O governo do Peru decretou estado de emergência e a militarização de três províncias do Estado de Cajamarca, no norte do país, depois de violentos protestos contra um projeto de mineração de ouro terem deixado três mortos e ao menos 21 feridos na terça-feira. Essa é a segunda vez em cinco semanas que o governo declara estado de emergência depois de manifestações contrárias à atividade mineradora deixarem vítimas.
O ministro da Justiça do Peru, Juan Jimenez, anunciou o estado de emergência, com suspensão de liberdades civis, depois de ao menos 1 mil manifestantes terem atacado com pedras a sede da prefeitura, a delegacia e a procuradoria de Celendín, entrando em confronto com a polícia e soldados.
A polícia que fazia a guarda local reagiu com gás lacrimogêneo e cacetetes e posteriormente recebeu soldados como reforço. Jimenez disse que dois policiais e um soldado foram feridos por disparos. Autoridades não disseram se a polícia ou os soldados usaram suas armas.
"O estado de emergência passa a vigorar nas províncias de Celendín, Hualgayoc e Cajamarca\", disse o ministro, que pediu calma à população depois de confrontos. A medida restringe o direito de reunião, a inviolabilidade da residência e a livre circulação de pessoas, lembrou o ministro da Justiça. O estado de emergência, uma medida prevista pela lei peruana, autoriza ainda as forças armadas a apoiar a polícia na vigilância e controle da ordem pública.
Três civis homens foram mortos nos choques, ao menos dois por disparos na cabeça, disse o diretor de saúde de Cajamarca, Reynaldo Nunez, que não soube dizer se há policiais ou soldados entre os feridos. De acordo com o promotor local, 15 pessoas foram presas. \"É uma situação que saiu do controle daqueles que lideram os protestos (na região) de Cajamarca\", disse Jimenez ao criticar a violência desencadeada pelos manifestantes.
Celendín é um reduto da oposição contrária à mina de ouro de Conga, avaliada em US$ 4,8 bilhões, que muitos temem que poluirá suas fontes de água. O proprietário majoritário da mina é a Newmont Mining Co., companhia dos EUA com base no Estado do Colorado.
A região é uma das mais recentes a ficar sob estado de emergência no Peru. A outra é a Província de Espinar, perto da ex-capital inca de Cusco. O governo declarou um estado de emergência de 30 dias no local em 29 de maio depois que duas pessoas foram mortas em um protesto contra uma mina de cobre suíça.
Em Cajamarca, os manifestantes apoiados pelo presidente regional, Gregorio Santos, rejeitaram aceitar um acordo sobre Conga proposto pelo presidente do Peru, Ollanta Humala, que ele diz que protegerá as fontes de água. O acordo inclui a construção de quatro reservatórios para substituir os que serão destruídos pelo projeto, o compromisso da empresa de evitar o esvaziamento de duas lagoas e a criação de um fundo social.
Com apoio de Santos, várias organizações sociais se declararam em greve por tempo indeterminado há 34 dias para erradicar a mineração da região, rica em ouro e cobre. A violência começou poucos dias depois de Yanacocha, a companhia encarregada de Conga, ter começado a trabalhar nos novos reservatórios.
Os manifestantes antimineração acusam Humala, que foi eleito há um ano, de trair da promessa de campanha que ele fez a Cajamarca de que o acesso à água limpa viria antes da mineração.
Humala modificou sua mensagem depois da posse e saiu da esquerda para o centro político afirmando que a mineração responsável pode coexistir com a proteção ambiental e oferece uma renda importante para ajudar a tirar da pobreza vários peruanos que vivem no meio rural.
A mineração corresponde a mais de 60% da renda de exportação do Peru e tem sido o motor de um crescimento econômico de uma década.
*Com AP, EFE e AFP
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