos atacaram a Joseph Colony, um bairro predominantemente cristão, queimando mais de 170 casas e duas igrejas. O incidente começou depois que um cristão local, Sawan Masih, foi acusado de fazer comentários depreciativos contra Maomé, o profeta muçulmano, três dias antes do bairro ser atacado.
Um dia antes do ataque, houve violência após as orações de sexta-feira, quando cerca de 100 muçulmanos atacaram a casa de Masih com pedras e espancaram seu pai idoso. Masih foi levado sob custódia policial e mais tarde acusado de cometer blasfêmia.
No início deste mês, o ataque completou quatro anos. Centenas de cristãos fugiram do bairro naquela noite, temendo uma nova retaliação. Milhares de muçulmanos atacaram casas, lojas e igrejas cristãs. Nenhum cristão foi ferido durante o ataque, mas suas posses e propriedades foram roubadas e destruídas pela multidão.
Apesar do triste acontecimento, no início deste ano, mais precisamente no dia 28 de janeiro, um tribunal antiterrorismo no Paquistão absolveu os mais de 100 suspeitos acusados de participar do ataque contra o bairro cristão. Durante uma audiência, o juiz Chaudhry Muhammad Azam aceitou os argumentos da defesa e citou "evidência insuficiente" como justificativa para as absolvições, apesar de amplas provas em vídeo e fotografia do ataque.
Decepção
Muitos líderes cristãos manifestaram publicamente sua decepção com a decisão do tribunal, chamando a decisão de "discriminatória e parcial". "O julgamento mostra que as minorias religiosas não são cidadãos iguais perante a lei neste país", disse Tariq Siraj em resposta à decisão do tribunal. "O tribunal não deu qualquer peso para os vídeos e mídia impressa que cobriu o ataque violento", ressaltou.
"Se todos são inocentes, quem queimou as casas?", perguntou Wajid Masih, um cristão da Joseph Colony. "O governo deveria dar uma resposta a essa pergunta". Já uma outra cristã declarou sua tristeza. "Estamos tristes e insatisfeitos com os procedimentos judiciais", disse Zaida Bibi. "Os atacantes não só incendiaram as nossas casas, mas também profanaram igrejas e Bíblias. O governo deve oferecer proteção adequada às vítimas", pediu.
O Diretor Regional do ICC, William Stark, disse: "O ataque à Colônia Joseph e a falta de justiça que as vítimas cristãs receberam é apenas mais um exemplo da perseguição enfrentada pelos cristãos no Paquistão. Devido à impunidade permitida pelo governo paquistanês e às notórias leis de blasfêmia do país, milhares de muçulmanos se sentiram justificados em atacar e destruir todo um bairro cristão para ‘vingar’ as observações de um cristão”, disse.
“Em vez de proteger os cidadãos paquistaneses, como a lei deveria, as leis sobre a blasfêmia costumam cobrir e encorajar os extremistas a cometer atos violentos, exatamente o que aconteceu na Colônia Joseph há quatro anos. Isso tem que mudar. O fracasso do Paquistão em trazer justiça aos afetados pelo ataque não só não protege as vítimas individuais, mas também as comunidades minoritárias vulneráveis do país", finalizou.