Comemorar os gols em agradecimento a Deus se tornou uma prática cada vez mais frequente nos campos de futebol. Houve manifestação religiosa em 29 das 55 comemorações de gols dos quatro grandes clubes de São Paulo, semifinalistas do Campeonato Paulista, na primeira fase do torneio.
O time que mais se destacou nas expressões de fé foi o Palmeiras, com 10 comemorações religiosas em 13 gols. No Santos, o número foi de 8 em 19 gols feitos, seguido pelo Corinthians, com 4 em 10 gols. O São Paulo vem logo atrás, com 4 agradecimentos religiosos em 13 gols. O levantamento foi feito pela Folha de S. Paulo.
O ex-jogador do Palmeiras e da seleção brasileira, César Sampaio, 51 anos, sempre levava uma Bíblia aos jogos para entregar ao capitão da equipe adversária. Quando fazia gols, costumava comemorar apontando para o céu. Foi assim, por exemplo, que ele celebrou o primeiro gol do Brasil na vitória por 2 a 1 sobre a Escócia, na estreia da seleção na Copa do Mundo de 1998.
“Eu não fiz tantos gols assim”, brincou em entrevista à Folha. “Mas eu não pedia para Deus me ajudar a fazer os gols. Eu agradecia por estar com saúde, pensava nos meus familiares, que estavam orando por mim enquanto eu estava jogando, e por poder fazer o que eu mais gostava, que era jogar futebol”, conta.
César Sampaio destaca que a maioria das manifestação religiosas são genuínas, mas lamenta que alguns atletas façam esse tipo de comemoração para se promoverem. “Hoje tem marketing, redes sociais e outras tantas coisas que envolvem os jogadores. Então é muito fácil que pessoas com interesse comercial, até na religião, se aproximem deles para se promoverem”, disse ele.
Proibições
Em 2010, a Federação Internacional de Futebol Associação (Fifa) determinou a proibição de manifestações religiosas que possam denotar discriminação a outras religiões durante as partidas.
“É algo extremamente delicado e precisa ser analisado caso a caso. Se for algo discreto, apenas como liberdade de expressão do atleta, como manifestação pessoal, sem ofender outra religião, a Fifa não vai punir”, explica Eduardo Carlezzo, advogado especialista em direito esportivo internacional.
“Mas imagine que a partida é na Arábia Saudita, um país muçulmano, e os jogadores comemoram fazendo o sinal da cruz. A Fifa pode entender como uma ofensa e punir”, completa.
Dirigentes e clubes ouvidos pela Folha veem com bons olhos a influência da religião nos seus jogadores. Eles avaliam que os cultos religiosos nas concentrações, por exemplo, podem ajudar a diminuir a indisciplina.
A prática, porém, não agrada a todos. Quando assumiu o Santos, em junho de 2017, o técnico Levir Culpi (hoje no Atlético-MG) chegou a proibir manifestações religiosas na concentração.
Em 2014, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também vetou a presença de um pastor que, até então, tinha trânsito livre na concentração da seleção brasileira na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), nas Copas de 2002, 2006 e 2010.