O governo dos Estados Unidos respaldou nesta segunda-feira a oferta do Brasil de dar asilo a Sakineh Mohammadi Ashtiani, iraniana condenada a ser apedrejada até a morte por adultério.
No último sábado (31), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil está disposto a conceder asilo a Sakineh e que tentará convencer seu colega do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para que a liberte.
Para o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley, o apedrejamento "é um ato de barbárie e deve ser proibido".
Perguntado sobre se o papel de mediador em casos humanitários é mais adequado para o Brasil do que o de mediador na questão do programa nuclear iraniano, Crowley disse que se trata de dois casos diferentes.
"Este é um caso que atraiu a atenção da comunidade internacional. Após o Brasil ter se envolvido e manifestado sua vontade de tentar resolvê-lo, cabe esperar que o Irã escute", concluiu.
Sakineh, de 43 anos e mãe de dois filhos, foi condenada inicialmente a receber 99 chicotadas. Depois de receber essa punição, sua pena foi transformada em morte por apedrejamento.
A iraniana foi declarada culpada de ter tido "relações ilícitas" com dois homens em 2006 e está presa desde então. Várias campanhas internacionais defendem sua libertação e a anulação da condenação de apedrejamento.
FAMÍLIA
Depois das declarações de Lula, o filho de Sakineh Ashtiani, diz acreditar que a influência de Brasil e Turquia pode ajudar a salvar a vida de sua mãe.
"Não acho que o Irã pode ignorar o Brasil tão facilmente como ignorou os outros países", disse Sajad, filho de Ashtiani, ao jornal britânico "The Guardian" nesta segunda-feira. "É muito importante que o Brasil, como um dos mais importantes aliados do Irã no mundo, tenha oferecido um abrigo à minha mãe."
Uma fonte próxima à família disse ao jornal que o advogado da iraniana, Houtan Kian, foi convocado para um encontro com a suprema corte de Teerã nesta quarta-feira e que o caso poderia ser resolvido no mesmo dia.
O filho de Ashtiani disse também esperar que o governo da Turquia se junte à "campanha". "Nenhum país do mundo pode ter um impacto como o Brasil e a Turquia têm sobre o Irã atualmente. Esses dois países podem salvar a vida da minha mãe", disse ele ao jornal.
CAMPANHA
Um abaixo-assinado aberto há cerca de um mês na internet deu impulso mundial à campanha pela libertação da iraniana.
O documento conta com mais de 114 mil assinaturas, a maioria sem valor real, como pessoas identificadas apenas pelo primeiro nome, manifestações políticas como "E agora Lula?" e piadas como "Pica Pau".
A lista, contudo, tem também assinaturas verídicas de célebres brasileiros --Fernando Henrique Cardoso, Chico Buarque e Caetano Veloso.
Farshad Hoseini, diretor do Comitê Internacional contra Lapidação e autor do documento, explica que a ideia é que a pressão internacional chegue ao governo iraniano.