Soldados do Exército expulsaram à força da praça Tahir, no Cairo, os últimos manifestantes ainda presentes no local, um dia depois que o Conselho Militar egípcio dissolveu o Parlamento e suspendeu a Constituição do país.
Umas poucas centenas de ativistas continuavam na praça - que concentrou os protestos contra o governo - depois das medidas anunciadas pela junta militar, que assumiu o poder depois da renúncia do presidente Hosni Mubarak.
A polícia militar pediu que os manifestantes saíssem do local, sob risco de prisão.
Segundo o correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne, houve troca de empurrões entre soldados e manifestantes nesta segunda-feira. Algumas pessoas foram detidas. Os cobertores usados pelos ativistas acampados foram recolhidos e levados por soldados.
Leyne afirma que o próximo desafio para os militares que comandam o Egito será lidar com possíveis ondas de greves que ameaçam eclodir em vários setores.
Com o fim de várias restrições, funcionários como bancários, policiais e do setor de transportes estão dando sinais de que pretendem dar vazão à sua insatisfação.
No domingo, diversos policiais protestaram e entraram em greve, reclamando que foram forçados a participar da repressão aos protestos. Os agentes que participaram da manifestação entraram em confronto com o Exército, em frente ao Ministério do Interior.
Vários trabalhadores estariam dispostos a protestar pela derrubada de seus chefes, a quem responsabilizam pelas grandes desigualdades de renda dentro das empresas.
O correspondente da BBC diz que há a possibilidade de que o Exército venha a proibir as greves, sob a alegação de que isto possa causar mais instabilidade e confrontos.
Seis meses
Em um comunicado transmitido pela TV nesse domingo, o Comando Militar que assumiu o poder no país anunciou que ficará no poder por seis meses ou até a realização de eleições.
O anúncio foi celebrado por muitos manifestantes que permaneciam acampados na praça Tahrir e que viram nisso um rompimento claro com o antigo regime.
No pronunciamento, o Comando Militar declarou ainda que irá formar um comitê para elaborar uma nova Constituição, que será depois submetida a um referendo popular.
O presidente Hosni Mubarak, que estava no poder desde 1981, renunciou na sexta-feira após 18 dias de protestos populares.
Transição
A Constituição egípcia, suspensa no domingo, proibia muitos grupos e partidos de participar em eleições, deixando o Egito na prática com um Parlamento dominado pelos apoiadores do Partido Nacional Democrata (PND), de Mubarak.
Durante a transição, o gabinete de ministros indicado por Mubarak no mês passado, após o início dos protestos, seguirá governando, mas terá que submeter as decisões ao conselho militar para aprovação.
O opositor Ayman Nour, que concorreu contra Mubarak nas eleições presidenciais de 2005, descreveu as medidas anunciadas pelos militares como "uma vitória da revolução".
O primeiro-ministro Ahmed Shafiq disse que sua principal prioridade é restaurar a segurança no país.