Recentemente, estava me preparando para pregar sobre Isaías 52.7-10. Trata-se daquela maravilhosa passagem, repleta de júbilo, na qual o profeta descreve as sentinelas solitárias, em uma Jerusalém devastada, observando um mensageiro trazendo do leste as boas novas de que Deus está retornando; o exílio está no fim e Deus está a caminho de casa.
Notei, como qualquer pregador faria, que três palavras em nossa tradução começam com r. E preguei sobre como o profeta estava incentivando os exilados a perceber que Deus era um rei que reinava, retornava e redimia. Então relacionei o texto com o Novo Testamento e destaquei que a próxima fase do texto, com relação à sua concretização, estava ali. Pois Jesus de Nazaré era (em sua primeira vinda), atualmente é, (em seu governo soberano) e será (em sua segunda vinda) Deus reinando, Deus retornando e Deus redimindo.
Para pensar sobre a aplicação dessa passagem, fiz para mim a seguinte pergunta: O que significa para mim, aqui e agora, o fato de Jesus ser o Senhor que reina, o rei que retorna, e o Salvador redentor do mundo?
Cristo reinando
Para mim, crer que Jesus está reinando significa que, quando reflito nas verdades do mundo com todas as complexidades imprevisíveis da rotina internacional, as afirmações e controvérsias e os posicionamentos e arrogâncias do poder militar e da dominação econômica , preciso constantemente me perguntar como e onde vejo sinais do reino de Deus em Cristo em meio a isso tudo.
Contudo, não é uma tarefa difícil em meio a nosso mundo louco e desordenado? Provavelmente não mais difícil do que teria sido nos dias dos profetas, quando a Assíria, a Babilônia e a Pérsia pareciam governar o mundo. Ou nos dias de Jesus e dos apóstolos, quando o Império Romano dominava o mundo sendo a única superpotência, impondo sua vontade por meio de uma mistura ambígua de superioridade militar implacável, interesse econômico e boas realizações. Pouca coisa mudou. Porém, no meio de toda essa ambiguidade, somos chamados a afirmar que nosso Deus reina, Jesus é o Senhor (e não César ou seus sucessores)!. Nisso ponho minha confiança e esperança.
Cristo retornando
Para mim, crer que Jesus está retornando significa que, quando penso nos lugares assolados da terra (como as ruínas de Jerusalém): a ruína das coisas que Deus criou de forma bela; a destruição da beleza e da diversidade de nosso planeta; a desolação do sofrimento humano sob a brutalidade dos maus; a devastação de vidas e da esperança por meio do HIV/Aids etc. então me lembro que Jesus é também o rei que retorna. E trago à mente o maravilhoso clímax do Salmo 96:
Regozijem-se os céus e exulte a terra!
Ressoe o mar e tudo o que nele existe!
Regozijem-se os campos e tudo o que neles há!
Cantem de alegria todas as árvores da floresta,
Cantem diante do Senhor, porque ele vem,
Vem julgar a terra;
Julgará o mundo com justiça e os povos,
Com a sua fidelidade!
Salmo 96.11-13 (ênfase do autor)
Toda a criação aguarda a volta de Deus, pois, quando ele retornar, colocará as coisas no lugar (o significado de julgará o mundo com justiça). Assim, há esperança. Haverá justiça e restauração quando Cristo retornar.
Cristo redimindo
Para mim, crer que Jesus é o Deus redentor significa que, quando penso na quantidade de pessoas que vivem sob escravidão e opressão de todos os tipos criadas pela pobreza, fome e injustiça, pela violência, assassinato e estupro, pelas garras do vício ou pela absoluta ignorância da verdade libertadora do Evangelho , aguardo o dia quando todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus. Aguardo o dia quando todos aqueles que se voltarem para ele, necessitados e desesperados, ansiando por sua presença, verão o Redentor como ele realmente é o Senhor, Rei e Salvador das nações.
Você viu a trilogia cinematográfica de "O Senhor dos Anéis"? Eu assisti aos três e me lembro das multidões fazendo fila para assistir a parte 3. De fato, quer tenhamos lido o livro ou não, sabemos como a história termina com o retorno do Rei. Nós lemos o livro de Deus e também sabemos como a história do universo terminará. Com o retorno do Rei e a salvação, não apenas do condado, mas de toda a criação e de toda humanidade redimida de Deus de cada nação do planeta.
Bem, é isso que significa para mim. Mas o que isso significa para as pessoas era o que eu pensava ao preparar meu sermão sobre Isaías 52.7-10 e levar o texto comigo para uma caminhada (como geralmente faço). Estava andando na Tottenham Court Road, perto de minha casa, e pensei: E para todas essas pessoas nas ruas de Londres? O que significa para elas o fato de Jesus ser o Senhor que reina na história, o Rei que retorna para a criação e o Redentor e Salvador do mundo?.
A resposta parecia retumbar nas paredes dos prédios: Absolutamente nada. Nada mesmo. Como pode significar alguma coisa se elas não sabem nada sobre isso, nunca ouviram falar de Jesus, se ninguém nunca disse a elas?
E então meu próximo texto também parecia retumbar nas paredes dos prédios, mas dessa vez por meio das palavras de Paulo, que citou Isaías 52.7 em meio a uma lista parecida de perguntas:
Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Como são belos os pés dos que anunciam boas novas!.
Na verdade, não há nada de belo nos pés. A única coisa que faz de um pé algo belo é o fato de estarem calçados com o Evangelho (Ef 6.15). Então eles se tornam pés que pertencem a pessoas que estão assim dispostas:
Vá, diga à montanha à montanha da arrogância humana, que Jesus Cristo nasceu e está reinando.
Vá, diga à montanha à montanha do desespero humano, que Jesus Cristo nasceu e está retornando.
Vá, diga à montanha à montanha da escravidão humana, que Jesus Cristo nasceu e é o Redentor, o Salvador e o Senhor.
Foi assim que terminei meu sermão.
Por: Christopher J. H. Wright