Alemanha é tetra no Maracanã derrotando a Argentina.

“Um exemplo de como se planejar dentro e fora de campo. Talvez não tenha um supercraque, mas tem uma média de muitos bons jogadores. É um goleiro que não se limita a ficar só embaixo das três traves, com muita visão de jogo. Está de parabéns a Alemanha.”

Fonte: uol.com.brAtualizado: segunda-feira, 14 de julho de 2014 às 00:10

A Alemanha é tetracampeã. De vilã da semifinal para heroína dos brasileiros na decisão. O time de Joachim Löw bateu a Argentina no Maracanã por 1 a 0, na prorrogação, e levantou seu quarto título na história: e o tetra deixa muitos no Brasil felizes. Menos do que os milhões de alemães, é claro, mas o coração do torcedor brasileiro sempre lembrará da segunda Copa que o país sediou também pela alegria da seleção alemã – que chegou dançando com índios, passou o tempo com as brincadeiras de Podolski sobre o Brasil, e deixa o país com a taça do mundo. Quem disse que preparação boa é aquela em que o time fica fechado, sem contato com o mundo? Os encontros alemães com o povo brasileiro, tirando um pequeno detalhe formado por sete gols em uma semifinal de Copa, provam o contrário. 

Götze se tornou o herói do país que conquistou o Brasil. A torcida e a Copa. O sonho completo. A campeã do mundo mostrou uma variação de jogo inacreditável para apenas sete jogos de Copa. Começou com a velocidade contra Portugal e uma goleada marcante. Mostrou que podia ser parada por Gana. Soube jogar no abafa contra os EUA. Contou com a sorte e com a grandiosidade de Neuer contra a Argélia. Foi metódica contra a França. Humilhou o Brasil. E foi sádica contra a Argentina. Quando foi apertada, achou um gol em uma retranca na prorrogação. Dramática. Mas com merecimento. É tetra.

Fases do jogo: Na semifinal, Bernard foi escalado no Brasil para jogar na ponta direita para jogar na velocidade contra a lentidão de Höwedes, que atua pela esquerda do setor defensivo alemão. A Argentina apostou nisso no começo da final no Maracanã. Com mais qualidade do que o Brasil, que acabaria goleado por 7 a 1. Zabaleta e os atacantes argentinos começaram o jogo aproveitando esses espaços, e esse era o escape argentino contra a pressão alemã. Apesar da maior posse do time europeu no início, foi exatamente por aquele espaço "vazio" que Lavezzi surgiu livre para cruzar para Higuaín, que marcou aos 29 minutos - o lance foi anulado corretamente por impedimento.

Na defesa, a Argentina formava uma linha de cinco defensores, com Mascherano recuado, para tentar evitar que o toque de bola alemão resultasse em passe profundo para alguém livre na área. Na única oportunidade que a formação abriu espaço, Romero fez bela defesa em chute de primeira de Schürrle. Além dessas chances, outras duas boas na primeira etapa: para a Alemanha, Höwedes acertou a trave após escanteio; do outro lado, Higuaín recebeu livre, após cabeçada para trás de Kroos, mas bateu torto cara a cara com Neuer - no 2°tempo da prorrogação, Palacio perdeu a outra grande chance argentina: livre na área, a matada no peito desenhou o gol do título. Porém, em vez de bater, o atacante produziu um misto de tentativa de chapéu com chute. A bola foi fraca para fora.

Na segunda etapa, Messi. Após duas boas arrancadas no primeiro tempo, na volta do intervalo o craque argentino logo de cara perdeu ótima chance, nas costas de Boateng, batendo cruzado rente à trave de Neuer. Ele sabia que teria que chamar a responsabilidade no ataque para dar o tão sonhado título mundial a seu país. Chegou a colocar a mão na coxa, ficar quieto por alguns minutos. Até puxar a bola com a perna esquerda e bater, para assustar Neuer, aos 28 minutos. Porém, nenhum outro lance de perigo foi criado. Pela terceira final seguida, 90 minutos não bastaram para definir o novo campeão mundial.

Na prorrogação, a Alemanha tentou repetir a tática imposta contra a Argélia: gol logo de cara, e de novo com Schürrle. Mas, dessa vez, Romero evitou. A solução, então, foi repetir o que a Argentina tentou antes: lançamento para a área para um atacante livre. Götze, que nem Palacio, matou no peito. Götze, diferentemente de Palacio, bateu forte, baixo. A bola passou por Romero. Lembrou o gol de Iniesta, no segundo tempo da prorrogação da final de 2010. Assim cono há quatro anos, um chute cruzado decidiu a Copa do Mundo no final do tempo extra. Götze entra para a história saindo do banco.

O melhor: Götze - O alemão fez fraca Copa. Chegou a ser titular na primeira fase, mas perdeu a vaga. Joachim Low testou Klose, testou Schürrle. Mas Götze sempre recebia uma chance, nem que fosse de alguns minutos, E foi na última dessas pequenas chances que o meia explicou por qual motivo continuou recebendo-as. Matou no peito, fuzilou Romero. Em um jogo sem grandes destaques individuais, o protagonista do lance decisivo é quem será lembrado. Götze é o nome.

O pior: Biglia - Messi, Lavezzi (no 1° tempo) e até Higuaín tinham que voltar ao meio de campo para fazer com que a bola chegasse ao ataque, já que o meio de campo da equipe foi nulo. Biglia foi um dos culpados. Com fraca marcação, também não soube como ajudar na parte ofensiva. Mascherano, que por diversas vezes na Copa cobriu esse buraco ofensivo argentino, ficou mais preso na marcação devido a escalação de três meias e dois atacantes na Alemanha, evidenciando ainda mais a falta de qualidade na partida de Biglia. 

Chave do jogo: A Argentina não precisou marcar no campo de ataque para dar trabalho à Alemanha - lição já mostrada na Copa por Gana e Argélia, seleções que empataram com os alemães em 90 minutos (Argélia caiu na prorrogação). Recuar o time e apostar em contra-ataques rápidos foi a melhor tática para diminuir a qualidade do toque de bola do time europeu - no 1° tempo, a Alemanha produziu 22 ataques, contra só seis argentinos; mesmo assim, as chances perigosas foram duas para cada lado, mostrando a igualdade no jogo causada pela marcação da seleção sul-americana.

A individualidade, então, foi quem resolveu. Schürrle saiu de dois marcadores argentinos aos sete minutos da etapa final do tempo extra. Götze entrou pelo meio da área aproveitando esse espaço. Schürrle enxergou. Bola perfeita, gol do título mundial. Do tetracampeonato mundial alemão.

Toque dos técnicos: Alejandro Sabella escalou seu time da maneira que ele sabe jogar: fechando espaços para roubar a bola e apostar na velocidade do trio de ataque formado por Messi, Lavezzi e Higuaín. Isso foi ajudado por duas lesões: a de Khedira, no aquecimento, que forçou a escalação de Kramer; e a do próprio Kramer, que saiu ainda na primeira etapa após pancada na cabeça e foi trocado por Schürrle, mais ofensivo. Isso fez com que Joachim Löw tivesse que atuar com Kroos mais recuado - ou seja, menos um marcador para Messi e cia.

A solução encontrada por Löw para combater o técnico rival foi típica: seus reservas entraram para mudar o jogo. Schürrle e Götze, meias, ostraram que é possível jogar sem centroavante. Götze apareceu no meio e matou a final da Copa.

Para lembrar:

A Alemanha é o terceiro time a conquistar quatro títulos mundiais. Curiosamente, a 4ªtaça chega 24 anos depois da terceira (1990 – 2014), assim como ocorreu com Brasil (1970 – 1994) e Itália (1982 – 2006).

Kramer foi titular pela Alemanha na final do Mundial após atuar por apenas 12 minutos em toda a Copa. Ele entrou aos 4 min. do 2°t da prorrogação no duelo das oitavas contra a Argélia, e nos acréscimos do 2° tempo do jogo das quartas contra a França. Na decisão, acabou jogando pouco também: se contundiu após dividida pelo alto e, aos 31 minutos de jogo, foi substituído por Schürrle.

Além dessa concussão de Kramer, outra ocorreu na partida: Higuaín foi atingido na cabeça pelo joelho de Neuer, após lançamento longo - o árbitro italiano Rizzoli marcou falta de ataque. Mas a situação fez com que diversos comentários surgissem sobre afalta de atitude da Fifa após lances de pancada envolvendo a cabeça dos jogadores - há quem cobre tratamento melhor em campo e até substituição imediata, para evitar lesões mais graves em área tão perigosa do corpo.

A final teve duelo de torcidas, mas sem os alemães inclusos. Brasileiros e argentinos revezavam nos gritos mais altos. Do lado amarelo, o cântico "mil gols, só Pelé" era o mais ouvido; no argentino, o nervosismo deixava os rivais sul-americanos na vantagem, já que apenas em lances de perigo a torcida celeste e branca aumentava a voz.

Schweinsteiger recebeu um "soco" de Agüero no segundo tempo da prorrogação e teve que deixar o campo com sangramento no rosto - em poucos minutos, foram três pancadas recebidas pelo alemão, incluindo um carrinho "duplo" de Mascherano e Biglia. O lance ocorreu em dividida pelo alto. Agüero não recebeu cartão - nem falta foi marcada.

ALEMANHA 1 X 0 ARGENTINA

Data: 13 de julho de 2014
Horário: 16h00 (de Brasília)
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Assistentes: Renato Faverani (ITA) e Andrea Stefani (ITA)
Cartões amarelos: Schweinsteiger, aos 28 min., Höwedes, aos 32 min. do 1°t (ALE); Mascherano, aos 18 min., Agüero, aos 20 min. do 2°t (ARG)
Gols: Götze, aos 7 min. do 2°t da prorrogação

Alemanha: Neuer; Lahm, Boateng, Hümmels e Höwedes; Kramer (Schürrle, aos 31 min. do 1°t), Schweinsteiger, Özil e Kroos; Klose (Götze, aos 42 min. do 2°t) e Müller
Técnico: Joachim Löw

Argentina: Romero; Zabaleta, Demichelis, Garay e Rojo; Mascherano, Biglia e Perez (gago, aos 40 min. do 2°t); Messi, Higuaín (Palacio, aos 31 min. do 2°t) e Lavezzi (Agüero, no intervalo)
Técnico: Alejandro Sabella

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