O Bispo de Matagalpa, Dom Rolando Alvarez Lagos, foi condenado a 26 anos e 4 meses de prisão, acusado de ser um "traidor da pátria", pela ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua, na última sexta-feira (10).
A sentença contra o bispo Rolando ocorreu um dia depois que a ditadura deportou 222 líderes políticos para os Estados Unidos. O presidente da Nicarágua declarou que todos os indivíduos não são mais nicaraguenses e perderam sua cidadania.
Na sentença lida pelo juiz Héctor Ernesto Ochoa Andino, presidente da Câmara Criminal 1 do Tribunal de Apelações de Manágua, consta:
"Declarar culpado Rolando José Álvarez Lagos da autoria dos crimes de atentado à integridade nacional, propagação de notícias falsas por meio de informática, obstrução de funções, desobediência agravada ou desacato à autoridade, todos praticados em situação de verdadeira falência e em detrimento da sociedade e o Estado da República da Nicarágua”.
O tribunal também declarou a perda dos direitos de cidadão do condenado e perda da nacionalidade nicaraguense. E estipulou uma multa em 800 dias equivalente a 1.550 dólares.
De acordo com a sentença, o bispo Rolando Alvarez deve permanecer preso até 13 de abril de 2049.
Listagem dos detidos
Segundo uma lista oficial emitida pelo governo, faziam parte do grupo os padres Ramiro Tijerino, padre Sadiel Eugarrios, padre Raúl González, padre José Luis Diaz, os seminaristas Darvin Leiva e Melkin Sequeira, e o cinegrafista Sergio Cárdenas, detidos em agosto de 2022 depois que militares da Nicarágua invadiram a diocese de Matagalpa, onde os sete homens foram confinados à força junto com o bispo Ronaldo e outros quatro por 15 dias.
Outros dois padres, Oscar Danilo Benavidez Dávila e padre Enrique Martínez Gamboa, foram listados entre os presos deportados, acusados de formação de quadrilha, atentado à integridade nacional e propagar notícias falsas, respectivamente.
O pastor protestante Wilber Alberto Pérez também fazia parte do grupo enviado aos EUA. Foi condenado a 12 anos de prisão e mantido em uma cela sem luz, acusado injustamente de vender drogas ilegais.
O bispo Rolando Alvarez esteve em prisão domiciliar. (Foto: Diócesis de Matagalpa)
Outros dois padres, Manuel Salvador García e Leonardo Urbina Rodríguez, não aparecem na lista divulgada pelo governo, mas permanecem presos na Nicarágua, segundo a CSW, organização de direitos humanos especializada em liberdade de religião.
Anna Lee Stangl, chefe de advocacia da CSW, declarou:
“Estamos felizes com a boa notícia da libertação de 222 homens e mulheres que nunca deveriam ter sido presos. A CSW aprecia o trabalho dos EUA para abrir um canal legal e seguro para que todos possam deixar a Nicarágua, no entanto, observamos que a escolha supostamente oferecida a esses indivíduos pelo governo do país de permanecer na prisão em condições desumanas ou ir para o exílio forçado é algo que ninguém deveria ser obrigado a fazer. Além disso, a declaração do presidente Ortega de que aqueles que voaram para os EUA esta semana perderam a cidadania, viola o direito internacional“.
Exemplo de fé do bispo
Segundo a Aci Prensa, apesar das fortes pressões do governo, o bispo Álvarez recusou-se a embarcar no avião com os deportados, entre eles quatro sacerdotes, e decidiu ficar para acompanhar os católicos que sofrem a repressão da ditadura na Nicarágua.
Chris Smith, chefe do Subcomitê de saúde global, direitos humanos globais e organizações internacionais da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, disse em um comunicado que "temos continuar trabalhando para combater o brutal regime de Ortega e libertar os prisioneiros restantes”.
Smith usou o exemplo do bispo Rolando Alvarez, que se recusou a deixar seu rebanho:
“Ele é verdadeiramente uma figura semelhante a Cristo, com um coração de servo, e continuamos a pedir ao Papa Francisco que fale inequivocamente para que ele peça sua libertação”, disse Smith.