O pastor Vitaly Chichmarev foi preso na Bielorússia, por participar das chamadas Marchas pela Paz, com objetivo de evangelizar às pessoas presentes na ocasião.
Em 2020, a Bielorússia passou por uma crise política que ocasionou a ida de muitos cidadãos às ruas para protestar contra fraudes eleitorais.
As autoridades não ficaram satisfeitas com a população e, segundo o pastor, buscavam uma maneira de tornar a participação nas Marchas pela Paz ilegal.
“Eu disse que as ações do governo contra os protestos eram pecaminosas. Essa crítica gerou pressão de quem detinha o poder”, disse o pastor ao site de notícias CNE News.
O pastor nunca imaginou que os policiais pudessem ir atrás dele, porém, em abril de 2022, eles bateram em sua porta e o prenderam por participar das manifestações.
Vitaly estava em casa com sua filha e foi obrigado a ir com os policiais ao prédio bielorrusso secreto da KGB, o serviço de inteligência russo, para ser interrogado.
Durante o interrogatório dos guardas, o pastor garantiu ter recebido um tratamento razoável e reconheceu antigas fofocas soviéticas sobre os batistas.
“Eles acreditavam que esses cristãos sacrificam crianças e roubam dinheiro das pessoas. Felizmente, isso mudou quando eles me viram ao vivo e puderam me fazer perguntas”, explicou ele.
Enquanto isso, a família de Vitaly passou por um momento difícil e cheio de incertezas, pois não sabiam o que aconteceria com ele, nem quanto tempo ele ficaria preso.
Segundo o pastor, a esposa só sobreviveu a esse período porque frequentava as reuniões de oração, sem Deus ela não teria conseguido.
Na prisão
Por sete meses, Vitaly foi mantido na prisão e ao refletir sobre esse tempo, ele afirmou ter sido um momento abençoado.
“Falei com os detidos, vi as suas lágrimas e ouvi as suas histórias. Então percebi mais do que nunca que eles também precisam de Deus”, disse ele.
Nos primeiros dez dias de detenção, o pastor foi trancado em uma cela com outros seis detentos. Sua esposa tentou deixar uma Bíblia com ele, mas o pedido foi recusado.
No entanto, isso não impediu o pastor de compartilhar o Evangelho com os outros detentos.
“Fui pastor, psicólogo e coach familiar ao mesmo tempo”, disse Vitaly.
Segundo a CNE News, os guardas não se importavam com o que acontecia dentro das celas. Pregar a palavra de Deus, surpreendentemente, não gerou nenhuma consequência a ele.
“Eu poderia falar com outras pessoas sobre minha fé e até mesmo celebrar a Ceia do Senhor quando era Páscoa”, lembrou o pastor.
O pastor só conseguiu uma Bíblia na segunda prisão através de um companheiro de cela. Ele ficou com outras 15 pessoas em 18 metros quadrados.
Momentos com Deus
O pastor Vitaly afirmou que seu tempo na prisão o aproximou de Deus,
Imagem de um devocional bíblico. (Foto: Ilustrativa /Flickr /Paul O'Rear)
“Quando eu estava preso, não perguntei a Deus por que estava lá, mas qual era o fim disso. E Deus respondeu mostrando-me os frutos do meu trabalho pastoral na prisão”.
De acordo com a CNE News, em uma ocasião, o pastor sonhou com um de seus companheiros de cela. No dia seguinte, ele disse ao homem que Deus lhe havia mostrado algo sobre uma promessa que este prisioneiro havia feito.
“Ele ficou muito surpreso por eu saber disso, porque nunca havia contado a ninguém”, disse Vitaly e completou dizendo que depois disso, o homem começou a ler a Bíblia e fazer perguntas a ele. Os dois ainda trocam cartas.
Embora nenhuma das pessoas que conheceu na prisão tenha comparecido a um culto na igreja, o pastor tem esperanças de que um dia eles irão.
“É difícil dizer se eles são crentes agora. Mas eles pedem oração. E se eles estiverem tão interessados quanto indicaram, inevitavelmente virão à igreja”, afirmou Vitaly.
Atualmente
Vitaly está em prisão domiciliar até 2024. Ele precisa comparecer à delegacia toda semana e não pode deixar a cidade de Minsk, capital da Bielorússia, sem permissão. Os policiais têm acesso a sua agenda e podem ir até sua casa para verificar se ele está lá.
O pastor de 47 anos foi solto em 11 de novembro de 2022, e pode continuar seu ministério em liberdade condicional. Ele está feliz e se sente livre. “É desconfortável, mas não muito pesado”, explicou o pastor.
Ele passou sete meses na prisão e comparou seu sentimento ao de Pedro, discípulo de Jesus, quando saiu da prisão. Em sua concepção, estar com sua família novamente é um milagre de Deus.
“Normalmente, esses processos judiciais levam dois dias. O meu acabou em poucas horas. Não pude acreditar quando soube que tinha permissão para ir para casa. Acho que você pode comparar meus sentimentos aos de Pedro na Bíblia quando um anjo o libertou da prisão. Parecia um sonho”, expressou o pastor.
Trajetória
Vitaly Chichmarev nasceu em 1975. É casado com Svetlana Chichmarev e tem uma filha de 18 anos, Alina.
Por quatro anos, ele foi o segundo pastor da Light of Hope Church (tradução livre: Igreja Luz da Esperança), uma congregação batista registrada em Minsk.
Sua igreja tem atualmente cerca de 50 membros. Ele atraiu mais de 100 participantes, antes das intervenções políticas. Agora, muitos deles partiram para os Estados Unidos e a Polônia.