Vaticano renova acordo secreto com a China para nomear bispos

Os críticos do Papa dizem que o acordo concede demais a Pequim e limita a capacidade do Vaticano de condenar as violações dos direitos humanos no país.

Fonte: Guiame, com informações de Religion News ServiceAtualizado: terça-feira, 25 de outubro de 2022 às 12:58
Papa Francisco e presidente chinês Xi Jinping. (Foto: Montagem/Wikimedia Commons)
Papa Francisco e presidente chinês Xi Jinping. (Foto: Montagem/Wikimedia Commons)

O acordo controverso entre o Vaticano e o governo chinês sobre a nomeação de bispos foi renovado no último sábado (22), segundo autoridades da Igreja.

O acordo, que teve início em 2018 com previsão de renovação a cada dois anos, ainda é considerado “provisório” e seu conteúdo permanece secreto. 

De acordo com o Religion News Service, é possível que o Papa Francisco esteja mantendo segredo sobre o conteúdo do acordo com Xi Jinping por reconhecer a “impopularidade de compartilhar a nomeação de bispos com líderes comunistas”. 

Sob o acordo, Pequim fornece uma pequena lista de candidatos, e o papa tem a palavra final. Os críticos do Papa, porém, dizem que o acordo concede demais a Pequim e limita a capacidade do Vaticano de condenar as violações dos direitos humanos no país.

Vaticano se defende

Do seu lado, o Vaticano argumenta que o acordo melhorou suas relações notoriamente tensas com o Partido Comunista Chinês, que restringe oficialmente cerca de 6 milhões de católicos a “missas regulamentadas pelo governo”. 

Além disso, há um número desconhecido de católicos chineses que participam secretamente de “serviços clandestinos ilegais”, oficiados por padres mais velhos que estão espalhados pela China.

As autoridades do Vaticano ainda esperam reconciliar a igreja oficial e a clandestina, mantendo canais abertos com a liderança chinesa. 

O cardeal Luis Antonio Tagle, que preside o Dicastério para a Evangelização do Vaticano, disse que a falta de diálogo com a China levou a “feridas dolorosas dentro da Igreja, a ponto de lançar uma sombra de suspeita sobre a própria vida sacramental”.

“O coração do acordo certamente tem a ver também com a consolidação de um bom diálogo institucional e cultural, mas diz respeito principalmente a aspectos essenciais para a vida cotidiana da Igreja na China”, disse o cardeal Pietro Parolin, elogiando o acordo.

Parolin, que é o Secretário de Estado do Vaticano, defende que o acordo já levou a resultados positivos de curto prazo e explicou que todos os bispos católicos na China estão agora em plena comunhão com o Papa.

Ele também disse que Pequim não nomeou nenhum novo bispo que não tenha sido sancionado pelo Vaticano: “Os padres na China podem até mencionar Francisco celebrando a missa, o que antes era algo impensável”.

‘A realidade das coisas como elas são’

Durante os quatro anos do acordo, apenas seis bispos foram instalados — um número pequeno considerando o número de pessoas na China e sua vasta geografia. 

Parolin também disse que seis bispos da igreja clandestina já foram reconhecidos pelas autoridades chinesas. “O objetivo final desta jornada é que o ‘pequeno rebanho’ de católicos chineses avance na possibilidade de viver serena e livremente sua vida cristã”, disse Parolin.

Ao falar sobre o principal objetivo do acordo, ele disse que “é nomear bispos dignos e adequados”, mas que também existe a preocupação em “promover a reconciliação dentro da Igreja” que já passou por várias tribulações.

Tagle esclareceu que o Vaticano opta pelo diálogo com a República Popular da China para aumentar a conscientização sobre o sofrimento das comunidades católicas locais, às vezes causado por “pressões e interferências inadequadas”.

“A Santa Sé nunca falou do acordo como a solução de todos os problemas”, disse Tagle, mas acrescentou que “sempre é preciso sujar as mãos com a realidade das coisas como elas são”.

Vale lembrar que a China é classificada como um dos piores países do mundo no que diz respeito à perseguição aos cristãos, de acordo com a Lista Mundial da Perseguição da Portas Abertas.

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