
Todos terminaram seu dia e se juntaram na capela para as preces. O primeiro, reverentemente disse a Deus: "Senhor, fiz minha parte, cuidei da terra, plantei boa semente, dediquei conhecimento e trabalho, mas agora suplico que mandes as chuvas nas estações certas, porque de pouco adiantará meu esforço, se o Senhor da terra não fizer prosperar a plantação!".
O segundo orou: "Senhor, sei que não plantei as melhores sementes, nem sei bem se trigo plantei, mas bem que o Senhor poderia fazer vingar trigo em minha terra, porque sou seu seguidor, diferentemente de alguns de meus vizinhos que são ímpios. Eu oro, venho à Capela, pratico minha religião, acho que o Senhor poderia levar isso em conta e desconsiderar a semente que lancei em terra".
O terceiro disse: "Não plantei porque acho um desperdício, nem sei se acredito em você e no final das contas sempre sobra algo da plantação de meus vizinhos, do que me sirvo. Então pra que perder meu tempo labutando?".
O Senhor da terra tem uma resposta apenas, por ser bom e por ter criado bem tudo o que há, por amar sua criação, Ele decidiu não praticar a magia de promover a mudança da semente, como queria o segundo plantador, que plantando de uma espécie ou a má semente, desejava que brotasse de outra espécie ou fruto bom. Também não iria incentivar a malandragem displicente do terceiro. Por isso respondeu o que apenas o primeiro consegue entender: "Tudo o que o homem plantar, também colherá".
E os anjos cantaram uma canção que um dia se tornaria citação de poeta:
"Triste é o homem que deseja colher o que não plantou".
Assim, a experiência espiritual se torna concreta e não mágica. O plantio do primeiro e sua reverente entrega a Deus ao fim do dia de trabalho configura o perfil de quem quer trabalhar com Deus no mundo: fazemos nossa parte como se tudo dependesse de nós e oramos a Deus como se tudo dependesse dele.
- Alexandre Robles