O transexual que desfilou “crucificado” na Parada do Orgulho LGBT em 2015, voltou a fazer protestos utilizando objetos religiosos na edição do último domingo (28), em São Paulo.
O modelo, nominado como Viviany Beleboni, subiu em um dos 17 trios elétricos do desfile com uma Bíblia tapando seu rosto, trazendo as palavras "bancada evangélica" e "retrocesso" na capa.
"Isso aqui [Bíblia] tampa a visão do povo, é o retrocesso político. Eles tiram o dinheiro do povo até não quererem mais, conseguem entrar na política e tiram os direitos das mulheres, dos mais pobres e dos LGBTs", afirmou Viviany ao jornal Diário de S. Paulo.
Durante sua performance, o transexual abria e fechava a Bíblia diante de seu rosto, mostrando notas de dólares na parte de trás. Uma balança representando a Justiça também fazia parte do adereço. O trio elétrico em que ele desfilava trazia uma faixa "Fora Temer” bem à frente.
Questionado pelo G1 se ele poderia ser acusado de vilipendiar objeto de culto religioso, Viviany afirmou que não usou uma Bíblia de verdade.
“A cruz foi feita em uma marcenaria, eu usei algo para simbolizar a cruz. Eu vou usar uma bíblia que é um fichário, não é abençoado. É tudo material artístico, é representativo. Não tem nada de escárnio”, disse o transexual.
Escárnio religioso
Um dia depois da Parada Gay 2015, o senador Magno Malta entrou com uma representação criminal na Procuradoria Geral da República contra os organizadores do evento pelo uso indevido de ícones religiosos, como crucificações e distorções da imagem de Jesus Cristo.
O parlamentar fez a representação em nome da Frente Parlamentar Mista da Família, acusando os organizadores de terem cometido os crimes de vilipedio, intolerância religiosa e escárnio.
Malta também solicitou que o Ministro dos Direitos Humanos e ao Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa tomassem providências com relação ao ocorrido. Além da representação criminal feita na Procuradoria, o senador também enviou um Ofício à Petrobras e outro à Caixa Econômica Federal, questionando o valor gasto no patrocínio ao evento.
"Dois anos atrás eles [movimento LGBT] foram à avenida e levaram símbolos religiosos, da Igreja Católica e o usaram em posição sexual, em pleno desrespeito a um povo, os católicos deste país. Mas no final de semana passado, eles passaram dos limites", Malta protestou em discurso feito no Senado.
Indenizações rejeitadas
Após gerar polêmica com a performance de sua própria crucificação, Viviany entrou com uma ação na justiça com sete processos por danos morais, que totalizam R$ 800 mil em indenizações.
Entre os alvos de seus processos estavam Magno Malta e o deputado federal pastor Marco Feliciano por 'danos morais'. Além dos parlamentares, Beleboni também tentou mover ação contra o próprio Facebook, para obrigar a mídia social a identificar os usuários que publicaram fotos dela em montagens junto a imagens de sexo explícito.
Em março deste ano, o pedido de indenização foi negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). A juíza Letícia Antunes Tavares, da 14ª Vara Cível Central da Capital considerou que a encenação foi "amparada pela garantia constitucional da liberdade de expressão", mas também acredita que Viviany tem que "arcar com o ônus e a popularidade" que o ato acabou gerando.
"Não se encontram presentes os requisitos para configuração da responsabilidade civil, pois o exercício do direito de crítica por parte do requerido é lícito e não há provas de que este tenha violado a honra ou imagem da autora, nem de que a ameaçou", declarou a juíza.