Há 25 anos, Alice teve sua mão cortada e sua filha morta, dividida ao meio por extremistas hutus, durante o genocídio que devastou Ruanda, na África Oriental. Mesmo com perdas e traumas, ela entendeu o real significado do perdão.
O homem que cortou a mão de Alice é Emmanuel, que é hutu, o povo majoritário de Ruanda. Alice era tutsi, um grupo étnico minoritário.
Em 1994, as tropas hutus apoiadas pelo governo ruandês, chamadas Interahamwe, foram incentivadas pela imprensa extrema a caçar os tutsis, após circular o boato de que a minoria tutsi planejava o genocídio dos hutus.
O ponto alto da tensão entre os grupos ocorreu no dia 6 de abril de 1994, quando um atentado derrubou o avião que transportava o presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana. Imediatamente, a ação foi atribuída aos tutsis.
Os hutus então iniciaram uma carnificina por todo o país, com representantes em cada vizinhança. O governo hutu equipou suas tropas com diversos tipos de armas e granadas, em um massacre que foi planejado com cautela e financiado por programas internacionais de ajuda.
Alice perdeu seu pai, sua mãe e seus irmãos. Quando Emmanuel e seus companheiros a atacaram e assassinaram sua filha, ela achou que também iria morrer. Além de perder a mão, uma lança atravessou seu ombro e um porrete com pregos perfurou o lado esquerdo de seu crânio.
Mais tarde, ela conseguiu achar apoio em um campo de refugiados para as vítimas hutus, onde encontrou seu marido. Lendo as Bíblias que havia no local, Alice se atentou para a mensagem do Evangelho sobre perdão.
“Se eu não perdoar como Deus me perdoou, não posso herdar o reino de Deus”, disse Alice à organização Visão Mundial. Ela conta que Deus a abençoou com mais cinco filhos para curar sua dor.
Alice conheceu a Visão Mundial em 1997, quando recebeu alimentos, cobertores e panelas. Em 2007, a organização também patrocinou dois de seus filhos. “Eles nos ajudaram a aprender a perdoar. Eu ainda me lembro, embora tenha sido há muito tempo. Eles ajudaram nossos espíritos e almas, não apenas nossos corpos, mas o interior”.
Perdão em prática
Em 2003, através da organização Ukuri Kugarize, Alice ficou cara a cara com Emmanuel outra vez. Ele estava preso desde 1997 e foi libertado sob um acordo de serviço comunitário.
Quando Emmanuel viu Alice, ele sentiu o Espírito Santo conduzi-lo a pedir perdão. “Ele veio a mim de uma forma inesquecível”, conta Alice. “Ele ficou de joelhos, suando, nervoso. Ele pediu perdão com sinceridade”.
Emmanuel confessou que cortou sua mão e que seus colegas dividiram sua filha em duas partes. Alice ficou tão chocada que desmaiou. “Naquela semana, nós o perdoamos porque Deus estava conosco. Nossa fé cristã nos ajudou nesse processo”, ela afirma.
Pouco antes de se encontrar com Emmanuel, ela havia pedido a Deus para revelar quem a atacou para perdoar. “Fiquei chocada ao descobrir que era ele”, lembra Alice.
Hoje, Emmanuel e Alice vivem amigavelmente. Ele plantou um limoeiro em sua propriedade para mostrar às gerações futuras que a reconciliação dá frutos.
“Não há hutus ou tutsis aqui. Estamos todos unidos”, destacou Alice. “Acima de tudo, Deus existe. Se você não acredita em Deus ou não conhece a Deus, é difícil pedir perdão. Hoje, eu não deveria estar viva, mas Deus me manteve viva para contar minha história”.