“Quando o homem permitir que o seu emocional seja liberto e que as pessoas tenham prioridade sobre as coisas, e a mulher permitir que o seu racional se desenvolva sem pedir licença ao mundo masculino, teremos o relacionamento homem—mulher idealizado por Deus desde o princípio”. (Nancy Gonçalves Dusilek, autora de “Mulher sem Nome”)
São poucas as mulheres com quem convivo que lidam bem com os papéis de profissional, mãe, dona-de-casa e amante. Elas são profissionais com carreiras definidas e em ascensão, mães cuidadosas, filhas zelosas e amantes dispostas. Porém, o que vejo, e me incluo nisso, é que boa parte de nós perdeu a significação da missão. Afinal, como falar em missão diante da necessidade de ser co-responsável pelo sustento da casa? Essa já não seria a missão?

Por causa da missão de ser uma pessoa plena para ajudar outros a resgatarem esse sentido, não devo temer o que é verdadeiramente pessoal para mim: amor, fé, tristeza, alegria, culpa, sucesso, revés. Minha vida não deve ser determinada por modelos, quer sejam tradicionais ou feministas, mas pela minha própria humanidade!
A leitura do livro me fez entender que a missão não tem a ver com opções pessoais, nem com a clássica guerra dos sexos. Não estou, nem quero estar, em disputa com os homens. Afinal, quem disse que o padrão da mulher é ter conflito entre a intimidade familiar e o espaço social? Decidi acreditar que todas as posturas são determinadas pela missão. Homem e mulher produzem. No trabalho, eu produzo; em seu ministério, meu marido produz; por anos tendo dado aulas, minha mãe produziu; meu pai, como representante comercial, produz. A diferença é que o homem conta a produção pelas coisas produzidas; a mulher, pelo desfrutar das coisas produzidas.
Percebi que nós, mulheres, não trabalhamos por alguma coisa, mas por alguém. Fazer uma receita de bolo elaborada, trabalhosa, e até mesmo cara, só faz sentido quando as crianças batem palmas de apreciação. Busco no meu trabalho jornalístico, que exige uma grande dose objetividade, temperá-lo com porções de subjetividade, que levam à síntese e à união. A opção apenas pela objetividade — característica masculina — leva à análise e à separação. Então, minha missão como mulher é temperar o mundo — não somente o jornalismo, mas principalmente minhas relações interpessoais — com generosas pitadas de subjetividade.
Reconheço que nem sempre pensei assim, e que fui mesmo salva pela leitura de A Missão da Mulher. Por muito tempo levei a sério a promoção da mulher, a disputa, a luta pelo poder e pelo controle. E posso dizer, sem medo, que dessa forma a promoção feriu a todas nós. Acabamos nos impondo uma (in)capacidade de administrar a jornada dupla, um padrão de beleza tirano e um desgaste tremendo na relação com os homens, para quem somos confusas e difíceis demais.
A verdadeira promoção é nos reconhecermos mulheres com inteiras responsabilidades por nossas escolhas, respeitando nossas liberdades. Minha missão não é determinada pelo meu casamento, ou pela minha vida profissional, ou pelo sucesso dos meus filhos como crianças obedientes e estudiosas. Sou, independente de minha condição. O que dá sentido à vida é essa consciência. Como é bom saber que Jesus, que me motiva a trabalhar por um outro mundo possível, levou as mulheres a sério. Basta observar sua conversa com a mulher samaritana ou o anúncio de sua ressurreição a Maria Madalena, para vermos a estima e a confiança dadas a nós — mas também as mesmas exigências e promessas, como lembra Paul Tournier. De tudo isso tirei uma lição: ser mulher é ser uma pessoa plena, por existir, e influenciar para transformar, sendo uma missionária da ternura.
por Nilza Valéria
Artigo publicado originalmente na seção “Vamos ler!”, da revista Ultimato 297 (novembro/dezembro de 2005).