O memorial montado em homenagem às vítimas do ataque terrorista ao jornal "Charlie Hebdo" (janeiro / 2015), em Paris já foi vandalizado por quatro vezes em apenas duas semanas.
A líder do grupo que criou o memorial diz que todos os integrantes ficaram "enojados e revoltados" ao descobrir que as flores e cartas tinham sido dilaceradas e espalhadas em torno do espaço reservado, na "Place de la République".
O grupo "17 Never Again" ("17 Nunca Mais") criou o memorial em homenagem àqueles que morreram nos ataques terroristas do mês passado na sede da revista satírica Charlie Hebdo e em um supermercado Kosher, bem como a policial morta em Montrouge. As velas, flores e mensagens de paz e unidade já haviam sido alvo de atos de vandalismo por três vezes nas últimas duas semanas, mas as coroas de flores, novas mensagens e desenhos foram rasgados na última quinta-feira 19/02.
"Não foi o vento ou a chuva que fez isso, pois mesmo os objetos e mensagens que foram cobertos foram vandalizados", disse Sabrina Deliry ao The Telegraph.
"Quando isso aconteceu antes, nós reparamos o dano, sem dizer nada, mas isto já é demais".
Centenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas de Paris para prestar homenagem às vítimas dos ataques de militantes islâmicos no mês passado, incluindo dezenas de líderes mundiais e de diversas religioões. Durante a noite, era possível ler em um sinal luminoso no Arco do Triunfo: "Paris est Charlie" ("Paris é Charlie") - seguindo a campanha que chegou a gerar polêmica: "Je Suis Charlie" ("Eu Sou Charlie").
No entanto, os ataques - em resposta às caricaturas do profeta Maomé publicadas pelo Charlie Hebdo também resultaram em manifestações de extremistas em vários países de maioria muçulmana, como Nigéria, Níger, Paquistão. Dezenas de igrejas e casas de missionários foram destruídas. Centenas de pessoas morreram, vítimas dos protestos violentos.
Mais de 10.000 muçulmanos gritavam "Abaixo Charlie Hebdo" e "Morte aos blasfemadores" em um protesto em Lahore, leste do Paquistão, enquanto uma escola cristã, na província de Khyber Pakhtunkhwa foi invadida por centenas de estudantes que protestavam contra a revista.
Bispos foram forçados a suspender missas católicas e atividades seguintes ataques incendiários contra igrejas e as mortes de pelo menos 10 pessoas no Níger. Pastores e missionários também relataram a destruição de suas bases, igrejas e até mesmo orfanatos.
O ataque ao memorial soma-se ao vandalismo sofrido por centenas de túmulos judaicos em um cemitério no leste da França, em meio a preocupações de que os ataques anti-semitas estejam em ascensão.
Contextualização
Os ataques ao jornal satírico Charlie Hebdo, em janeiro chegaram a gerar divergências entre opiniões de pessoas em todo o mundo.
Questões como liberdade de expressão e ofensas a religiões voltaram ganhar grande espaço nas pautas de discussões nas mídias sociais.
Além sátiras que envolviam ícones / representações do islamismo, o jornal também já havia publicado charges que satirizavam o cristianismo e o judaísmo.
Entre mensagens de repúdio ao terrorismo e também às charges que foram consideradas como blasfêmias, internautas continuam expondo opiniões divergentes sobre o assunto.